sábado, 8 de dezembro de 2007

Fim de uma novela, começo de outra

Varejão: lua-de-mel com a torcida pode ter terminado (foto: AP/Mark Duncan)

Por Marcelo Monteiro

Fim da novela. Uma novela marcada por muita discussão, brigas, um suposto vilão a impedir o “casamento”, flertes com outros “amores”, blefes, emoção, reviravoltas e, no fim, os dois protagonistas terminam juntos, felizes para sempre. Felizes? Para sempre?

Anderson Varejão e Cleveland Cavaliers discutiram por meses a renovação do contrato do jogador. Aparentava ser uma negociação simples. O clube estava satisfeito com o atleta, que parecia também demonstrar alegria em jogar pelo clube, e a torcida queria sua permanência. Mas o dinheiro entrou na jogada e “contaminou” a relação que parecia ser um conto de fadas.

Contratado pelo brasileiro, o agente Dan Fegan, detestado pela maioria dos dirigentes de times da NBA, teria feito um pedido inicial de US$ 52 milhões por seis anos de contrato (8,6 milhões por temporada), segundo a imprensa dos EUA. O Cleveland achou a proposta absurda e ofereceu US$ 32 milhões por cinco anos (6,4 milhões por temporada). Foi a vez de o brasileiro rejeitar. Depois, o Cavs acenou com US$ 1,2 milhão por uma temporada. Pouco mais do que Varejão embolsou na temporada passada (US$ 945 mil). Também recusada.

Quando já se comentava nos EUA que o brasileiro iria recorrer a um tribunal para tentar se livrar do Cleveland, surgiu a esperança: na terça-feira, dia 4, o Charlotte Bobcats apresentou uma proposta de US$ 17 milhões por três anos (5,6 milhões por temporada), com a possibilidade de o jogador ser liberado do clube após o segundo ano de contrato. Varejão topou.

Pelo fato de o ala-pivô ter passe livre restrito, o Cleveland tinha o direito de igualar a oferta e ficar com o jogador. Tinha uma semana para decidir. Precisou apenas de um dia: aceitou pagar o valor, com a mesma cláusula de liberação.

Quem saiu vencedor da negociação? Na minha opinião, nenhuma das partes. O Cleveland Cavaliers vai pagar menos do que chegou a oferecer ao jogador, mas terá “sob controle” um atleta de muito potencial por apenas duas temporadas.

Varejão passa a ter um ótimo salário (o mesmo de Leandrinho no Phoenix) e poderá aumentá-lo daqui a dois anos, se mostrar evolução, o que é provável. Vai jogar em um elenco bem melhor que o do Charlotte, onde certamente comemoraria um número bem menor de vitórias. Mas o desfecho não deve ter lhe agradado. Afinal, ele disse que gostaria de jogar em uma outra equipe. Fora isso...

Se não houve vencedor, pode-se se dizer que alguém perdeu? Para essa resposta, marcaria um X em uma das alternativas: Anderson Varejão perdeu mais com a novela.

Sua imagem com a diretoria do clube, com os demais jogadores do Cavs e com a torcida está seriamente abalada. Com os dirigentes, por motivos óbvios e nem tão graves: tentou se valorizar ao máximo, contratou um dos agentes mais duros da NBA e volta com um contrato bem reajustado e flexível.

Com os colegas de time, deverá encontrar um clima pouco amistoso. Na semana anterior ao acordo, o brasileiro concedeu uma entrevista ao site ESPN.com, afirmando que estava ganhando bem menos do que outros atletas do elenco que não tinham conseguido em quadra um desempenho tão bom quanto o dele. Uma declaração obviamente mal recebida.

"Acho que ele constrangeu alguns de nós de um modo errado. Uma das coisas que você não faz nessa liga é comparar sua situação com a de outro, porque todos são diferentes. Quase não acredito que ele disse isso, porque antes ele havia dito que adora todos seus companheiros", afirmou um atleta do Cavs, sem ser identificado, ao diário "Plain Dealer", e citado pelo UOL.

Com a torcida, também deverá encarar um ambiente adverso. Se, na temporada passada, era um dos favoritos da galera - muitos torcedores vestiam nos jogos uma peruca simulando sua cabeleira -, agora precisará jogar muito para não ouvir vaias. O torcedor típico não entende que o atleta é profissional. Tem que jogar por amor ao clube. Se manifesta o desejo de sair, é mercenário. E a tendência é que o atleta, que perdeu a pré-temporada da equipe, leve tempo para entrar em forma.

Varejão volta às quadras em um outro patamar. Com mais dinheiro no bolso, mas também com muito mais responsabilidade. E não será recebido com sorrisos nos rostos (se surgirem, serão falsos). Terá que convencer dirigentes, colegas e torcedores. E até os árbitros, orientados pela liga a punir faltas cavadas, uma das especialidades do brasileiro. É um desafio. Uma nova novela começa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marcelo presico muito da sua ajuda!!!
vc same me explicar, como Dwyane Wade está conectado à primeira edição do Rock in Rio (1985)?

abs