terça-feira, 21 de agosto de 2007

Inauguração de gala

Pai e filho devidamente paramentado no GP Brasil (foto: Juan Torres)

Certa feita, ouvi de um grande pensador – quiçá de boteco, mas ainda assim um grande pensador – que pode-se conhecer muito de uma pessoa observando de que maneira ela se comporta ao chegar diante de um grupo de desconhecidos. Isso vale daquela reuniãozinha na casa de um amigo distante à internet.

Lembrei logo disso quando soube que ficaria responsável pela coluna de estréia do nosso site. Tudo bem que isso ocorreu apenas por força do calendário. Assim como as dietas, por algum motivo, o nosso site tinha que estrear numa segunda-feira - ok, numa terça. E segunda-feira (!) será dia de hipismo no Por Esporte.

Digressão: por que escolhi trabalhar com cavalos. Motivo número um, pessoal: não entendo nada nem de hipismo nem de turfe. Motivo número dois, profissional: o hipismo brasileiro vem ganhando espaço e conquistando importantes títulos internacionais. E Pequim... é logo ali.

Voltando ao nosso pensador de boteco. Estar no pelotão de frente deste grande time de jornalistas é uma responsabilidade e tanto. Algo que exige chegar logo com uma boa imagem.

E para passar uma boa imagem, nada melhor do que vestir o black-tie. Hoje, tirando o Vanderlei Luxemburgo, pouco se usa terno e gravata no esporte. E esse pouco fica justamente por conta do evento que bate a poeira dos chapéus da cidade e me obrigou a sair cheirando a naftalina: o GP Brasil de turfe, disputado no Hipódromo da Gávea, neste domingo.

O uso do traje de gala não é obrigatório. Quem não for de “passeio completo” tem lugar nas tribunas, mas não a de honra. E eu queria mesmo ver o tão famoso festival de chapéus que costuma colorir o evento.

Decepção. Algumas pessoas, é verdade, estavam mais para estilo Dunga do que Luxemburgo, mas chapéu que é bom, poucos. Muito poucos.

Com isso, sem dúvida, a festa perdeu parte de sua graça. A outra parte está nas apostas. Lá fui eu. Durei cerca de 27 segundos incólume em frente àquela tela que mais parecia o Bloomberg. “É a sua primeira vez?”, pergunta um rapaz de terno e gravata. Sem chapéu. Respondi com o olhar. “Deixe-me explicar como se aposta”, prosseguiu. Era Dalmo Marins, gerente do Turff Bet & Sports Bar. “Quem vem aqui está todos os dias. A gente sabe de cara quem é iniciante”, justificou-se. Com a sua paciente explicação, aquela TV aos poucos deixou de parecer o Bloomberg e eu resolvi apostar. Mentira. Eu não. Uma amiga que me acompanhava. Em menos de dois minutos, dois reais transformaram-se em 43 e uns quebrados. “Começamos bem o blog”, pensei.

De volta à tribuna, restava esperar a largada. O GP Brasil é o sétimo páreo do dia, que tem 12 no total. Eram 16h30 quando o corneteiro Pablo Demétrio deu o toque de anúncio para a grande prova. O jóquei J. Ricardo, com Quatro Mares, era um dos favoritos. Hoje morando em Buenos Aires, Ricardinho tentava seu tricampeonato na maior prova do turfe brasileiro. Mas chegou em quinto e não conseguiu levar para casa o pequenino troféu – os dois maiores vão para o criador e proprietário. Quem primeiro cruzou o disco foi Vagner Leal, montando L’Amico Steve, o segundo favorito entre os apostadores.

***

Não importa quanto corram, levarão chicotadas. Eles devem saber que têm que correr e que, quanto mais correrem maior será a recompensa, seja em forma de afeto ou alfafa, mas será que sabem que o objetivo é chegar na frente dos demais? Será o último colocado um quadrúpede frustrado? Respostas, por favor, psicólogos veterinários de plantão.

Juan Torres andou poucas vezes a cavalo. Hoje, é colaborador de publicações da Editora Abril. Foi repórter do site Globoesporte.com e coordenou o serviço de notícias do Pan 2007 no Maracanãzinho. Escreve sobre esportes hípicos às segundas-feiras

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente muito bom o artigo, tendo sido escrito por alguém que ia por primeira vez num evento hípico. Demonstra uma sensibilidade especial de alguém que possui um dom especial para escrever de uma forma simples mas com profundidade, com evidente poder para transmitir seus pensamentos em forma clara e objetiva. Vai longe!!