quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O Pré-Olímpico e suas lições

Quem chamou Nezinho? (Foto: divulgação)

Ofuscado pelos seguidos sucessos do vôlei (e pelas seguidas frustrações que gerou nos brasileiros), o basquete voltou a despertar atenção com a luta da seleção brasileira masculina em disputar os Jogos Olímpicos depois de ficar ausente das duas últimas edições. Com maior número de pessoas de olho nas atuações da equipe, o tema vira assunto nas conversas entre amigos. Os comentários são os mais variados, mas alguns se repetem com freqüência: Lula é um péssimo treinador. Marcelinho amarela nos momentos decisivos. O Nenê da seleção não é o mesmo Nenê do Denver Nuggets.

Uso este espaço para revelar minhas opiniões sobre o que seleção mostra no Pré-Olímpico. E você está convidado a comentar no link abaixo. Vale discordar de tudo. O importante é aumentar o debate sobre o basquete brasileiro.

Marcelinho: É um excelente arremessador de três pontos. Ponto. Não adianta cobrar do jogador que lidere a equipe em quadra, que decida as partidas (até já conseguiu isso – Turquia no Mundial de 2002), que pare a bola na hora da dificuldade e organize o time. Ele não tem essas características. É um jogador de estilo antigo. Seria um supercraque se jogasse nos anos 70, 80, quando bastava para um jogador arremessar muito bem, sem ter que se preocupar com defesa, em jogar para o time, conhecer as características dos adversários etc.

Nenê: A impressão que joga menos na seleção do que no Denver (toda hora ouço algo parecido em relação a um craque de seleção brasileira de outro esporte) é fruto muito do próprio comportamento do pivô em relação à seleção. Nenê sempre teve uma posição crítica em relação ao comando da CBB e chegou a dizer que não defenderia mais a equipe enquanto a atual diretoria mandasse na entidade. Ok. É um direito do jogador recusar uma convocação (se está certo ou não é outra história). Mas seus argumentos eram tão genéricos que prejudicavam sua luta, que tinha razões a serem avaliadas com atenção.

Assim, ficou fora dos últimos dois Mundiais (contusões foram os motivos oficiais), não podendo mostrar seu jogo para a torcida com a camisa amarela. Antes deste Pré-Olímpico, praticamente só defendeu a seleção no Pré de Porto Rico-2003, quando decepcionou junto com toda a equipe.

Nezinho: Não tem culpa de ser convocado. Não tem jogo para atuar pela seleção, mas se o treinador o chama, o que ele deveria fazer? Convocar a imprensa e ler um comunicado oficial em que agradece a confiança do treinador, mas que não tem condições de vestir a camisa nacional? Óbvio que não. O problema não está com ele. Para quem teve que aturar Demétrius e Ratto por anos, não chega a ser uma novidade ver Nezinho na lista de convocados.

Lula: É um ótimo comentarista, sabe se expressar muito bem nas entrevistas, mas na beira da quadra... Para quem criticava os berros e o show de nervosismo de Hélio Rubens (chegou a se irritar a tal ponto com os erros do time no Mundial de 98, que pediu um tempo e foi para a ponta de banco, ficando de costas para os jogadores), a passividade do atual treinador da seleção consegue ser ainda mais irritante. Não é possível que o treinador, nos instantes que o Brasil está caindo em quadra, seja focalizado mudo, sem esboçar uma reação, sem fazer um gesto sequer, sem fazer uma orientação que seja.

Assistir ao time da Argentina B jogar (sem falar em times europeus) demonstra que Lula e sua comissão-técnica não estão antenados em termos táticos, estão arraigados a conceitos antigos e insistem doa a quem doer em jogadores que já provaram que não podem defender a seleção (Nezinho é o maior exemplo).

Conclusão: A sorte do Brasil é que o nível técnico do Pré-Olímpico é baixo (EUA e Argentina B são as exceções) e que o time nacional, mesmo aos trancos e barrancos, deve conseguir evitar os EUA na semifinal. Canadá e Uruguai perderam nesta terça-feira e facilitaram muito o trabalho brasileiro. Vencer o Uruguai deve bastar. E aí vai ter uma decisão contra o time misto da Argentina. Uma derrota pode iniciar o processo já mais que necessário de mudança de comando e de estilo de jogo. Uma vitória será maravilhosa, levando o basquete masculino de volta aos Jogos Olímpicos. Mas nos preparemos para ver os mesmos erros de Las Vegas em Pequim. Não vamos nos iludir.

* * *

Bandejas

- Tiago Splitter mostra em Las Vegas que é um jogador pronto, maduro. As temporadas no Tau Ceramica (Espanha), uma das melhores equipes da Europa, lapidaram o jovem jogador, que é o mais regular do Brasil no Pré-Olímpico. O pivô ainda se mostra cauteloso a tentar a sorte na NBA. Mas tem tudo para ser bem sucedido na terra do basquete.

- A atenção toda voltada para o Pré-Olímpico tirou das manchetes um novo caso trágico na NBA: a morte de Eddie Griffin, 25 anos, jogador do Minnesota Timberwolves, no último dia 21, em um acidente de carro. Mais um caso de jovem jogador (sétimo escolhido no draft de 2001) que não consegue lidar com a mudança radical de vida, com os milhões de dólares na conta bancária. Em uma futura coluna falaremos do caso e de outros semelhantes que costumam enlutar o basquete.

Marcelo Monteiro mal chega a 1,70m, mas é mortal nas bolas de três. Torcedor fanático do Atlanta Hawks, trabalhou por nove anos em sites das Organizações Globo. Hoje, empresta seus conhecimentos à Textual Assessoria. Escreve sobre basquete às quartas-feiras.

4 comentários:

Flávio disse...

Ótima coluna. Concordo com tudo que disse.

O Leandrinho me intriga. É um jogador com um talento inacreditável, faz as jogadas com extrema naturalidade.

Mas me parece que não entende muito o jogo. Ele parece completamente alheio a partida, jogando apenas para ele e a cesta. Não sei se é uma questão inata ou falta de aconselhamento, mas acho que isso faz a diferença em jogo como os EUA, quando ele está bem marcado. Ele não consegue ajudar a equipe quando não está marcando pontos.

Anônimo disse...

Caro Flávio. Valeu pelo comentário. O Leandrinho tem sido muito importante para o Brasil no Pré-Olímpico, apagando em boa parte a decepção que causou no Mundial. Mas realmente ele foi completamente anulado pela marcação dos americanos (de Kobe especialmente). O que me gerou a séria dúvida se ele já está pronto para resolver os problemas do Brasil na hora do aperto. Todo grande time precisa de um jogador que pegue a bola na hora de pressão e assuma a responsabilidade de decidir. É hoje no Brasil, se o Leandrinho não puder fazer isso, quem vai fazer? Acho que com mais tempo no Phoenix Suns, sendo orientado por um ótimo técnico (Mike D'Antoni) e atuando ao lado de um supercraque como Steve Nash ele só tende a melhorar. Tomara que ela possa disputar os Jogos Olímpicos com um ano a mais de experiência na NBA. Grande abraço.

Anônimo disse...

Marcelo, acho que o lance final do tempo regulamentar contra a Argentina exemplifica o que eu escrevi ontem. É claro que o time é deficiente na comissão técnica, mas é inacreditável que o Leandrinho pegue a bola no meio da quadra com 13 segundos no relógio, jogo empatado, e empaque lá (repare no desespero do Nenê pedindo para ele aproveitar o bloqueio dele) e decida arremessar de três de lá longe quando o óbvio seria tentar infiltrar e arranjar uma falta - ou passar a bola quando a dupla ou tripla marcação convergisse.
Ele é um talento estupendo e poderia meter a bola dali, mas em termos de QI de basquete é uma lástima (imagina se o Ginobili faria isso - faria uma cavada das que sempre faz e jogo encerrado no lance livre).

Anônimo disse...

Tem toda razão Flávio. Foi uma falha grave, inadmíssivel para um jogador com quatro temporadas de NBA nas costas. Leandrinho precisa amadurecer mais para ser o líder que tanto a seleção precisa. Se no Phoenix ele pode aceitar um papel de coadjuvante, na seleção precisa assumir a responsabilidade de ser astro principal. Grande abraço. Vamos torcer hoje para que não ocorra um desastre contra o Uruguai.