Alonso e Flavio Briatore, chefão da Renault: acordo firmado (foto: Motorsport)
Por Otto Jenkel
Acabou. Depois de tantas especulações, Fernando Alonso acabou tomando a decisão mais provável e a menos arriscada: voltar à Renault, equipe em que foi bicampeão mundial em 2005/2006. O veredicto do espanhol acabou decepcionando algumas pessoas que esperavam uma decisão mais ousada. Pode ser. Mas não resta dúvida que, colocadas as opções na mesa, o retorno à equipe francesa seria a mais viável. Algumas dessas, aliás, beiravam o absurdo.
Duas foram muito cogitadas: ter um ano sabático, ou seja, retirar-se por um ano, e voltar numa equipe mais forte, leia-se Ferrari, em 2009. Em primeiro lugar, se ausentar durante um certo período é sempre um risco. O piloto perde o contato com as inovações técnicas e, além disso, tem uma perda de habilidade motora e física, que só a disputa de corridas regulares pode suprir. Muitos falam que Alain Prost - que se retirou em 1992 para retornar à F1 pela Williams no ano seguinte e ser o campeão - seria um bom exemplo. Nada mais falso.
Duas foram muito cogitadas: ter um ano sabático, ou seja, retirar-se por um ano, e voltar numa equipe mais forte, leia-se Ferrari, em 2009. Em primeiro lugar, se ausentar durante um certo período é sempre um risco. O piloto perde o contato com as inovações técnicas e, além disso, tem uma perda de habilidade motora e física, que só a disputa de corridas regulares pode suprir. Muitos falam que Alain Prost - que se retirou em 1992 para retornar à F1 pela Williams no ano seguinte e ser o campeão - seria um bom exemplo. Nada mais falso.
A equipe inglesa era muito superior às demais na época, mas ficou evidente que, mesmo sendo campeão, o francês já não era o mesmo piloto. Tanto que, embora ele tenha se retirado definitivamente no final de 1993, com o título e sete vitórias, todas as glórias ficaram para Ayrton Senna, que conseguiu inacreditáveis cinco vitórias com um McLaren nitidamente inferior, no que é considerado o maior vice-campeonato da história.
Tão absurda como essa hipótese foi a que surgiu na última semana, quando colocaram Alonso de volta à McLaren. O motivo: os dois principais patrocinadores da equipe de Wöking - Vodafone e Santander - serem espanhóis e não terem engolido o seu compatriota ser alijado da equipe. É provável que eles não tenham gostado. Certo até. Mas depois de tudo que aconteceu esse ano, não haveria a menor hipótese de uma reconciliação entre Alonso e a cúpula da McLaren, qualquer que fosse o patrocinador.
As outras possibilidades para o espanhol envolviam uma boa dose de risco. Desembarcar na Red Bull, Honda, Toyota ou BMW. Não se sabe até que ponto houve interesse de uma dessas equipes em ter os serviços do espanhol em 2008, talvez nunca se saiba. Mas é certo que houve um affair entre alguma(s) e Alonso. Não é todo ano que um piloto do quilate do espanhol fica dando sopa no fim de uma temporada. No fim de 1983, Alain Prost foi despedido da Renault, e Ron Dennis não pensou duas vezes em mandar embora John Watson e colocar o francês em seu lugar para fazer companhia a Niki Lauda, no que seria uma das maiores duplas da história da F1. Começava então uma Era de ouro para a equipe inglesa.
Mas os tempos são outros. Das opções, fora Renault, todas seriam mais ou menos arriscadas. Talvez a mais interessante fosse a da BMW, que surgiu como a terceira força da temporada de 2007. No entanto, existe uma política nacionalista dentro da equipe que favorece os pilotos alemães (como Heidfeld e Vettel) ou com histórico no automobilismo germânico (que é o caso de Kubica). Talvez nunca tenha existido sequer uma proposta para o espanhol vindo dos alemães. Seria a melhor proposta, se ela tivesse acontecido.
As outras hipóteses envolviam um processo de recuperação de equipes que perderam o bonde da história, como Toyota e Honda, e outra que ainda precisa se firmar como uma equipe de fato da F1, como é o caso da Red Bull, que parece ainda se preocupar mais em festas e eventos do que em resultados em pista. O risco para o espanhol seria altíssimo se a decisão caísse em qualquer dessas equipes. A Renault seria a decisão natural, como acabou sendo.
A pergunta que fica agora é: será que Alonso é candidato ao título em 2008? Numa primeira análise, não. A equipe francesa não ganhou sequer uma corrida este ano, e pior do que isso, ficou em um patamar muitíssimo inferior tanto à Ferrari quanto à Mclaren. Mas voltemos a 2005. Alguém poderia imaginar no início daquela temporada que a Renault seria a campeã? Ela venceu uma única corrida em 2004, no sempre imprevisível GP de Mônaco, quando Jarno Trulli fez a corrida de sua vida. No resto, foi engolida pela Ferrari, que ganhou 15 dos 18 GPs da temporada. Em poucos meses de intervalo de um ano para o outro, tudo mudou. Nem sempre a história se repete, e a tarefa do espanhol não será nada fácil. Mas seria prematuro descartá-lo como um aspirante ao título.
* * *
O sobrenome Piquet volta à F1 depois de 17 anos de ausência. Nélson Ângelo Piquet foi confirmado como piloto da Renault para a temporada de 2008 desbancando Giancarlo Fisichella e Heikki Kovalainen, os outros postulantes à vaga. Nelsinho se tornou o primeiro piloto brasileiro a correr na equipe francesa na história da F1, e o terceiro que representará o país no Mundial que se inicia em março, com o GP da Austrália.
Mal a notícia foi divulgada, a mídia brasileira já bombardeou o público com duas afirmações completamente distintas. A primeira é a de que Nelsinho não terá a menor chance na Renault tendo Alonso como companheiro de equipe. E a outra diz o contrário, que ele pode se tornar uma nova pedra no sapato do espanhol como foi Lewis Hamilton na McLaren. Qual será o peso dessas duas afirmações? Esse será o tema da próxima coluna.
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Tão absurda como essa hipótese foi a que surgiu na última semana, quando colocaram Alonso de volta à McLaren. O motivo: os dois principais patrocinadores da equipe de Wöking - Vodafone e Santander - serem espanhóis e não terem engolido o seu compatriota ser alijado da equipe. É provável que eles não tenham gostado. Certo até. Mas depois de tudo que aconteceu esse ano, não haveria a menor hipótese de uma reconciliação entre Alonso e a cúpula da McLaren, qualquer que fosse o patrocinador.
As outras possibilidades para o espanhol envolviam uma boa dose de risco. Desembarcar na Red Bull, Honda, Toyota ou BMW. Não se sabe até que ponto houve interesse de uma dessas equipes em ter os serviços do espanhol em 2008, talvez nunca se saiba. Mas é certo que houve um affair entre alguma(s) e Alonso. Não é todo ano que um piloto do quilate do espanhol fica dando sopa no fim de uma temporada. No fim de 1983, Alain Prost foi despedido da Renault, e Ron Dennis não pensou duas vezes em mandar embora John Watson e colocar o francês em seu lugar para fazer companhia a Niki Lauda, no que seria uma das maiores duplas da história da F1. Começava então uma Era de ouro para a equipe inglesa.
Mas os tempos são outros. Das opções, fora Renault, todas seriam mais ou menos arriscadas. Talvez a mais interessante fosse a da BMW, que surgiu como a terceira força da temporada de 2007. No entanto, existe uma política nacionalista dentro da equipe que favorece os pilotos alemães (como Heidfeld e Vettel) ou com histórico no automobilismo germânico (que é o caso de Kubica). Talvez nunca tenha existido sequer uma proposta para o espanhol vindo dos alemães. Seria a melhor proposta, se ela tivesse acontecido.
As outras hipóteses envolviam um processo de recuperação de equipes que perderam o bonde da história, como Toyota e Honda, e outra que ainda precisa se firmar como uma equipe de fato da F1, como é o caso da Red Bull, que parece ainda se preocupar mais em festas e eventos do que em resultados em pista. O risco para o espanhol seria altíssimo se a decisão caísse em qualquer dessas equipes. A Renault seria a decisão natural, como acabou sendo.
A pergunta que fica agora é: será que Alonso é candidato ao título em 2008? Numa primeira análise, não. A equipe francesa não ganhou sequer uma corrida este ano, e pior do que isso, ficou em um patamar muitíssimo inferior tanto à Ferrari quanto à Mclaren. Mas voltemos a 2005. Alguém poderia imaginar no início daquela temporada que a Renault seria a campeã? Ela venceu uma única corrida em 2004, no sempre imprevisível GP de Mônaco, quando Jarno Trulli fez a corrida de sua vida. No resto, foi engolida pela Ferrari, que ganhou 15 dos 18 GPs da temporada. Em poucos meses de intervalo de um ano para o outro, tudo mudou. Nem sempre a história se repete, e a tarefa do espanhol não será nada fácil. Mas seria prematuro descartá-lo como um aspirante ao título.
O sobrenome Piquet volta à F1 depois de 17 anos de ausência. Nélson Ângelo Piquet foi confirmado como piloto da Renault para a temporada de 2008 desbancando Giancarlo Fisichella e Heikki Kovalainen, os outros postulantes à vaga. Nelsinho se tornou o primeiro piloto brasileiro a correr na equipe francesa na história da F1, e o terceiro que representará o país no Mundial que se inicia em março, com o GP da Austrália.
Mal a notícia foi divulgada, a mídia brasileira já bombardeou o público com duas afirmações completamente distintas. A primeira é a de que Nelsinho não terá a menor chance na Renault tendo Alonso como companheiro de equipe. E a outra diz o contrário, que ele pode se tornar uma nova pedra no sapato do espanhol como foi Lewis Hamilton na McLaren. Qual será o peso dessas duas afirmações? Esse será o tema da próxima coluna.
Depois de um ano terrível em que a melhor colocação foi um segundo lugar conseguido, por acaso, no conturbado GP do Canadá, com Kovalainen, a Renault teve essa semana o seu melhor momento de toda a temporada. Flávio Briatore ao anunciar a volta de Fernando Alonso à equipe francesa e a contratação de Nelsinho Piquet como companheiro do espanhol, voltou aos holofotes, um lugar que ele sempre gostou de estar. Em uma só cartada, ele juntou a experiência de um bicampeão do mundo com a juventude de uma futura promessa. Uma tacada de mestre. A Renault de mera coadjuvante em 2007, passa a ter uma das duplas mais interessantes para a próxima temporada. Os gauleses estão de volta.
Otto Jenkel trabalhou no FOCA TV, cobrindo o GP do Brasil, quando a prova era disputada no Rio. Acompanha Fórmula 1 desde meados da década de 70, "quando a F1 era perigosa e o sexo seguro, hoje inverteu". Leia sua última coluna sobre automobilismo clicando aqui.