Que a seleção brasileira feminina de vôlei tem fracassado seguidamente em momentos decisivos das principais competições, não se discute. Discordo completamente, entretanto, do fato de tirarem dois componentes da equipe para "Cristo": o técnico José Roberto Guimarães e, principalmente, a atacante Mari.
Não que eles não tenham parcela de culpa pelas derrotas nas Olimpíadas (2004), Mundial (2006) e Pan-Americano (2007). Todas as jogadoras e integrantes da comissão técnica possuem alguma responsabilidade, mas crucificar ambos é exagero.
Primeiro, porque os argumentos que usam para derrubar José Roberto Guimarães são lamentáveis. “Ele é muito calmo, tem de berrar igual ao Bernardinho”, é o que os críticos costumam dizer.
Ora, esse mesmo sujeito tranqüilo e calmo foi responsável por um dos maiores momentos do Brasil na modalidade, dirigindo a brilhante seleção brasileira que trouxe a medalha de ouro na Olimpíada de Barcelona, em 1992. Revolucionou, naquele momento, o vôlei masculino, em uma equipe que somente o meio-de-rede Paulão não atacava do fundo.
Tempos depois, assumiu a seleção feminina um ano antes dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, contornando uma enorme crise pela qual o time passava, com as principais atletas brigadas com seu antecessor. Desde então, seu time foi longe em todos os torneios que disputou.
É evidente que não conseguiu as conquistas expressivas, mas, convenhamos, ele não pode entrar em quadra e bater uma bola para fechar o set ou o jogo. Se a seleção faz 14 a 11 e não vira uma bola decisiva no quinto set, é muito mais culpa das jogadoras do que do treinador. Cabe a Zé Roberto, mais do que nunca, trabalhar a cabeça das atletas, para a seleção deslanchar.
Deslancharia muito mais fácil se Mari estivesse presente. Do Grand Prix, que está em sua fase final na China, ela não faz parte, pois foi cortada depois do vice no Pan-Americano, com Sheila e Renatinha ocupando a posição.
O que reforçou a tese de que a oposto Mari era a culpada pelas “amareladas” do time. Mas, então, uma pergunta: como alguém que foi reserva na decisão diante de Cuba e mal jogou foi a culpada pela derrota no Maracanãzinho? E a titular da posição, a Sheila, que errou os pontos decisivos no set final?
Mas se agarram ao fato de Mari ter participado da infeliz semifinal olímpica de 2004, contra a Rússia, em que o Brasil fez 24 a 19 para fechar o jogo no quarto set e ela, sim, errou pontos decisivos. A atacante era a novata da seleção – primeira participação - e chamou a responsabilidade, tendo sido disparada a melhor jogadora da campanha.
Só acontece que ela tem uma expressão serena, não vibra muito nos pontos, o que irrita alguns locutores esportivos e, conseqüentemente, os torcedores. Desta forma, a “alegre” Virna, que errou tudo contra a Rússia o jogo todo, é perdoada e não recebe a alcunha de “amarelona”, que fica apenas com a Mari.
Repito: ela também tem parcela de culpa nas derrotas, assim como Zé Roberto, mas não é justo crucificar os dois. Para Pequim 2008, espero que a oposto esteja novamente na lista do treinador, já que ela é uma das grandes revelações do vôlei nos últimos tempos, uma jogadora completa e que tem muito a contribuir.
diz ser mais bonito, mas ainda não foi descoberto por Bernardinho. Trabalhou na Globo.com e na Topsports. Atualmente, é editor-chefe da MBPress. Escreve sobre vôlei às quintas-feiras.
3 comentários:
Oi Cauê! Acho até que a Mari dá umas amareladas de vez em quando, mas não é só ela. As outars amarelam mais ou tanto quanto. Então, se o motivo do corte é o tal "amarelar", deveria renovar a seleção inteira...
Pelo que fiquei sabendo, a Mari foi cortada não por esse motivo, mas sim porque o grupo estava insatisfeito com as reclamações e questionamentos dela.
Beijos e parabéns pela coluna!
Acredito que quando falamos em "amareladas", esquecemos quase que totalmente do time que está do outro lado da quadra - sejam a Rússia, com a poderosa Sokolova, ou as fortes, fisicamente, cubanas, com aquele time aos trancos e barrancos. Não que as meninas não tenham amarelado nas decisões, principalmente em Atenas, mas nos últimos pontos no Pan o que se viu foi uma seleção brasileira que não conseguia encaixar o ponto final e uma seleção cubana com um ótimo volume de jogo, defendendo tudo.
Em relação a Mari, no primeiro jogo do Pan eu, particularmente, achei que ela fez uma partida ótima, na posição certa: a de oposto. Mari tem uma péssima recepção, como oposto, livre de receber saques, fica mais à vontade. Pelo menos muito mais do que a Renatinha, por quem até tenho simpatia no Rexona, mas não na seleção. No segundo jogo do Pan, ela foi mal e pro banco. E não saiu mais de lá. O motivo do corte dela, claramente, não foi pela "amarelada". Ou, pelo menos, não somente por isso. Pelo que dizem as más línguas, houve briga. Falam até em romance proibido entre jogadoras. Se fosse por amarelada, depois de ter errado muito no jogo contra as russas em Atenas, Mari nunca mais voltava a vestir a amarelinha. Creio que ela ainda volte para a seleção. Cá pra nós, há muito mais chances disso acontecer do que o Ricardinho voltar para a seleção masculina ...
Parabéns pelo blog !
Concordo em gênero, número e grau. Principalmente em gênero pq, se é para falar de vôlei, que fale do feminino pelo menos. Mas aí, sou mais a Paula Pequeno que a Mari... Prefiro mais carne!!
Boa coluna, Cauê.
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