segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Tempo que não volta mais

Maradona encantou o mundo no Napoli (foto: La Gazzetta dello Sport)

Lembro como se fosse hoje o dia em que meu pai chegou em casa com o presente tão aguardado: a camisa do Napoli. Pirata, um modelo da Dell’erba, marca que chegou a patrocinar o Santos e que ganhava dinheiro reproduzindo por aqui os uniformes dos times europeus, provavelmente sem autorização.

Naquela época, início dos anos 90, nem o rubro-negro do Milan me seduzia. Eu só queria saber de Maradona, Careca e Alemão, com narração de Silvio Luiz e comentários do Silvio Lancelotti. Tinha certeza absoluta que tudo que o cozinheiro falava sobre os jogadores durante a transmissão – como prato preferido, nome do pai, faixa no judô ou número da chuteira - estava escrito no verso dos cards do Campeonato Italiano que eu colecionava. Um dia ainda vou aprender a língua e tentar desmascará-lo.

Maradona, Careca e Alemão. Três estrangeiros e nada mais. De cabeça, é mole lembrar os gringos de outras equipes: Van Basten, Rijkaard e Gullit, os holandeses do Milan; Matthaus, Brehme e Klinsmann, os alemães da Internazionale. Agora, só de brasileiros, o Milan tem oito. E nem me interessa, de verdade, saber de cor os nomes de todos eles. Acabou o romantismo.

O Napoli, meu Napoli, Napoli de Maradona, Napoli de careca, Napoli até do Caio, está de volta à Série A. Caiu em 2001, faliu, chegou à Terceirona, ressuscitou e tenta ser grande de novo. Começou mal, com derrota em casa por 2 a 0 para o Cagliari. Não tem a mesma magia daquela época da camisa da Dell’erba, mas a história não se apaga.

O presente do meu pai já não cabe mais em mim. Mas dei um jeito: comprei a réplica da camisa usada pelo Napoli na campanha do título de 1989/1990, com patrocínio da Mars e logo da NR. Nas costas, o número 10 e o nome de Maradona. Quem dera se ainda fosse assim.

***


Não sou mais a criança que ganhou aquele presente, mas estou todo bobo com a nova camisa da minha coleção (iniciada com aquela da Dell'erba, por sinal): da Udinese, da temporada 83/84.

Trata-se, apenas, do modelo usado no primeiro ano de Zico pelo clube italiano. Com ela, o Galinho fez 19 gols - apenas um a menos que o artilheiro Platini, da gigante e campeã Juventus.

Para aqueles que dizem que o Zico era jogador só de Maracanã, recomendo o DVD da Placar sobre o craque. Produção italiana, o vídeo tem mais imagens do Galinho pela Udinese do que pelo Flamengo. O que poderia ser decepcionante, acaba sendo recompensador, pois mostra como o camisa 10 marcou a história de um clube pequeno em apenas dois anos por lá.

Thiago Dias costuma ser interrompido no cinema em ligações de jornalistas gringos. Trabalhou no Lance. Hoje, é repórter do Globoesporte.com. Cobriu o título mundial do Inter e prepara um livro sobre o assunto. Escreve sobre futebol internacional às segundas-feiras.

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto emocionante cara. Eu também torcia pelo Napoli. Até hoje fico arrepiado quando escuto a narração de Silvio Luiz gritando "Careconeee".

Parabéns.