sexta-feira, 31 de agosto de 2007

A frieza da matemática

Massa sai do carro e comemora na Turquia: só faísca (foto: Ferrari.it)

Felipe Massa venceu o GP da Turquia no último domingo e esquentou o Mundial de F-1, mas será mesmo que colocou fogo, como andam dizendo? Ainda acho que foi apenas uma faísca. Faltando cinco corridas para o final da temporada, ele está "apenas" 15 pontos atrás do líder Lewis Hamilton (entre eles, Fernando Alonso; logo atrás, Kimi Raikkonen).

A julgar pelo que disse a imprensa brasileira, Massa está de volta à briga, em posição de lutar pelo título que o Brasil persegue desde 1991, quando Ayrton Senna conquistou o tricampeonato. Será mesmo? Sim, o campeonato está equilibrado como não se via há mais de 20 anos, mas, ao contrário do que imagina quem torce para o brasileiro, é justamente este equilíbrio (segundo o Houaiss, "igualdade de força entre duas ou mais coisas, pessoas ou grupos em oposição") que torna mínimas as chances de Massa ou Raikkonen tirarem a taça das mãos do inglês.

Em 12 provas, cada um dos quatro primeiros colocados venceu três vezes. A diferença está na regularidade. O inglês subiu ao pódio dez vezes e só não pontuou em uma ocasião. O espanhol tem oito pódios, mas em compensação é o único que marcou pontos em todas as corridas. Já os ferraristas abandonaram duas vezes cada, por isso não dependem mais apenas de suas próprias forças.

É fato que a Ferrari parece estar em melhor fase, crescendo na reta final, mas nem uma improvável seqüência de cinco vitórias é suficiente para mudar o quadro - com quatro ou até três vitórias (dependendo do que fizer Alonso), Hamilton liqüida a fatura. Massa e Raikkonen precisam vencer um ao outro e ainda "secar" os pilotos da McLaren, o que tem sido tarefa inglória em 2007.

Os tifosi mais otimistas argumentam que os cinco circuitos restantes favorecem a escuderia italiana. Isso pode até ser verdade em Monza, onde os donos da casa venceram quatro vezes nos últimos cinco anos (embora no ano passado a pole positon e a volta mais rápida tenham sido de Kimi Raikkonen, então na McLaren).

Mas a teoria já cai por terra na etapa seguinte, no circuito belga de Spa-Francorchamps. Ausente em 2006, o GP da Bélgica foi vencido pela McLaren, ainda com Raikkonen, em suas duas últimas edições. Muita coisa mudou nesses dois anos, mas a última vez que a Ferrari se deu bem lá foi ainda mais longe, em 2002, quando Michael Schumacher era imbatível.

No Japão, a relação de forças entre as duas equipes é uma incógnita, já que a categoria não corre na pista do Monte Fuji há exatos 30 anos. Só a título de curiosidade (ou superstição): na última vez, em 1977, deu McLaren com James Hunt, mas o título ficou com Niki Lauda, da Ferrari.

Em três corridas realizadas na China, a Ferrari ganhou duas, a última delas com Michael Schumacher em 2006. Embora estivesse pilotando uma Renault, Fernando Alonso também venceu uma (a outra ficou com Barrichello) e largou na pole duas vezes, ou seja, o bicampeão mundial gosta de correr lá e tem braço de sobra para descontar uma eventual desvantagem de seu equipamento.

No Brasil, deu Massa em 2006, mas a McLaren havia vencido no ano anterior com Montoya. Além disso, as características da pista e o clima de São Paulo tornam o GP brasileiro um dos mais imprevisíveis da F-1. Nos últimos cinco anos, foram quatro vencedores diferentes. Só Montoya repetiu a dose, mas com carros diferentes (Williams em 2004 e McLaren em 2005).

Só para completar o banho de matemática fria sobre o ufanismo exagerado (de quem Rubens Barrichello foi vítima durante toda a sua carreira), em 57 anos de F-1, somente três pilotos conseguiram virar o jogo após estarem em terceiro lugar ou abaixo a cinco corridas do fim do campeonato: Alain Prost em 1986 (11 pontos atrás de Nigel Mansell), Keke Rosberg em 1982 (16 pontos atrás de Didier Pironi, que depois disso não correu quatro GPs) e John Surtees em 1964 (20 pontos atrás de Jim Clark).

Enfim, ainda falta muito tempo (52 dias ou 1248 horas ou 74.880 minutos ou 4.492.800 segundos) e chão (cerca de 1.533 km, sem contar testes e treinos) para o campeonato acabar. A frieza dos números, porém, mostra que a faísca acendida por Massa na Turquia ainda é pouco para fazer o Mundial realmente pegar fogo. E a menos que a sorte faça a balança pender para o lado vermelho, o quente da disputa será mesmo entre Hamilton e Alonso.

Vicente Toledo aprecia Massa à italiana aos domingos. Trabalha como repórter do UOL há seis anos, por onde cobriu diversos campeonatos ao redor do mundo. Hoje, apresenta o UOL News. Escreve sobre automobilismo às sextas-feiras.

Um verdadeiro clássico

Duelo, finalmente, volta a ter gosto de clássico (Foto: Gaspar Nóbrega/VIPCOMM)

Sonho de qualquer clube brasileiro, a Copa Libertadores tem visto duelos brasileiros importantes em suas últimas edições. Em duas delas, 2005 e 2006, o duelo foi ainda mais regional, com os paulistas São Paulo e Palmeiras se enfrentando.

O fato é que, mesmo sendo um clássico disputado em torneio tão importante, o clima pré-jogo para aquele confronto não teve o mesmo gosto do sentido no início desta semana, quando as duas equipes se enfrentaram pelo Campeonato Brasileiro.

Em 2005, o Palmeiras ainda vivia fortemente os reflexos de sua queda para a Série B da competição nacional – disputou, e venceu, a Segundona em 2003. Era apenas o segundo ano da volta da equipe alviverde para a elite brasileira e a presença na Libertadores era, até mesmo, uma surpresa.

No ano seguinte, o time palmeirense chegou para as oitavas-de-final capengando, inclusive perdendo seu último jogo na fase de classificação, para o Cerro Porteño, por 3 a 2, no Palestra Itália. Ainda havia a lembrança da derrota do ano anterior e o fato amplamente divulgado pela imprensa esportiva de o time são-paulino sempre levar vantagem na competição.

Os confrontos foram difíceis e fizeram valer a tradição do clássico, mas o clima pré-jogo era diferente. No início desta semana, antes de as duas equipes voltarem a se enfrentar, havia toda aquela sensação que o confronto São Paulo x Palmeiras pode oferecer.

A vitória do time tricolor deu, ao seu torcedor, o gosto de ter vencido um rival, e não um freguês. É o sentimento que seu time é forte, ainda mais vencendo o adversário em seu estádio. Nos anos anteriores, era a gozação e a piada por chutar ‘cachorro-morto’.

Há ainda o fato de o os times do atual Brasileirão estarem muito nivelados. E o próprio torcedor são-paulino pode reconhecer que seu time, apesar de mais forte e eficiente, tem menos momentos de brilho do que o Palmeiras, devido ao chileno Valdívia, oferece.

Para se fortalecer de vez e retomar o antigo lugar, impondo medo e respeito aos adversários, ainda falta uma seqüência de títulos ao Palmeiras. Ainda falta, inclusive, o primeiro título de uma seqüência. Mas já foi um passo dado pelo clube alviverde depois de ver sua terra devastada pela queda à segunda divisão brasileira.

Alexandre Mortari é veterano nos estádios da terra da garoa. Trabalhou na Rádio Globo, no UOL e na agência MBPress. Hoje, é web editor do MSN. Escreve sobre futebol paulista às sextas-feiras.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O Pré-Olímpico e suas lições

Quem chamou Nezinho? (Foto: divulgação)

Ofuscado pelos seguidos sucessos do vôlei (e pelas seguidas frustrações que gerou nos brasileiros), o basquete voltou a despertar atenção com a luta da seleção brasileira masculina em disputar os Jogos Olímpicos depois de ficar ausente das duas últimas edições. Com maior número de pessoas de olho nas atuações da equipe, o tema vira assunto nas conversas entre amigos. Os comentários são os mais variados, mas alguns se repetem com freqüência: Lula é um péssimo treinador. Marcelinho amarela nos momentos decisivos. O Nenê da seleção não é o mesmo Nenê do Denver Nuggets.

Uso este espaço para revelar minhas opiniões sobre o que seleção mostra no Pré-Olímpico. E você está convidado a comentar no link abaixo. Vale discordar de tudo. O importante é aumentar o debate sobre o basquete brasileiro.

Marcelinho: É um excelente arremessador de três pontos. Ponto. Não adianta cobrar do jogador que lidere a equipe em quadra, que decida as partidas (até já conseguiu isso – Turquia no Mundial de 2002), que pare a bola na hora da dificuldade e organize o time. Ele não tem essas características. É um jogador de estilo antigo. Seria um supercraque se jogasse nos anos 70, 80, quando bastava para um jogador arremessar muito bem, sem ter que se preocupar com defesa, em jogar para o time, conhecer as características dos adversários etc.

Nenê: A impressão que joga menos na seleção do que no Denver (toda hora ouço algo parecido em relação a um craque de seleção brasileira de outro esporte) é fruto muito do próprio comportamento do pivô em relação à seleção. Nenê sempre teve uma posição crítica em relação ao comando da CBB e chegou a dizer que não defenderia mais a equipe enquanto a atual diretoria mandasse na entidade. Ok. É um direito do jogador recusar uma convocação (se está certo ou não é outra história). Mas seus argumentos eram tão genéricos que prejudicavam sua luta, que tinha razões a serem avaliadas com atenção.

Assim, ficou fora dos últimos dois Mundiais (contusões foram os motivos oficiais), não podendo mostrar seu jogo para a torcida com a camisa amarela. Antes deste Pré-Olímpico, praticamente só defendeu a seleção no Pré de Porto Rico-2003, quando decepcionou junto com toda a equipe.

Nezinho: Não tem culpa de ser convocado. Não tem jogo para atuar pela seleção, mas se o treinador o chama, o que ele deveria fazer? Convocar a imprensa e ler um comunicado oficial em que agradece a confiança do treinador, mas que não tem condições de vestir a camisa nacional? Óbvio que não. O problema não está com ele. Para quem teve que aturar Demétrius e Ratto por anos, não chega a ser uma novidade ver Nezinho na lista de convocados.

Lula: É um ótimo comentarista, sabe se expressar muito bem nas entrevistas, mas na beira da quadra... Para quem criticava os berros e o show de nervosismo de Hélio Rubens (chegou a se irritar a tal ponto com os erros do time no Mundial de 98, que pediu um tempo e foi para a ponta de banco, ficando de costas para os jogadores), a passividade do atual treinador da seleção consegue ser ainda mais irritante. Não é possível que o treinador, nos instantes que o Brasil está caindo em quadra, seja focalizado mudo, sem esboçar uma reação, sem fazer um gesto sequer, sem fazer uma orientação que seja.

Assistir ao time da Argentina B jogar (sem falar em times europeus) demonstra que Lula e sua comissão-técnica não estão antenados em termos táticos, estão arraigados a conceitos antigos e insistem doa a quem doer em jogadores que já provaram que não podem defender a seleção (Nezinho é o maior exemplo).

Conclusão: A sorte do Brasil é que o nível técnico do Pré-Olímpico é baixo (EUA e Argentina B são as exceções) e que o time nacional, mesmo aos trancos e barrancos, deve conseguir evitar os EUA na semifinal. Canadá e Uruguai perderam nesta terça-feira e facilitaram muito o trabalho brasileiro. Vencer o Uruguai deve bastar. E aí vai ter uma decisão contra o time misto da Argentina. Uma derrota pode iniciar o processo já mais que necessário de mudança de comando e de estilo de jogo. Uma vitória será maravilhosa, levando o basquete masculino de volta aos Jogos Olímpicos. Mas nos preparemos para ver os mesmos erros de Las Vegas em Pequim. Não vamos nos iludir.

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Bandejas

- Tiago Splitter mostra em Las Vegas que é um jogador pronto, maduro. As temporadas no Tau Ceramica (Espanha), uma das melhores equipes da Europa, lapidaram o jovem jogador, que é o mais regular do Brasil no Pré-Olímpico. O pivô ainda se mostra cauteloso a tentar a sorte na NBA. Mas tem tudo para ser bem sucedido na terra do basquete.

- A atenção toda voltada para o Pré-Olímpico tirou das manchetes um novo caso trágico na NBA: a morte de Eddie Griffin, 25 anos, jogador do Minnesota Timberwolves, no último dia 21, em um acidente de carro. Mais um caso de jovem jogador (sétimo escolhido no draft de 2001) que não consegue lidar com a mudança radical de vida, com os milhões de dólares na conta bancária. Em uma futura coluna falaremos do caso e de outros semelhantes que costumam enlutar o basquete.

Marcelo Monteiro mal chega a 1,70m, mas é mortal nas bolas de três. Torcedor fanático do Atlanta Hawks, trabalhou por nove anos em sites das Organizações Globo. Hoje, empresta seus conhecimentos à Textual Assessoria. Escreve sobre basquete às quartas-feiras.

Excepcionalmente beisebol

Como todos os viciados em YouTube, passo horas em frente ao computador procurando por vídeos interessantes, especialmente de beisebol e softbol. E, recentemente, vi dois que me impressionaram muito.

O primeiro é uma demonstração única de habilidade. O arremessador Pat Venditte, atualmente jogando pela Universidade Craighton, chamou a atenção de todos por possuir uma aptidão peculiar: a de arremessar com as duas mãos. Até uma luva com seis dedos, foi desenvolvida para especialmente para ele. De acordo com o rebatedor que vai enfrentar, ele troca a luva de mão e escolhe como arremessará.

Essa capacidade, inclusive, fez com que ele fosse selecionado pelos New York Yankees, no Draft desse ano, mas, surpreendentemente, ele escolheu voltar para a cidade de Omaha, no estado de Nebraska, onde nasceu, para jogar durante seu Senior Year, o último ano de estudo antes de se graduar, em Craighton.



O segundo vídeo, além de também mostrar muita habilidade, exibe uma das maiores forças de superação que o esporte já conheceu. Eu, na verdade, já conhecia a história de James Anthony Abbott, mas, infelizmente, não tive a oportunidade de vê-lo atuar. Para que quem não conhece possa entender, ele nasceu sem a mão direita e, ainda assim, conseguiu se profissionalizar e atingir marcas invejáveis.

A carreira de Jim Abbott, como ficou conhecido no mundo do beisebol, conseguiu alcançar metas importantes desde a época em que jogava pela Universidade de Michigan. Em 1987, ele se tornou o primeiro beisebolista a receber o prêmio James E. Sullivan, dado ao melhor atleta amador dos Estados Unidos. Um ano depois, em 1988, conquistou o ouro nos jogos olímpicos de Seul, mas como o beisebol era um esporte de exibição, a conquista não foi computada no quadro de medalhas.

Se os feitos de Abbott como amador já impressionam, como um profissional da Major League Baseball não é muito diferente. Jim Abbott iniciou sua carreira em 1989, no California Angels, atual Los Angeles Angels of Anaheim, e atuou por New York Yankees, Chicago White Sox e Milwaukee Brewers, onde encerrou sua trajetória como jogador, em 1999, com um ERA de 4.25 e a marca de 888 rebatedores eliminados por strike. Entretanto, apesar dos números, foi no dia 4 de setembro de 1993, pelos Yankees, que aquele jovem nascido sem uma das mãos, então com 26 anos, faria o melhor jogo de sua vida, conseguindo um no-hitter (quando nenhum adversário consegue uma rebatida válida), contra o Cleveland Indians, no Yankee Stadium.

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Semana passada, mais precisamente na quarta-feira, os Texas Rangers conseguiram a maior vitória dos últimos 110 anos da MLB. A vítima foi o time do Baltimore Orioles, que, em casa, amargou uma derrota por 30 a 3. A única vez em que uma equipe marcou mais corridas que os Rangers foi no dia 29 de julho de 1897, quando os Chicago Colts derrotaram os Louisville Colonels por 36 a 7.

Ah! Um detalhe sobre o jogo da última quarta: a vitória texana foi de virada. Os Orioles chegaram a abrir 3 a 0 nas três primeiras entradas, mas, depois, acabaram massacrados pelos Rangers. Essa foi a primeira vez em que um time da Major League Baseball sofreu 30 corridas sem conseguir anotar mais nenhuma.

Fernando Andrade passou de fã a companheiro de transmissões de Ivan Zimmerman. Jornalista, trabalhou nas rádios Tupi, Nativa, Jovem Pan e Paradiso. É jogador, treinador e presidente da Federação Carioca de Beisebol e Softbol, e escreve sobre o esporte às quartas-feiras.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Os ovos de ouro vão acabar...

Revelado no Inter, Sóbis hoje defende o Betis, da Espanha (Foto: El Mundo)


“Está faltando craque no futebol brasileiro.” A frase dita no último sábado pelo técnico do São Paulo, Muricy Ramalho, é um alerta para todos que acompanham e vivem do esporte no Brasil. No popular, o depoimento do treinador do time de maior sucesso no país nos últimos anos poderia ser traduzido assim: “Estão matando a nossa galinha dos ovos de ouro”.

A morte está sendo lenta, mas em um ritmo constante. É só acompanhar atentamente qualquer seção de transferências para o futebol internacional de sites especializados para atestar que quem é craque, projeto de craque, pseudo-craque ou até “na média” não esquenta cadeira aqui no futebol brasileiro.

Você deve estar se perguntando qual o motivo de esse tema ser a minha coluna de estréia neste Por Esporte, já que a nossa “inesgotável” fábrica de produzir talentos dá conta desse êxodo de jogadores. Não é bem assim. Aliás, não é nada assim. Isso porque essas novas fornadas não têm tempo para crescer e aparecer no futebol brasileiro. Cada vez mais cedo estão sendo retiradas das nossas “prateleiras”.

Assim, quando Pato, William, Carlos Eduardo, Rafael Sóbis, Anderson e Lucas, isso só para ficar entre as promessas que saíram do Brasil com menos de 19 anos, se concretizarem como craques, eles não ajudaram em nada a elevar o nível do futebol brasileiro. Ou seja, a reposição de craques (no caso projeto de craques) houve, mas não foi efetiva para o futebol jogado aqui.

Isso é preocupante porque o futebol brasileiro está se resumindo a projeto de craques com idades entre 16 e 18 anos (reparem que há pouquíssimo tempo atrás, essa faixa era pelo menos entre 18 a 20) ou então jogadores com mais de trinta anos, que estão voltando do futebol europeu e muitas vezes já estão jogando com o nome.

Como o torcedor não é bobo, o reflexo disso é imediato. Há várias edições a média de público do Brasileirão sua para ultrapassar os dez mil pagantes (média ridícula se comparada com os principais campeonatos do mundo). A imprensa (inclusive quem paga cara pelos direitos do espetáculo) não tem como evitar falar mal do nível do futebol praticado aqui. No longo prazo, isso vai resultar numa diminuição do dinheiro circulando no meio.

A verdade é que o produto futebol brasileiro é cada vez mais mal tratado e está se desvalorizando. Algo precisa ser feito para evitar isso. Se não, é bom segurar os “nossos últimos ovos de ouro”.

* * *

Vocês querem provas do empobrecimento do futebol brasileiro? Zé Roberto, do alto dos seus 33, passou uma temporada por aqui (seria um ano sabático?) e foi considerado o melhor jogador do país de forma unânime. Por quê? Porque era um jogador muito acima da média nacional. Tanto é verdade que agora, após voltar ao Bayern, é apenas mais um na constelação de craques do time alemão (que nesse começo de temporada pinta como melhor time da Europa. Mas isso é outro assunto, muito bem conduzido pelo amigo Thiago Dias aqui neste espaço).


Vitor Sérgio Rodrigues tem visão periférica, mas gosta é da banheira. Foi repórter do Lance, Jornal dos Sports e Globoesporte.com. Cobriu as Olimpíadas de Atenas. Hoje, é comentarista da Band e da Tv Esporte Interativo. Escreve para o Por Esporte às terças-feiras.

A outra metade da missa

O alemão Kai Vorberg, bicampeão mundial de volteio (Foto: Kai Vorberg Fan Club)


Rodrigo Pessoa, Doda Miranda, Luiz Felipe Azevedo e André Johannpeter. É deles que lembramos quando pensamos em hipismo. Também, pudera. São eles os nossos únicos medalhistas olímpicos – bronze em Atlanta 1996 e Sydney 2000 – na modalidade de saltos por equipes. Pessoa ainda levaria o ouro individual em Atenas 2004. Não o trouxe da Grécia, é verdade, o que talvez lhe tire emoção, mas não importância. Recebeu-o no Rio de Janeiro, mais de um ano depois, após a constatação de doping em Waterford Crystal, cavalo do irlandês Cian O’Connor, na final dos Jogos.

Após o Pan de 2007, no entanto, mais duas modalidades começaram a entrar no páreo do conhecimento dos brasileiros: o Adestramento e o CCE (Concurso Completo de Equitação). Em ambas, o Brasil conquistou o bronze por equipes. No Adestramento, a equipe contou com Rogério Clementino (Nilo Vo), Renata Costa (Monty) e Luiza Almeida (Samba). No CCE, levamos com André Paro (Land Heir), Renan Guerreiro (Rodízio AA), Fabrício Salgado (Butterfly) e Carlos Paro (Political Mandate). – Sim, os Paro são irmãos. – Esses resultados garantiram vagas em Pequim às equipes brasileiras.

Já sabe, então, que poderemos torcer pelas três modalidades olímpicas no ano que vem. Maravilha, mas saiba agora que nos Jogos não está presente nem a metade do total de modalidades consideradas pela Federação Eqüestre Internacional (FEI).

Ponto aí para Claudia Carvalho, assessora de imprensa da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH). Ao saber que eu escreveria sobre o esporte não sendo um atleta, depois de assustar-se sapecou uma série de dicas de sites especializados e fez questão de alertar-me para a existência das demais modalidades.

Vamos a elas: Adestramento, CCE, Enduro, Especial, Rédeas, Salto e Volteio. A FEI ainda considera mais uma modalidade, chamada driving, em inglês, que não passa muito de uma moderna corrida de carroças.

Adestramento: modalidade na qual o cavalo deve apresentar movimentos em que são necessárias precisão e harmonia;

CCE (Concurso Completo de Equitação): aqui há uma combinação de adestramento, cross-country e saltos;

Enduro: uma prova de resistência e entrosamento entre homem e animal. O conjunto deve percorrer distâncias que podem chegar a 160km em um único dia, em terrenos com obstáculos naturais. Além de chegar ao final, o cavaleiro deve preocupar-se com a saúde do animal, que passa por vários exames veterinários ao longo da competição. Caso haja alguma alteração em seu metabolismo muito significativa, pode ser impedido de continuar;

Especial: semelhante ao adestramento, com a única diferença de ser uma modalidade para-olímpica;

Rédeas: competição em que é testada a habilidade do cavaleiro em dominar o cavalo em diversos movimentos pré-definidos. O conjunto deve realizar uma seqüência de manobras (a mais interessante consiste em uma parada brusca na qual o cavalo escorrega sobre as patas traseiras);

Duane Latimer (Canadá) é o campeão mundial de Rédeas (Foto: Kit Houghton/FEI)

Salto: a modalidade mais conhecida, onde o conjunto tem que percorrer um percurso com obstáculos, derrubando o menor número possível de barreiras. O tempo do trajeto serve como critério de desempate;

Volteio: uma espécie de ginástica sobre o cavalo. Semelhante à modalidade de cavalo com alças da ginástica rítmica. A diferença é que, neste caso, o cavalo está vivo.


* * *

Para responder a pergunta que aqui deixei na semana passada, passo a palavra para Valter Santos Lopes, treinador de L’Amico Steve, o cavalo vencedor do GP Brasil 2007. “O cavalo corre porque é treinado para isso, mas cada um é uma história. Alguns gostam de correr na frente; outros, atrás. O L’Amico, por exemplo, no treinamento, sempre que está ao lado de outro animal, tenta manter-se pelo menos meio corpo à frente. É um pouco como aquela história do chefe da manada, que precisa liderar os demais".

Juan Torres não sabe rezar, mas tem fé: um dia será Kai Vorberg. Até lá, é colaborador de publicações da Editora Abril. Foi repórter do Globoesporte.com e coordenou o serviço de notícias do Pan 2007 no Maracanãzinho. Escreve sobre esportes hípicos às segundas-feiras.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Tempo que não volta mais

Maradona encantou o mundo no Napoli (foto: La Gazzetta dello Sport)

Lembro como se fosse hoje o dia em que meu pai chegou em casa com o presente tão aguardado: a camisa do Napoli. Pirata, um modelo da Dell’erba, marca que chegou a patrocinar o Santos e que ganhava dinheiro reproduzindo por aqui os uniformes dos times europeus, provavelmente sem autorização.

Naquela época, início dos anos 90, nem o rubro-negro do Milan me seduzia. Eu só queria saber de Maradona, Careca e Alemão, com narração de Silvio Luiz e comentários do Silvio Lancelotti. Tinha certeza absoluta que tudo que o cozinheiro falava sobre os jogadores durante a transmissão – como prato preferido, nome do pai, faixa no judô ou número da chuteira - estava escrito no verso dos cards do Campeonato Italiano que eu colecionava. Um dia ainda vou aprender a língua e tentar desmascará-lo.

Maradona, Careca e Alemão. Três estrangeiros e nada mais. De cabeça, é mole lembrar os gringos de outras equipes: Van Basten, Rijkaard e Gullit, os holandeses do Milan; Matthaus, Brehme e Klinsmann, os alemães da Internazionale. Agora, só de brasileiros, o Milan tem oito. E nem me interessa, de verdade, saber de cor os nomes de todos eles. Acabou o romantismo.

O Napoli, meu Napoli, Napoli de Maradona, Napoli de careca, Napoli até do Caio, está de volta à Série A. Caiu em 2001, faliu, chegou à Terceirona, ressuscitou e tenta ser grande de novo. Começou mal, com derrota em casa por 2 a 0 para o Cagliari. Não tem a mesma magia daquela época da camisa da Dell’erba, mas a história não se apaga.

O presente do meu pai já não cabe mais em mim. Mas dei um jeito: comprei a réplica da camisa usada pelo Napoli na campanha do título de 1989/1990, com patrocínio da Mars e logo da NR. Nas costas, o número 10 e o nome de Maradona. Quem dera se ainda fosse assim.

***


Não sou mais a criança que ganhou aquele presente, mas estou todo bobo com a nova camisa da minha coleção (iniciada com aquela da Dell'erba, por sinal): da Udinese, da temporada 83/84.

Trata-se, apenas, do modelo usado no primeiro ano de Zico pelo clube italiano. Com ela, o Galinho fez 19 gols - apenas um a menos que o artilheiro Platini, da gigante e campeã Juventus.

Para aqueles que dizem que o Zico era jogador só de Maracanã, recomendo o DVD da Placar sobre o craque. Produção italiana, o vídeo tem mais imagens do Galinho pela Udinese do que pelo Flamengo. O que poderia ser decepcionante, acaba sendo recompensador, pois mostra como o camisa 10 marcou a história de um clube pequeno em apenas dois anos por lá.

Thiago Dias costuma ser interrompido no cinema em ligações de jornalistas gringos. Trabalhou no Lance. Hoje, é repórter do Globoesporte.com. Cobriu o título mundial do Inter e prepara um livro sobre o assunto. Escreve sobre futebol internacional às segundas-feiras.

domingo, 26 de agosto de 2007

O melhor amigo do Pessoa

O conjunto refuga, o Baloubet leva a fama (foto: Olympics.org)

Notei que o editor deste site pôs ali no elenco um “Odisseu Kapyn, o mito :: humor”. Não concordo com isso. Não pelo “mito”, que é realmente uma alcunha que vem me acompanhando muito ultimamente. O problema ali é o “humor”. Não venho aqui fazer graça. O que combinei com o editor era que iria sempre discorrer sobre alguma prática que não deveria ser chamada de “esporte” e, vez em quando, de outra que merecia ser melhor estimada no mundo desportivo.

Isso porque não sou como os outros nobres colegas do Por Esporte, viciados em assistir às mais diversas prática físicas a ponto de ficarem cegos à verdadeira natureza de seus hobbies. Por não ser jornalista esportivo, por não ser um “homem de esportes” (o que me conta pontos na hora de conquistar uma fêmea), sou capaz de apresentar uma visão imparcial do assunto. Dito isto, vamos à primeira desmitificação:

O HIPISMO

O hipismo é um esporte? Sim, claro. Para os cavalos. São esses nobres animais que fazem todo o esforço no hipismo. São eles que saltam, que correm, que trotam, que dão cambalhotas, que refugam. São os responsáveis por todo o espetáculo. No entanto, quem recebe os louros são os cavaleiros e amazonas. Aliás, os louros seriam muito mais úteis, gastronomicamente falando, aos nossos atletas ruminantes.

O papel de protagonista desses quadrúpedes só é confessado nos momentos inglórios. Quando, no último dia dos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, Rodrigo Pessoa “falhou” em dar ao Brasil sua única medalha de ouro, quem foi apontado como culpado? “Baloubet du Rouet refugou”, apontavam todos os dedos críticos. Então, a medalha não veio por causa do cavalo, não é mesmo? E se o ouro olímpico viesse nos resgatar das profundezas do quadro de medalhas? Quem seria o herói? Cavalo ou pessoa? Pessoa ou Baloubet? Pessoa, decerto. Sempre a pessoa.

Vejam bem, não estou dizendo que os cavalos fariam tudo sozinhos se fossem soltos na pista. Quer dizer, não sei o que aconteceria se acrescentassem folha de coca e de cannabis sativa às de alfafa. Talvez eles até saíssem desacompanhados saltando obstáculos, com direito a dançar um sambinha ao zerar o percurso, ou um fox-trote. Como há o doping para os cavalos (Mais uma prova de que os bichos são importantes. O doping para quem os monta é mera formalidade), vamos ter que continuar deixando o bom senso nos dizer que os cavaleiros e amazonas têm sua função na competição.

Sem dúvida, os humanos têm lá sua cota de reconhecimento no hipismo. Eles são corajosos por montarem um animal tão perigoso, capaz de aleijar o Super-Homem em seu disfarce de Christopher Reeve (dizem que o nome do cavalo era Kriptonita, mas eu não acredito).

Não escondo certa admiração por pessoas tão bravas. Só não me peçam para chamá-los de atletas. De jeito nenhum. Quero vê-los saltar aqueles troncos e laguinhos sem suas montarias. Iam se espatifar no chão e rogar por clemência, pedindo para não serem sacrificados devido a suas lesões.

Como se não bastasse o hipismo “normal”, ou seja, a prova de saltos, existe uma aberração maior no universo eqüino desportivo. Fico até constrangido por comentar as provas de adestramento, nas quais é preciso que os bichinhos façam uma espécie de coreografia. É nessa hora que o conceito de esporte leva o coice fatal. A modalidade não é atlética nem para os animais que estão sendo avaliados.

Tenho certeza de que os próprios cavalos consideram aquilo algo como um desfile de moda. Sem ofensas às modelos, ok? Sabemos que elas são mais articuladas que os cavalos, pelo menos. Mas o fato é que no adestramento nem quem faz o esforço físico pode ser chamado de esportista. Os cavalos, esses belos e impetuosos espécimes da fauna internacional, são rebaixados ao nível dos poodles de competição. Só falta fazer trancinhas e rabos de cavalo.

E por falar em competições caninas, tão comuns na programação do canal Animal Planet, vamos ser justos. Se adestramento é modalidade olímpica, vamos agora mesmo providenciar as medalhas para os treinadores de agility, que vêm sendo subestimados todo esse tempo ao lado de seus cães campeões em entrar e sair de túneis e ziguezaguear e pular obstáculos.

Seria também uma boa política com a terceira idade, tirando do tiro esportivo toda a responsabilidade de distribuir medalhas a velhinhos. Aliás, aguardem em breve uma análise sobre o tiro esportivo.

Odisseu Kapyn é garanhão de uma fêmea só. Ganhou fama no Cocadaboa. Hoje, escreve na Revista M e no blog Humor Marrom, e apresenta o Ponto Cômicos, grupo de comédia Stand Up em cartaz no Saloon 79, no Rio. Faz suas gracinhas aos domingos no Por Esporte.

sábado, 25 de agosto de 2007

Máquina do Mundo

“Mas as coisas findas, muito mais do que lindas, essas ficarão”



- É para escrever sobre o quê?
- Futebol e cultura.
- Excelente! Mas é aquela história do Quadrado Mágico...
- Qual?
- Tem tudo para dar errado.
- Vai para o ataque. Tenta.
- Vou começar com Drummond


Para o jornalista Armando Nogueira, se Drummond jogasse bola na seleção de escritores nacionais, ele seria um gênio. Daqueles que desafiam o impossível. Em seus versos, Carlos Drummond de Andrade ultrapassa limites. Craques assim agem.

Nos últimos meses mergulhei em um oceano desconhecido para a maioria: Drummond e o futebol. O amor do poeta e a paixão nacional. Alegrias e angústias do cronista nas copas do mundo. O resultado da pesquisa foi o programa “Drummond, de letra”, exibido pelo SporTV em 17 de agosto, dia de sua morte em 1987.

Atento observador do cotidiano, o poeta transformou futebol em obra-prima. Primeiro passo: olhar o esporte não como um cientista social repleto de teorias, mas como um admirador. Segundo passo: Enxergar momentos únicos. Instantes em que se produz automaticamente cenas eternas: um risco de Pelé, um rabisco de Mané, um Maradona, arisco.

“São vôos de estátuas súbitas, desenhos feéricos, bailados de pés e troncos entrançados. Instantes lúdicos: flutua o jogador, gravado no ar – afinal, o corpo triunfante da triste lei da gravidade”

Mineiro, mas torcedor do Vasco. Fã incondicional da Seleção brasileira. Acompanhou com entusiasmo as conquistas de 58, 62 e 70. Sofreu com as derrotas que castigaram o povo brasileiro após a Copa do México. Mesmo na derrota, um golaço: “Perder, ganhar, viver”, crônica sobre a tragédia do Sarriá, em 82 na Espanha. Derrota de Zico, Falcão, Sócrates e cia. A melhor Seleção de todos os tempos para muitos. E, para outros tantos, também o melhor texto esportivo já escrito. Drummond tirou, do momento de tristeza, um sorriso sublime.

“Certamente fizemos tudo para ganhar essa caprichosa Copa do Mundo. Mas será suficiente fazer tudo, e exigir da sorte um resultado infalível? E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano está na segunda metade?”

Para Drummond, o futebol é simples. Mas dessas simplicidades que fazem do homem comum o artista principal de seus próprios sonhos.

Após a exibição do programa, fui perguntado por algumas pessoas de onde foram retirados os textos sobre futebol. Se despertou a curiosidade, já valeu a pena. A cultura brasileira agradece. E fico um pouquinho envaidecido também ao ver que o jornalismo esportivo pode driblar um pouquinho as análises táticas. Pode, de vez em quando, se exibir como futebol-arte.

As obras de Carlos Drummond de Andrade sobre futebol estão reunidas na coletânea “Quando é dia de futebol”, da editora Record. O título da coluna, “A máquina do Mundo” é homenagem a um dos mais belos poemas do poeta. A legenda da foto são versos do Mestre.

Pedro Ribeiro não dispensa uma cerveja e um bom papo com os amigos, em qualquer dia e horário. Lê de Drummond a Paulo Coelho. Nas folgas, trabalha como coordenador de eventos no SporTV. Escreve sobre Esporte e Cultura aos sábados.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Um gigante que se levanta


A torcida, que já foi às ruas protestar, hoje lota a Fonte Nova (foto: anônimo)

Quando pensavam que a fonte nunca mais se renovaria, eis que o Tricolor da Boa Terra volta a mostrar sua força. Com uma campanha irretocável na Série C do Campeonato Brasileiro, o Bahia faz as pazes com sua fanática torcida e vem com tudo para deixar o inferno da Terceirona.

A campanha fala por si só: até o momento, em nove jogos disputados, o time venceu oito e empatou apenas um, marcando 21 gols e sofrendo apenas um. O elenco é treinado por Arthurzinho, talentoso ex-meia do Bangu na década de 80, que conta com o talento de Cléber (ex-Portuguesa e Vitória) na meia cancha e os gols de Nonato, que pintou como craque no próprio Bahia e não vingou em lugar nenhum. Acabou voltando para a casa que conhecia muito bem e o resultado é uma média de mais de um gol por partida (dez em nove partidas) neste campeonato.

Na última partida realizada na Fonte Nova, contra o Nacional-PB, a torcida deu show. Mais de 37 mil tricolores fizeram com que o grande estádio voltasse a ser ornamentado de vermelho, azul e branco, relembrando os tempos áureos do gigante baiano, campeão brasileiro de 1988 sob a batuta de Evaristo de Macedo no banco e Bobô no gramado.

Falando em Série C, além do Bahia, destacam-se até o momento os emergentes Imperatriz-MA, Barras-PI, CRAC e Coruripe, além dos tradicionais América, Bragantino e Joinville. Qual é a sua aposta? Só me arrisco a dizer após o fim da 2ª fase.

Túlio está - mais uma vez - nas cabeças

Quando o assunto é artilharia, o "Rei dos Alternativos" está sempre por cima. Nesta Terceirona, só Nonato supera o Maravilha, que já marcou sete vezes em nove jogos para o Vila Nova.

Trocadilho inevitável

O lateral-direito Neném, ex-Palmeiras, Cruzeiro e Botafogo, tenta renascer para a bola no Cardoso Moreira, que disputa a Segundona do Rio.

Você conhece?
Esse é o Grosseto, da Itália, que pela primeira vez chega à Série B do Calcio. O time estreará na temporada 2007/2008 contra o Modena, fora de casa. Será que a equipe surpreenderá a ponto de conseguir uma vaga na elite da Bota no campeonato seguinte?

Márcio Menezes é alternativo por natureza. Torcedor fanático do América, do Rio, é profissional de boliche e de futebol de mesa. Trabalhou na assessoria de imprensa do América e foi colunista do Globoesporte.com. Escreve sobre futebol alternativo às sextas-feiras.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Culpados sim, Cristos não

Mari encolheu o braço nas decisões, mas não foi só ela (foto: CBV)

Que a seleção brasileira feminina de vôlei tem fracassado seguidamente em momentos decisivos das principais competições, não se discute. Discordo completamente, entretanto, do fato de tirarem dois componentes da equipe para "Cristo": o técnico José Roberto Guimarães e, principalmente, a atacante Mari.

Não que eles não tenham parcela de culpa pelas derrotas nas Olimpíadas (2004), Mundial (2006) e Pan-Americano (2007). Todas as jogadoras e integrantes da comissão técnica possuem alguma responsabilidade, mas crucificar ambos é exagero.

Primeiro, porque os argumentos que usam para derrubar José Roberto Guimarães são lamentáveis. “Ele é muito calmo, tem de berrar igual ao Bernardinho”, é o que os críticos costumam dizer.

Ora, esse mesmo sujeito tranqüilo e calmo foi responsável por um dos maiores momentos do Brasil na modalidade, dirigindo a brilhante seleção brasileira que trouxe a medalha de ouro na Olimpíada de Barcelona, em 1992. Revolucionou, naquele momento, o vôlei masculino, em uma equipe que somente o meio-de-rede Paulão não atacava do fundo.

Tempos depois, assumiu a seleção feminina um ano antes dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, contornando uma enorme crise pela qual o time passava, com as principais atletas brigadas com seu antecessor. Desde então, seu time foi longe em todos os torneios que disputou.

É evidente que não conseguiu as conquistas expressivas, mas, convenhamos, ele não pode entrar em quadra e bater uma bola para fechar o set ou o jogo. Se a seleção faz 14 a 11 e não vira uma bola decisiva no quinto set, é muito mais culpa das jogadoras do que do treinador. Cabe a Zé Roberto, mais do que nunca, trabalhar a cabeça das atletas, para a seleção deslanchar.

Deslancharia muito mais fácil se Mari estivesse presente. Do Grand Prix, que está em sua fase final na China, ela não faz parte, pois foi cortada depois do vice no Pan-Americano, com Sheila e Renatinha ocupando a posição.

O que reforçou a tese de que a oposto Mari era a culpada pelas “amareladas” do time. Mas, então, uma pergunta: como alguém que foi reserva na decisão diante de Cuba e mal jogou foi a culpada pela derrota no Maracanãzinho? E a titular da posição, a Sheila, que errou os pontos decisivos no set final?

Mas se agarram ao fato de Mari ter participado da infeliz semifinal olímpica de 2004, contra a Rússia, em que o Brasil fez 24 a 19 para fechar o jogo no quarto set e ela, sim, errou pontos decisivos. A atacante era a novata da seleção – primeira participação - e chamou a responsabilidade, tendo sido disparada a melhor jogadora da campanha.

Só acontece que ela tem uma expressão serena, não vibra muito nos pontos, o que irrita alguns locutores esportivos e, conseqüentemente, os torcedores. Desta forma, a “alegre” Virna, que errou tudo contra a Rússia o jogo todo, é perdoada e não recebe a alcunha de “amarelona”, que fica apenas com a Mari.

Repito: ela também tem parcela de culpa nas derrotas, assim como Zé Roberto, mas não é justo crucificar os dois. Para Pequim 2008, espero que a oposto esteja novamente na lista do treinador, já que ela é uma das grandes revelações do vôlei nos últimos tempos, uma jogadora completa e que tem muito a contribuir.

Cauê Rademaker tem a mesma altura do Giba,
diz ser mais bonito, mas ainda não foi descoberto por Bernardinho. Trabalhou na Globo.com e na Topsports. Atualmente, é editor-chefe da MBPress. Escreve sobre vôlei às quintas-feiras.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Ir a Pequim é obrigação

Lula Ferreira terá Leandrinho e Nenê. Agora não tem desculpa (foto: divulgação)

Os deuses da bola laranja (ou de qualquer cor, hoje em dia) e o comandante deste espaço quiseram que essa coluna iniciasse sua trajetória em um dia muito importante para o basquete nacional. A partir desta quarta-feira, dia 22, contra o Canadá, o Brasil tem o desafio de voltar a ser alguém no mapa internacional do mais emocionante dos esportes.

Duas vezes campeão mundial (59 e 63), apenas uma a menos que os Estados Unidos, e com três medalhas olímpicas no currículo (bronzes em 48, 60 e 64), o Brasil tem uma oportunidade de ouro de voltar a disputar os Jogos Olímpicos com sua seleção masculina após uma ausência de duas edições.

Se tivemos uma série de razões (justificadas ou não) para não nos classificarmos para Sydney-2000 e Atenas-2004, não haverá desculpa aceitável para um terceiro fracasso consecutivo.

Tudo bem. Os Estados Unidos jogam em casa e escalaram um ótimo elenco (Kobe, LeBron, Kidd, Carmelo). A primeira vaga é deles. Sem problemas. Mas o Brasil, que se gaba de ser um dos países com mais representantes na NBA, tem a obrigação de ficar com a segunda passagem para Pequim.

Obrigação? Sim. Quem pode nos ameaçar:

1) Argentina: Ginóbili não vai, Nocioni, idem, Oberto, também. Os atuais campeões olímpicos contam com Scola (ex-companheiro de Tiago Spitter no Tau Ceramica e novo jogador do Houston Rockets) e Delfino (que trocou o Detroit pelo Toronto e ainda luta para se firmar na NBA e contra uma lesão que ameaça seu desempenho no Pré-Olímpico). Se o Brasil, mesmo sem Varejão (Baby não conta), não conseguir ganhar do misto argentino, é preciso fechar para balanço.

2) Porto Rico: não conta com o fator casa, decisivo no Pré de agosto de 2003, e o pivô Daniel Santiago (ex-NBA), que se aposentou da seleção. Tem jogadores perigosos - Carlos Arroyo (Orlando Magic), Luis Barea (Dallas Mavericks) e Elias Ayuso, mortal nos arremessos de três pontos. Mas não é tão forte no garrafão. Com Nenê e Splitter, o Brasil precisa passar por cima.

3) Canadá: naturalizou o haitiano Samuel Dalembert (Philadelphia 76ers), merece respeito, mas sem Steve Nash é mais um time que o Brasil tem obrigação de vencer.

4) Os demais: Ilhas Virgens, México, Panamá, Uruguai, Venezuela: perder é vexame.

Para isso valer, dois jogadores têm papel fundamental neste enredo: o melhor sexto homem da NBA e o primeiro brasileiro a realmente jogar entre os melhores do mundo. Cabe a Leandinho e a Nenê acabar com a dúvida que martela a cabeça de muitos fãs brasileiros do basquete: o que adianta ter representantes nacionais brilhando entre as feras nos EUA e a seleção ter desempenhos vergonhosos, como os incríveis sétimo lugar no último Pré (com Nenê) e 17° no Mundial (com Leandrinho cansando de errar lances livres)?

Cabe à dupla liderar o time em quadra e comandar o Brasil à classificação. É, mais os dois estão sem ritmo. Todo mundo (que interessa) está. Só está em melhor forma quem jogou o Pan (Uruguai e um ou outro dos outros times). Alguns deles brasileiros.

Se não passar deste Pré, o Brasil não passa pela repescagem mundial, com europeus e, no pior cenário, a Argentina completa. Se o time masculino do Brasil voltar a fracassar e ficar por, pelo menos, 16 anos (até 2012) fora dos Jogos Olímpicos, em um dos esportes mais nobres do evento, vai ser preciso mudar tudo. Do elenco, passando por comissão técnica e chegando aos dirigentes.

* * *
Bandejas

* Os Estados Unidos parecem estar tranqüilos em relação à Venezuela, primeiro adversário no Pré-Olímpico (nesta quarta, à meia-noite). O elenco liderado por Kobe Bryant não deve conhecer um jogador adversário sequer. E o editor do site da USA Basketball também não. Venezuela (igual em português e em inglês) virou 'Venezuala' na manchete do site (confere só http://www.usabasketball.com/)

* Será que o Lula do basquete vai repetir o Lula barbudo, que fracassou três vezes seguidas (eleições presidenciais)? Perdeu a vaga olímpica em 2003, parou na primeira fase do Mundial e agora? Vamos torcer para que não.

Marcelo Monteiro mal chega a 1,70m, mas é mortal nas bolas de três. Torcedor fanático do Atlanta Hawks, trabalhou por nove anos em sites das Organizações Globo. Hoje, empresta seus conhecimentos à Textual Assessoria. Escreve sobre basquete às quartas-feiras

A Fênix do Bronx

Alex Rodriguez: marca histórica e liderança nos Yankees (foto: MLB)

Nem nos filmes do bruxo adolescente Harry Potter encontraria-se uma fórmula mágica que possibilitasse uma ressurreição como a que os New York Yankees vêm demonstrando na temporada atual da Major League Baseball, a liga profissional americana. Tal como a fênix, ave mitológica que ressurge das cinzas, o time nova-iorquino vem exibindo uma força de recuperação sobrenatural.

Claro que os Yankees são conhecidos por acontecimentos inexplicáveis em suas campanhas, como, por exemplo, a ajuda dos fantasmas de seus maiores ídolos que já passaram “dessa para uma melhor”, especialmente, quando atua no Bronx. Mas creio que nem o torcedor mais otimista, nem os espíritos do Yankee Stadium, acreditavam que fosse possível reverter uma situação tão desfavorável.

Em meados de julho, período em que há uma pausa para a disputa do Jogo das Estrelas, o time de Nova Iorque estava na vice-liderança de sua conferência na Liga Americana, com 9,5 jogos de desvantagem para o Boston Red Sox, e a oito do Cleveland Indians, na disputa pelo Wild Card, equivalente à repescagem da MLB. Desempenho suficiente para que muitos especialistas já dessem como acabada a temporada da equipe.

Entretanto, com várias seqüências de vitórias no último mês, incluindo a última sobre o Detroit Tigers, nesse domingo, Joe Torre e seus comandados conseguiram reduzir bastante esses números: quatro jogos de diferença para os Red Sox, e meio jogo (Isso mesmo! Meio jogo!) de desvantagem para o Seattle Mariners, novo líder da Wild Card, na Liga Americana.

Na verdade, nunca se deve duvidar de um time que tem o poder de fogo dos Yankees. Alex Rodriguez e companhia nunca deixaram a desejar na parte ofensiva, com o time sempre figurando entre os principais nas estatísticas de ataque. A-Rod, inclusive, além de liderar os números de home runs e corridas impulsionadas, tornou-se o mais jovem jogador a atingir a marca de 500 home runs, aos 32 anos.

E parece que as coisas estão se acalmando, também, na rotação de arremessadores, que vinha se mostrando a grande preocupação da direção da equipe. Não foram poucas as vezes em que o mais tradicional time de beisebol do mundo amargou derrotas mesmo tendo conseguido anotar duas ou mais corridas.

Caso mantenha esse equilíbrio entre defesa e ataque, que já se mostrou tão necessário para os times que almejam grandes conquistas, atrevo-me a dizer que os fãs já podem sonhar com a conquista da vigésima sétima World Series da equipe dos Yankees. Afinal, de nada adiantam os fantasmas, se os “de-carne-e-osso” não fizerem sua parte dentro de campo.

É muito difícil fazer previsões, inclusive se o time conseguirá conquistar sua divisão ou mesmo o Wild Card, mas, pelo menos, os Yankees estão conseguindo ressurgir das cinzas e, a exemplo da fênix, mostrar que não estão mortos! Quer dizer, alguns estão, mas, no Bronx, até os fantasmas entram em campo...

Fernando Andrade passou de fã a companheiro de transmissões de Ivan Zimmerman. Jornalista, trabalhou nas rádios Tupi, Nativa, Jovem Pan e Paradiso. É jogador, treinador e presidente da Federação Carioca de Beisebol e Softbol, e escreve sobre o esporte às quartas-feiras

A volta

Jaime Oncins volta às quadras em setembro (foto: divulgação)

Nesta terça, foi anunciada a volta de Jaime Oncins ao tênis. Ele participará das finais do Troféu Brasil nos dias 8 e 9 de setembro, representando seu clube, o anfitrião Paineiras do Morumby, de São Paulo. Jaime Oncins foi um tenista de resultados internacionais apenas razoáveis. Ganhou dois torneios de simples da ATP em toda sua carreira, um deles em Búzios. Alcançou o auge 15 anos atrás, em 1992, com semifinais de Copa Davis, quartas-de-final em Olimpíadas, oitavas em Roland Garros. Foi ídolo do tênis brasileiro, entretanto. Parou em 2001. Tem 37 anos.

Sou a favor da volta de Jaiminho. Sou a favor também do retorno de Cássio Motta, Fernando Roese e Luiz Mattar. Aproveitaria para tirar Thomaz Koch dos torneios de veteranos e Maria Esther Bueno dos comentários na televisão. Levaria Edison Mandarino de cadeira de rodas para dentro da quadra. Infelizmente, o regulamento não permite a participação de Carlos Santos e Maurício Pommê, campeões no Parapan.

Todos eles, tenho certeza, conquistariam resultados tão expressivos quanto nossos principais jogadores na atualidade. Seriam alvo da curiosidade mundial, pelo menos. Curiosidade esta que passa ao largo do tênis brasileiro pós-Guga, e não há motivo para ser diferente.

A banda passou, a febre acabou, a mídia também. Baixada a poeira, não restaram nem os pôsteres nas paredes da garotada mais abastada. Outros da NBA provavelmente voltaram aos seus lugares. O Brasil não soube capitalizar um número 1 do mundo, tricampeão de Roland Garros. E não foi por falta de dinheiro. Nosso glorioso Troféu Brasil, que todos conhecem (como não?), tem patrocínio da Fiat. Os maiores centros de treinamento do país são particulares. E cobram caro.

A massificação não ocorreu, e não é porque o tênis é um esporte caro. Na Argentina, que possui condições econômicas semelhantes às nossas, brotam tenistas de qualidade. O modelo lá, entretanto, é diferente. Papo para uma futura coluna.

Exemplo da importância dada ao tênis pelos dirigentes esportivos do país, a modalidade não teve sequer uma arena permanente construída para o Pan. Em termos técnicos, foi seguramente uma das mais fracas entre todos os 34 esportes disputados. Medalha de ouro, Flávio Saretta era o 138° no ranking mundial na oportunidade.

Apenas no início de agosto, após o Pan, portanto, o presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), Jorge Lacerda da Rosa, esteve em Brasília para concatenar apoios político e financeiro para um inédito centro de excelência no país, que ficaria em Goiás. Projetos para um bom aproveitamento da Lei de Incentivo ao Esporte, assinada no último dia 3 pelo presidente Lula, começarão a ser pensados a partir deste mês, segundo a CBT. Perder o timing é especialidade da casa.

Quem não perdeu tempo foi Jaiminho, que estará ao lado dos melhores do país atualmente no incógnito Troféu Brasil. Enquanto isso, no US Open, que reúne 128 tenistas, nenhum brasileiro está garantido na chave principal. Não temos representantes entre os 100 melhores do mundo, e só emplacamos três entre os 200 melhores. Mas nem tudo está perdido. Guga ainda não se aposentou, certo?

Infelizmente, a especialidade da casa dele é a mesma da CBT...

Bernardo Calil aprendeu a gostar de tênis pela voz de Rui Viotti na extinta Rede Manchete. Trabalhou como jornalista no UOL, no Globoesporte.com e na Globosat. Hoje, milita em outros fronts. Escreve sobre tênis às terças-feiras

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Inauguração de gala

Pai e filho devidamente paramentado no GP Brasil (foto: Juan Torres)

Certa feita, ouvi de um grande pensador – quiçá de boteco, mas ainda assim um grande pensador – que pode-se conhecer muito de uma pessoa observando de que maneira ela se comporta ao chegar diante de um grupo de desconhecidos. Isso vale daquela reuniãozinha na casa de um amigo distante à internet.

Lembrei logo disso quando soube que ficaria responsável pela coluna de estréia do nosso site. Tudo bem que isso ocorreu apenas por força do calendário. Assim como as dietas, por algum motivo, o nosso site tinha que estrear numa segunda-feira - ok, numa terça. E segunda-feira (!) será dia de hipismo no Por Esporte.

Digressão: por que escolhi trabalhar com cavalos. Motivo número um, pessoal: não entendo nada nem de hipismo nem de turfe. Motivo número dois, profissional: o hipismo brasileiro vem ganhando espaço e conquistando importantes títulos internacionais. E Pequim... é logo ali.

Voltando ao nosso pensador de boteco. Estar no pelotão de frente deste grande time de jornalistas é uma responsabilidade e tanto. Algo que exige chegar logo com uma boa imagem.

E para passar uma boa imagem, nada melhor do que vestir o black-tie. Hoje, tirando o Vanderlei Luxemburgo, pouco se usa terno e gravata no esporte. E esse pouco fica justamente por conta do evento que bate a poeira dos chapéus da cidade e me obrigou a sair cheirando a naftalina: o GP Brasil de turfe, disputado no Hipódromo da Gávea, neste domingo.

O uso do traje de gala não é obrigatório. Quem não for de “passeio completo” tem lugar nas tribunas, mas não a de honra. E eu queria mesmo ver o tão famoso festival de chapéus que costuma colorir o evento.

Decepção. Algumas pessoas, é verdade, estavam mais para estilo Dunga do que Luxemburgo, mas chapéu que é bom, poucos. Muito poucos.

Com isso, sem dúvida, a festa perdeu parte de sua graça. A outra parte está nas apostas. Lá fui eu. Durei cerca de 27 segundos incólume em frente àquela tela que mais parecia o Bloomberg. “É a sua primeira vez?”, pergunta um rapaz de terno e gravata. Sem chapéu. Respondi com o olhar. “Deixe-me explicar como se aposta”, prosseguiu. Era Dalmo Marins, gerente do Turff Bet & Sports Bar. “Quem vem aqui está todos os dias. A gente sabe de cara quem é iniciante”, justificou-se. Com a sua paciente explicação, aquela TV aos poucos deixou de parecer o Bloomberg e eu resolvi apostar. Mentira. Eu não. Uma amiga que me acompanhava. Em menos de dois minutos, dois reais transformaram-se em 43 e uns quebrados. “Começamos bem o blog”, pensei.

De volta à tribuna, restava esperar a largada. O GP Brasil é o sétimo páreo do dia, que tem 12 no total. Eram 16h30 quando o corneteiro Pablo Demétrio deu o toque de anúncio para a grande prova. O jóquei J. Ricardo, com Quatro Mares, era um dos favoritos. Hoje morando em Buenos Aires, Ricardinho tentava seu tricampeonato na maior prova do turfe brasileiro. Mas chegou em quinto e não conseguiu levar para casa o pequenino troféu – os dois maiores vão para o criador e proprietário. Quem primeiro cruzou o disco foi Vagner Leal, montando L’Amico Steve, o segundo favorito entre os apostadores.

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Não importa quanto corram, levarão chicotadas. Eles devem saber que têm que correr e que, quanto mais correrem maior será a recompensa, seja em forma de afeto ou alfafa, mas será que sabem que o objetivo é chegar na frente dos demais? Será o último colocado um quadrúpede frustrado? Respostas, por favor, psicólogos veterinários de plantão.

Juan Torres andou poucas vezes a cavalo. Hoje, é colaborador de publicações da Editora Abril. Foi repórter do site Globoesporte.com e coordenou o serviço de notícias do Pan 2007 no Maracanãzinho. Escreve sobre esportes hípicos às segundas-feiras