quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Cartas na mesa

Os marketeiros da Red Bull e a Renault correm na frente por Alonso

Por Otto Jenkel

Começa a se aproximar o momento de decisão de Fernando Alonso. Para onde, afinal, o espanhol irá correr em 2008? Restam cinco opções: Renault, Red Bull, Toyota, BMW Sauber e Honda. Quais seriam os prós e contras de cada uma delas?

RENAULT

Esta seria a opção mais natural e a menos arriscada para o espanhol. A Renault teve um mau ano em 2007, sem obter uma mísera vitória. Mas Alonso é o típico piloto que consegue levantar a performance de uma equipe graças a seus conhecimentos técnicos. É bom lembrar que a McLaren não venceu nenhuma prova em 2006, e com a chegada do espanhol, a equipe teve uma subida de produção acentuada. O mesmo pode acontecer caso ele volte à Renault.

A história da Renault na F1 foi dividida em duas fases. A primeira, que começou em 1977, representou o pioneirismo na introdução do motor turbo na F1. Os franceses, a princípio, chegaram a ser ridicularizados, principalmente pelas equipes inglesas, por mal conseguirem concluir as provas, por inúmeras falhas no turbo, quanto mais vencê-las. Foram dois anos de sacrifício, até que no GP da França de 1979, Jean Pierre Jabouille deu à Renault, sua primeira vitória na F1.

Curiosamente, o primeiro título de motores turbo na F1 não iria para a Renault e sim para a BMW, em 1983, que havia estreado esses motores apenas um ano antes. Um duro golpe para os franceses, que não se recuperariam até se retirar da F1 em 1985. Essa retirada não incluiu os motores, que foram campeões com a Williams em 1992, 1993, 1996 e 1997, e com a Benetton, em 1995. Esta passou a ser a equipe oficial da Renault sob o comando de Flávio Briatore.

Em 2002, a Benetton deixou de existir e passou a ser denominada Renault de fato. Mas boa parte dos mecânicos e da equipe técnica continuaram. Começava a segunda fase, que teve em 2003 a contratação do piloto que a levaria a atingir seus vôos mais altos, Fernando Alonso. Era o casamento perfeito. Se a Ferrari teve Schumacher, a Renault tinha Fernando Alonso, que terminou bicampeão em 2005/2006. Com o desquite com a McLaren, Briatore tem certeza que Alonso é o único piloto capaz de fazer os franceses de novo campeões. E está fazendo tudo para convencê-lo a voltar.

RED BULL

A equipe do milionário austríaco Dietrich Mateschitz parecia ser nessas últimas semanas a opção mais provável para Fernando Alonso. A Red Bull vê no espanhol o piloto perfeito para que ela dê o "pulo do gato" que levaria a equipe a ser o que a Benetton conseguiu quando contratou Michael Schumacher em 1991. Até então, a Benetton, uma grife de roupas italiana, não era levada muito a sério e, mesmo quando contratou Nélson Piquet em 1990, não parecia ter cacife para disputar um título mundial. Mesmo porque, era evidente que Piquet estava no final de sua carreira e não teria tempo para um projeto a longo prazo. Schumacher era o piloto perfeito e tinha ainda a juventude a seu lado. Foi bicampeão pela Benetton em 1994 e 1995, e depois foi para a Ferrari. Para a Benetton, era o princípio do fim que chegaria em 2001.

A Red Bull, assim como a Benetton, também não é levada muito a sério. A equipe da bebida energética sabe usar como ninguém o marketing para divulgar seu patrocinador, que neste caso leva o próprio nome do carro. É uma equipe ímpar na F1, que já colocou personagens da série "Guerra nas Estrelas", patrocinado pela Red Bull, desfilando nas ruas de Monte Carlo, numa mistura inimaginável. Por outro lado, no plano esportivo, que é afinal o que interessa, teve como melhor resultado apenas um terceiro lugar com David Coulthard em Mônaco, em 2006, e outro com Mark Webber em Nürburgring este ano.

O risco para Alonso é que, por mais talentoso que seja, dificilmente conseguirá elevar de maneira considerável o nível da equipe em apenas um ano. Disputar o título então, é impossível. Como o espanhol parece não se interessar por um contrato mais longo com a Red Bull, o casamento pode parecer apenas uma mera formalidade, com a data de encerramento já anunciada para 2009.

TOYOTA

Com um orçamento calculado em 600 milhões de dólares anuais, só inferior à McLaren Mercedes com seus inatingíveis 800 milhões, a equipe japonesa até hoje ainda não conseguiu se firmar como uma força na F1. A vinda de um piloto do porte de Fernando Alonso, que surgiria como um verdadeiro "Messias", seria a esperança final para que os japoneses não façam as malas e voltem de vez para o arquipélago nipônico.

Desde que estreou na F1 em 2002, a Toyota teve anos desastrosos, com a exceção de 2005, quando terminou em quarto lugar no Mundial de Construtores. Foi também o ano em que obteve seus melhores resultados em corridas: dois segundos lugares, na Malásia e no Bahrein, ambos com Jarno Trulli. Números pouco significativos para uma equipe que já tem mais de 100 gps e com um orçamento quase sem limites.

Talvez esta seja a única cartada da equipe para cativar Fernando Alonso: dinheiro. Porque, entre as outras opções, é a que está mais longe de se tornar uma equipe de ponta. Com certeza, o espanhol terá muito mais trabalho em elevar o patamar da equipe do que em qualquer outra. Pior do que isso: para que se torne possível essa evolução, somente um contrato longo, de no mínimo três anos, interessaria aos japoneses, já que esse processo de equipe média para grande requer tempo. E se prender a um contrato longo é tudo que Alonso não quer, por enquanto. De todas, parece ser a opção menos provável do espanhol. Mas com uma oferta irrecusável, nunca se sabe.

BMW SAUBER

Se Fernando Alonso levar em consideração a possibilidade de crescimento de uma equipe e mais o seu desempenho no último campeonato, a BMW Sauber surgiria como franca favorita para ter em seu cockpit o espanhol em 2008. Um problema para a equipe germânica seria se livrar de um de seus (ótimos) pilotos. Nick Heildfeld parece intocável, por ser alemão e por ter sido, fora o G4 (Raikkonen-Hamilton-Alonso-Massa), o melhor piloto no Mundial de 2007. Acabaria sobrando para o polonês Robert Kubica, que surge como um dos melhores da nova geração na F1, mas que não resistiria à pressão da chegada de um piloto do quilate de Alonso.

O crescimento da equipe tedesca tem sido surpreendente. Após conquistar o primeiro título de um motor turbo na F1 em 1983, os alemães se retiraram da categoria no final dos anos 80. Voltaram fornecendo motores para a Williams em 2000. Juntos, venceram 10 GPs em 6 anos, mas acusações mútuas entre as partes fizeram a BMW comprar a pequena equipe suíça Sauber e montar a sua própria equipe em 2006. Já no ano de estréia obteve um bom quinto lugar, e em 2007, um excelente terceiro, que virou segundo com a desclassificação da McLaren.

Falta pouco para a equipe chegar ao patamar de uma Ferrari ou uma McLaren. Mas falta. Para romper essa barreira nada melhor do que ter um bicampeão do mundo ao seu lado. No entanto, essa não é a opinião geral dentro da BMW. Alguns membros acreditam que Alonso seria uma figura estranha dentro de uma equipe com uma forte tendência nacionalista. Além de Heildfeld, a BMW tem o talentoso alemão Sebastian Vettel, piloto de testes, que está "emprestado" à Toro Rosso. O próprio Kubica, embora polonês, fez toda a sua carreira nas categorias de base alemãs e, portanto, é considerado da casa.

HONDA

Esta opção surgiu nos últimos dias e pegou muita gente de surpresa. A contratação de Ross Brown, ex-diretor técnico da Ferrari, acabou por colocar lenha na fogueira. O problema é que a entrada de Alonso já implicaria na demissão imediata de um de seus pilotos, Jenson Button ou Rubens Barrichello. Se levarmos em consideração o pífio desempenho em 2007, o brasileiro pode estar com a batata assando. Mesmo porque, como diz uma velha máxima na F1, "contratos foram feitos para serem rompidos".

A Honda teve uma breve passagem pela F1 nos anos 60 e obteve duas vitórias. Só voltaria como equipe em 2006, quando comprou a BAR, a quem fornecia motores desde 2000. Já no primeiro ano de existência, conseguiu o que a BAR não conseguiu em seis: uma vitória, Jenson Button no GP da Hungria. Foi uma ótima temporada, com o quarto lugar obtido no fim do Mundial. O ano de 2007 parecia ainda mais promissor.

Mas não foi. Com um horrível carro pintado com as cores da Terra, um protesto contra a poluição do planeta (tem local menos propício para falar sobre isso do que um carro de corridas?), o projeto não poderia ter dado mesmo certo. O Honda foi muito bem apelidado de "tartaruga ecológica" e se afogou, literalmente, terminando o mundial em oitavo lugar, atrás até da pobre Toro Rosso. Button somou oito pontos. Barrichello, nada.

Alonso, como em todos os casos anteriores, seria o salvador da pátria, o "Messias", como queiram chamar, e a contratação de Ross Brown pode servir de estímulo para o espanhol. Com um orçamento apenas inferior ao da McLaren e da Ferrari, seria uma boa opção para que o espanhol não tenha um ano sabático.

RETIRADA

Ano sabático. Esta é uma expressão muito utilizada no automobilismo quando um piloto faz uma retirada estratégica, quando vê que está sem opções para o ano seguinte. O caso mais famoso foi o de Alain Prost, que foi demitido da Ferrari em 1991 e preferiu ficar sem correr em 1992, assinando, secretamente, um contrato com a Williams Renault em 1993. O truque deu certo, Alain acabou sendo campeão e se retirou das pistas definitivamente.

Esta seria uma opção arriscada de Alonso. O caso de Prost não deve serrvir de exemplo, porque a Williams teve um carro muito superior aos demais naquele ano e ficou claro que o francês já não era o mesmo piloto de antes, mesmo sendo campeão. Ficar um ano parado prejudicaria não só as habilidades físicas do piloto, como o próprio conhecimento técnico em um esporte que evolui com enorme rapidez.

Alonso dificilmente não estará no grid do GP da Austrália de 2008. Mas em qual equipe? Façam suas apostas, as cartas estão na mesa.

Otto Jenkel trabalhou no FOCA TV, cobrindo o GP do Brasil, quando a prova era disputada no Rio. Acompanha Fórmula 1 desde meados da década de 70, "quando a F1 era perigosa e o sexo seguro, hoje inverteu". Escreve sobre Fórmula 1 às segundas-feiras.

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