Há gosto e desgosto para tudo. Há mesmo quem não goste de futebol. Mas não há uma coisa: um ser humano na Terra que não goste de música
Por Pedro Ribeiro
Quando João Gilberto lançou o disco 78 Rotações no fim da década de 1950, o Brasil experimentava um novo período histórico, uma reconstrução da identidade nacional.
♪ Que isto é Bossa Nova, que isso é muito natural ♪
Nos Anos Dourados de JK, o país crescia economicamente e surgia a imponente Brasília do Deserto. Na cena cultural, estilo e sonoridade se modernizavam, era a nova bossa de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e tantos outros vanguardistas.
No futebol, a bossa era de Pelé e Mané. Se o novo estilo musical reinventava o samba melancólico das rádios, a Seleção fazia o povo esquecer das tristezas passadas. Ambos conquistaram o mundo.
A Bossa continua e comemora seus cinqüenta anos. Virou Patrimônio Cultural esta semana.
Mas o futebol que encantou o mundo, parecia ter esquecido o próprio país. Craques espalhados por todos os lugares. Reconhecidamente os melhores do planeta, mas um time que, apesar de canarinho por tradição, se distanciou do povo, de suas raízes.
A Bossa também é um pouco do mundo. As influências do Jazz americano estão lá presentes. Mas o canto baixinho, a batida cadenciada e o amor, cantado de forma tão brasileira, registram o Made in Brazil.
E o Brasil do futebol não pode ser apenas para gringo ver.
♪ Chega de Saudade, a verdade é que sem ela não pode ser ♪
Nas Eliminatórias, a Seleção voltou ao Brasil, ao Maracanã, Carnegie Hall do futebol.
“Chega de Saudade”, de Tom e Vinícius é considerada um símbolo da Bossa Nova. A música começa triste e, de repente, surgem acordes alegres, capazes de contagiar qualquer um:
♪ Mas se ela voltar, se ela voltar, que coisa linda, que coisa louca♪
Os abraços apertados e colados ficaram por conta da torcida. O povo, representado por famílias inteiras, fez a festa no Maracanã. Há sete anos, a Seleção não jogava no Rio. Um reencontro com uma vitória por 5 a 0 sobre o Equador merecia ser muito comemorado.
Mas a euforia cultiva exageros.
Foi assim com a música. Após o sucesso da Bossa, foram muitos os que se aventuraram no ritmo novo. Até Juca Chaves cantou Bossa Nova.
No Maracanã, os exageros ficaram por conta da imprensa. “Volta do futebol arte”, “Seleção dá show”. Convenhamos, nenhuma das manchetes foi verdadeira.
O Brasil, na sua lentidão habitual, demorou a se impor diante do fraco Equador. Cabeças-de-área desencontrados em campo, excessivos erros de passes e craques mal aproveitados.
No banco, poucas opções. Não as melhores que temos. Afonso, por exemplo, não pode ser aposta para modificar o panorama de um jogo.
♪Mas no fundo do peito dos desafinados, também bate um coração♪
Faltam alternativas eficientes.
♪O Pato vinha cantando alegremente. Qüen! Qüen!♪
Quando o coro ensaiava vaias, o Brasil abriu o placar e ampliou. Mas tudo parecia “Samba de uma Nota Só”. A falta de padrão de jogo de sempre. Nota solitária, sem a magnitude da música de Tom Jobim.
Nela, com apenas uma nota, o maestro faz poesia. Já o Brasil é de uma mesmice irritante. Não jogamos coletivamente. Ainda bem que ainda temos craques. Kaká marcou um golaço, o terceiro do jogo. E o Brasil fez o quarto com Elano, jogada iniciada com Robinho e o drible “vai pra lá que eu vou pra cá”, verdadeira bossa do futebol. Se todos fossem iguais a você, Robinho...
♪Alegria é a melhor coisa que existe♪
O Brasil completou a goleada por 5 a 0. Mas, sejamos francos, sem nenhuma excelência. Se, para fazer uma samba com beleza, é preciso mesmo um bocado de tristeza, eu agüento os erros até a próxima Copa. Se a Seleção soubesse o que significa ser Brasil verdadeiro em campo...
♪Ah, se ela soubesse que quando ela passa, o mundo inteirinho se enche de graça♪
Há quem goste do time de Dunga. Há quem não goste de Bossa Nova. Há gosto e desgosto para tudo.
Mas gostoso mesmo é ver o Maracanã novamente como templo da Seleção. O Maior do Mundo, carioca da gema, viu o nascimento da Bossa e, de vez em quando, entoa suas músicas das arquibancadas. Mas teve uma que ninguém ouviu. Ele cantou baixinho quando a Seleção entrou em campo.
♪Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar. Ai que bom que isso é, meu Deus. Que frio que me dá o encontro desse olhar♪
Nos Anos Dourados de JK, o país crescia economicamente e surgia a imponente Brasília do Deserto. Na cena cultural, estilo e sonoridade se modernizavam, era a nova bossa de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e tantos outros vanguardistas.
No futebol, a bossa era de Pelé e Mané. Se o novo estilo musical reinventava o samba melancólico das rádios, a Seleção fazia o povo esquecer das tristezas passadas. Ambos conquistaram o mundo.
A Bossa continua e comemora seus cinqüenta anos. Virou Patrimônio Cultural esta semana.
Mas o futebol que encantou o mundo, parecia ter esquecido o próprio país. Craques espalhados por todos os lugares. Reconhecidamente os melhores do planeta, mas um time que, apesar de canarinho por tradição, se distanciou do povo, de suas raízes.
A Bossa também é um pouco do mundo. As influências do Jazz americano estão lá presentes. Mas o canto baixinho, a batida cadenciada e o amor, cantado de forma tão brasileira, registram o Made in Brazil.
E o Brasil do futebol não pode ser apenas para gringo ver.
Nas Eliminatórias, a Seleção voltou ao Brasil, ao Maracanã, Carnegie Hall do futebol.
“Chega de Saudade”, de Tom e Vinícius é considerada um símbolo da Bossa Nova. A música começa triste e, de repente, surgem acordes alegres, capazes de contagiar qualquer um:
Os abraços apertados e colados ficaram por conta da torcida. O povo, representado por famílias inteiras, fez a festa no Maracanã. Há sete anos, a Seleção não jogava no Rio. Um reencontro com uma vitória por 5 a 0 sobre o Equador merecia ser muito comemorado.
Mas a euforia cultiva exageros.
Foi assim com a música. Após o sucesso da Bossa, foram muitos os que se aventuraram no ritmo novo. Até Juca Chaves cantou Bossa Nova.
No Maracanã, os exageros ficaram por conta da imprensa. “Volta do futebol arte”, “Seleção dá show”. Convenhamos, nenhuma das manchetes foi verdadeira.
O Brasil, na sua lentidão habitual, demorou a se impor diante do fraco Equador. Cabeças-de-área desencontrados em campo, excessivos erros de passes e craques mal aproveitados.
No banco, poucas opções. Não as melhores que temos. Afonso, por exemplo, não pode ser aposta para modificar o panorama de um jogo.
Faltam alternativas eficientes.
Quando o coro ensaiava vaias, o Brasil abriu o placar e ampliou. Mas tudo parecia “Samba de uma Nota Só”. A falta de padrão de jogo de sempre. Nota solitária, sem a magnitude da música de Tom Jobim.
Nela, com apenas uma nota, o maestro faz poesia. Já o Brasil é de uma mesmice irritante. Não jogamos coletivamente. Ainda bem que ainda temos craques. Kaká marcou um golaço, o terceiro do jogo. E o Brasil fez o quarto com Elano, jogada iniciada com Robinho e o drible “vai pra lá que eu vou pra cá”, verdadeira bossa do futebol. Se todos fossem iguais a você, Robinho...
O Brasil completou a goleada por 5 a 0. Mas, sejamos francos, sem nenhuma excelência. Se, para fazer uma samba com beleza, é preciso mesmo um bocado de tristeza, eu agüento os erros até a próxima Copa. Se a Seleção soubesse o que significa ser Brasil verdadeiro em campo...
Há quem goste do time de Dunga. Há quem não goste de Bossa Nova. Há gosto e desgosto para tudo.
Mas gostoso mesmo é ver o Maracanã novamente como templo da Seleção. O Maior do Mundo, carioca da gema, viu o nascimento da Bossa e, de vez em quando, entoa suas músicas das arquibancadas. Mas teve uma que ninguém ouviu. Ele cantou baixinho quando a Seleção entrou em campo.
Pedro Ribeiro é Coordenador de Eventos do SporTV, mas às vezes parece um Lobo Bobo, tal qual o personagem cantado por Carlos Lyra. Escreve sobre Esporte e Cultura aos sábados.
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