domingo, 26 de agosto de 2007

O melhor amigo do Pessoa

O conjunto refuga, o Baloubet leva a fama (foto: Olympics.org)

Notei que o editor deste site pôs ali no elenco um “Odisseu Kapyn, o mito :: humor”. Não concordo com isso. Não pelo “mito”, que é realmente uma alcunha que vem me acompanhando muito ultimamente. O problema ali é o “humor”. Não venho aqui fazer graça. O que combinei com o editor era que iria sempre discorrer sobre alguma prática que não deveria ser chamada de “esporte” e, vez em quando, de outra que merecia ser melhor estimada no mundo desportivo.

Isso porque não sou como os outros nobres colegas do Por Esporte, viciados em assistir às mais diversas prática físicas a ponto de ficarem cegos à verdadeira natureza de seus hobbies. Por não ser jornalista esportivo, por não ser um “homem de esportes” (o que me conta pontos na hora de conquistar uma fêmea), sou capaz de apresentar uma visão imparcial do assunto. Dito isto, vamos à primeira desmitificação:

O HIPISMO

O hipismo é um esporte? Sim, claro. Para os cavalos. São esses nobres animais que fazem todo o esforço no hipismo. São eles que saltam, que correm, que trotam, que dão cambalhotas, que refugam. São os responsáveis por todo o espetáculo. No entanto, quem recebe os louros são os cavaleiros e amazonas. Aliás, os louros seriam muito mais úteis, gastronomicamente falando, aos nossos atletas ruminantes.

O papel de protagonista desses quadrúpedes só é confessado nos momentos inglórios. Quando, no último dia dos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, Rodrigo Pessoa “falhou” em dar ao Brasil sua única medalha de ouro, quem foi apontado como culpado? “Baloubet du Rouet refugou”, apontavam todos os dedos críticos. Então, a medalha não veio por causa do cavalo, não é mesmo? E se o ouro olímpico viesse nos resgatar das profundezas do quadro de medalhas? Quem seria o herói? Cavalo ou pessoa? Pessoa ou Baloubet? Pessoa, decerto. Sempre a pessoa.

Vejam bem, não estou dizendo que os cavalos fariam tudo sozinhos se fossem soltos na pista. Quer dizer, não sei o que aconteceria se acrescentassem folha de coca e de cannabis sativa às de alfafa. Talvez eles até saíssem desacompanhados saltando obstáculos, com direito a dançar um sambinha ao zerar o percurso, ou um fox-trote. Como há o doping para os cavalos (Mais uma prova de que os bichos são importantes. O doping para quem os monta é mera formalidade), vamos ter que continuar deixando o bom senso nos dizer que os cavaleiros e amazonas têm sua função na competição.

Sem dúvida, os humanos têm lá sua cota de reconhecimento no hipismo. Eles são corajosos por montarem um animal tão perigoso, capaz de aleijar o Super-Homem em seu disfarce de Christopher Reeve (dizem que o nome do cavalo era Kriptonita, mas eu não acredito).

Não escondo certa admiração por pessoas tão bravas. Só não me peçam para chamá-los de atletas. De jeito nenhum. Quero vê-los saltar aqueles troncos e laguinhos sem suas montarias. Iam se espatifar no chão e rogar por clemência, pedindo para não serem sacrificados devido a suas lesões.

Como se não bastasse o hipismo “normal”, ou seja, a prova de saltos, existe uma aberração maior no universo eqüino desportivo. Fico até constrangido por comentar as provas de adestramento, nas quais é preciso que os bichinhos façam uma espécie de coreografia. É nessa hora que o conceito de esporte leva o coice fatal. A modalidade não é atlética nem para os animais que estão sendo avaliados.

Tenho certeza de que os próprios cavalos consideram aquilo algo como um desfile de moda. Sem ofensas às modelos, ok? Sabemos que elas são mais articuladas que os cavalos, pelo menos. Mas o fato é que no adestramento nem quem faz o esforço físico pode ser chamado de esportista. Os cavalos, esses belos e impetuosos espécimes da fauna internacional, são rebaixados ao nível dos poodles de competição. Só falta fazer trancinhas e rabos de cavalo.

E por falar em competições caninas, tão comuns na programação do canal Animal Planet, vamos ser justos. Se adestramento é modalidade olímpica, vamos agora mesmo providenciar as medalhas para os treinadores de agility, que vêm sendo subestimados todo esse tempo ao lado de seus cães campeões em entrar e sair de túneis e ziguezaguear e pular obstáculos.

Seria também uma boa política com a terceira idade, tirando do tiro esportivo toda a responsabilidade de distribuir medalhas a velhinhos. Aliás, aguardem em breve uma análise sobre o tiro esportivo.

Odisseu Kapyn é garanhão de uma fêmea só. Ganhou fama no Cocadaboa. Hoje, escreve na Revista M e no blog Humor Marrom, e apresenta o Ponto Cômicos, grupo de comédia Stand Up em cartaz no Saloon 79, no Rio. Faz suas gracinhas aos domingos no Por Esporte.

Nenhum comentário: