Emerson bebe água: jejum brasileiro já dura 16 anos (foto: autosport)
Por Otto Jenkel
A Inglaterra tem todos os motivos para lamentar o resultado do GP do Brasil no domingo passado. Além de perder um título praticamente ganho de Lewis Hamilton, o antigo império desperdiçou uma grande oportunidade de se igualar ao Brasil em número de campeonatos ganhos na Fórmula 1.
O domínio brasileiro vem desde 1988, quando Ayrton Senna conquistou seu primeiro campeonato mundial. Até então, havia um quádruplo empate com cinco títulos entre a Argentina, a Escócia, a Inglaterra e o próprio Brasil. Senna venceria ainda em 1990 e 1991, deixando o Brasil isolado na dianteira com oito títulos. Com as conquistas de Nigel Mansell em 1992 e Damon Hill em 1996, os ingleses chegaram a sete mundiais e encostaram no Brasil, que vem de um jejum que já dura 16 anos.
Os ingleses contestam esses números, contudo. Eles consideram os títulos dos países que formam a Grã Bretanha. Nesse caso, além dos sete da Inglaterra, se somaria os cinco da Escócia, totalizando 12 triunfos. É um velho estratagema utilizado pelos britânicos em várias competições ao unir ou separar seus países conforme lhes convier.
Nos Jogos Olímpicos, por exemplo, o que interessa é o número de medalhas, então eles competem com uma só bandeira, a da Grã Bretanha. Já na Copa do Mundo, existe a divisão e surgem, além da Inglaterra e da Escócia, a Irlanda do Norte e o País de Gales. Isso aumenta a chance de pelo menos um desses países passar pelas eliminatórias, sempre complicada no Velho Continente.
Voltando à Fórmula 1, os italianos foram os primeiros dominadores, ganhando três campeonatos nos primeiros quatro anos de existência do Mundial, um com Giuseppe Farina, em 1950, e dois com Alberto Ascari, em 1952 e 1953. Mas o domínio terminaria aí. A Itália jamais ganharia outro título.
Antes do fim da década, a Argentina passaria a frente com os cinco títulos de Fangio (1951/54/55/56/57), marca que só seria igualada pela Escócia em 1973, graças a dois gênios que o país produziu: Jim Clark, que foi campeão em 1963 e 1965, e Jackie Stewart, em 1969, 1971 e 1973. Três anos depois, a Inglaterra também chegaria a cinco títulos com a conquista de James Hunt em 1976.
Em 1972, começaria a Era Brasileira na Fórmula 1. De 1972 à 1991, o Brasil ganharia oito mundiais de Fórmula 1 em um intervalo de apenas 20 anos. Além dos títulos já citados de Senna, antes vieram os dois de Emerson Fittipaldi (1972/74) e três de Piquet (1981/83/87). Como foi dito, o Brasil folgou na liderança até a Inglaterra se aproximar em 1996 e quase igualar em 2007. A Alemanha chegaria também a sete títulos, mas não houve propriamente uma Era Alemã na F-1. Houve uma Era Schumacher. O mesmo pode ser dito da Argentina com Fangio e da França com Prost.
O título de 2007, tirado das mãos de Lewis Hamilton por Kimi Raikkonen, colocou a Finlândia em um outro seleto grupo: o de países que conseguiram títulos da F1 com mais de dois pilotos diferentes. Antes dela, apenas a Inglaterra, com seis campeões, e o Brasil, com três, conseguiram atingir essa marca. Os ingleses produziram apenas um bicampeão, Graham Hill, que venceu em 1962 e 1968. Todos os outros cinco ganharam um título: Mike Hawthorn, John Surtees, James Hunt, Nigel Mansell e Damon Hill. Curiosamente, o maior piloto que a Inglaterra viu nascer, Stirling Moss, não ganhou um único título. Foi quatro vezes vice-campeão mundial.
A entrada da Finlândia neste fechado grupo não pode ser considerada uma surpresa. A tradição do país nórdico no automobilismo vem de longa data, como se percebe, por exemplo, no Mundial de Rally. Lá, eles são absolutos. Em 28 campeonatos, os finlandeses foram campeões 13 vezes. Para se ter uma idéia do que significa esse número, o país que vem mais próximo é a França com quatro triunfos. Seus campeões são nomes lendários no Rally: Ari Vatanen, Hannu Mikkola, Timo Salonen, Juha Kankkunen, Timo Makinen e Marcus Gronholm. Finlândia virou sinônimo de Rally com toda justiça.
Na Fórmula 1, a tradição finlandesa demorou para acontecer. Ou melhor, nunca aconteceu em números absolutos. Apenas sete pilotos chegaram no degrau máximo do automobilismo. Só que, desses sete, três seriam campeões. Quase a metade. Curiosamente, o pioneiro (o Emerson Fittipaldi deles) era sueco. Keke Rosberg nasceu no país vizinho e naturalizou-se finlandês ainda adolescente. Até então, era a Suécia que possuía grandes pilotos, como Joachim Bonnier, Reine Wisell, Gunnar Nilsson e, principalmente, Ronnie Peterson. A morte deste no GP da Itália de 1978 enterrou também a tradição sueca. Curiosamente, foi nesse ano que Keke estreou na F1.
Sua primeira vitória só aconteceu em 1982, justamente no ano em que ele seria campeão. E com essa única vitória. Um caso raro, que só tinha ocorrido antes em 1958, com o inglês Mike Hawthorn, e que nunca mais se repetiria. Keke se aposentaria em 1986 e, cinco anos depois, estrearia uma nova promessa finlandesa, Mika Hakkinen. Um grave acidente na Austrália em 1995 quase interrompeu sua carreira, mas ele se reabilitaria e conquistaria um bicampeonato em 1998/99. Mika pendurou o capacete em 2001, ano em que Kimi Raikkonen teria seu ano de batismo na F1.
A Finlândia chegou agora, em 2007, a quatro títulos, se igualando a Austrália, Áustria e França. Na frente apenas Brasil (8), Inglaterra (7), Alemanha (7), Argentina (5) e Escócia (5). O país nórdico pode ainda aumentar esse número em 2008, já que Raikkonen é forte candidato ao bicampeonato, assim como a Inglaterra com Hamilton. E o Brasil? Conseguirá defender essa liderança de títulos com Massa no ano que vem? Pois este será o tema da próxima coluna.
O domínio brasileiro vem desde 1988, quando Ayrton Senna conquistou seu primeiro campeonato mundial. Até então, havia um quádruplo empate com cinco títulos entre a Argentina, a Escócia, a Inglaterra e o próprio Brasil. Senna venceria ainda em 1990 e 1991, deixando o Brasil isolado na dianteira com oito títulos. Com as conquistas de Nigel Mansell em 1992 e Damon Hill em 1996, os ingleses chegaram a sete mundiais e encostaram no Brasil, que vem de um jejum que já dura 16 anos.
Os ingleses contestam esses números, contudo. Eles consideram os títulos dos países que formam a Grã Bretanha. Nesse caso, além dos sete da Inglaterra, se somaria os cinco da Escócia, totalizando 12 triunfos. É um velho estratagema utilizado pelos britânicos em várias competições ao unir ou separar seus países conforme lhes convier.
Nos Jogos Olímpicos, por exemplo, o que interessa é o número de medalhas, então eles competem com uma só bandeira, a da Grã Bretanha. Já na Copa do Mundo, existe a divisão e surgem, além da Inglaterra e da Escócia, a Irlanda do Norte e o País de Gales. Isso aumenta a chance de pelo menos um desses países passar pelas eliminatórias, sempre complicada no Velho Continente.
Voltando à Fórmula 1, os italianos foram os primeiros dominadores, ganhando três campeonatos nos primeiros quatro anos de existência do Mundial, um com Giuseppe Farina, em 1950, e dois com Alberto Ascari, em 1952 e 1953. Mas o domínio terminaria aí. A Itália jamais ganharia outro título.
Antes do fim da década, a Argentina passaria a frente com os cinco títulos de Fangio (1951/54/55/56/57), marca que só seria igualada pela Escócia em 1973, graças a dois gênios que o país produziu: Jim Clark, que foi campeão em 1963 e 1965, e Jackie Stewart, em 1969, 1971 e 1973. Três anos depois, a Inglaterra também chegaria a cinco títulos com a conquista de James Hunt em 1976.
Em 1972, começaria a Era Brasileira na Fórmula 1. De 1972 à 1991, o Brasil ganharia oito mundiais de Fórmula 1 em um intervalo de apenas 20 anos. Além dos títulos já citados de Senna, antes vieram os dois de Emerson Fittipaldi (1972/74) e três de Piquet (1981/83/87). Como foi dito, o Brasil folgou na liderança até a Inglaterra se aproximar em 1996 e quase igualar em 2007. A Alemanha chegaria também a sete títulos, mas não houve propriamente uma Era Alemã na F-1. Houve uma Era Schumacher. O mesmo pode ser dito da Argentina com Fangio e da França com Prost.
O título de 2007, tirado das mãos de Lewis Hamilton por Kimi Raikkonen, colocou a Finlândia em um outro seleto grupo: o de países que conseguiram títulos da F1 com mais de dois pilotos diferentes. Antes dela, apenas a Inglaterra, com seis campeões, e o Brasil, com três, conseguiram atingir essa marca. Os ingleses produziram apenas um bicampeão, Graham Hill, que venceu em 1962 e 1968. Todos os outros cinco ganharam um título: Mike Hawthorn, John Surtees, James Hunt, Nigel Mansell e Damon Hill. Curiosamente, o maior piloto que a Inglaterra viu nascer, Stirling Moss, não ganhou um único título. Foi quatro vezes vice-campeão mundial.
A entrada da Finlândia neste fechado grupo não pode ser considerada uma surpresa. A tradição do país nórdico no automobilismo vem de longa data, como se percebe, por exemplo, no Mundial de Rally. Lá, eles são absolutos. Em 28 campeonatos, os finlandeses foram campeões 13 vezes. Para se ter uma idéia do que significa esse número, o país que vem mais próximo é a França com quatro triunfos. Seus campeões são nomes lendários no Rally: Ari Vatanen, Hannu Mikkola, Timo Salonen, Juha Kankkunen, Timo Makinen e Marcus Gronholm. Finlândia virou sinônimo de Rally com toda justiça.
Na Fórmula 1, a tradição finlandesa demorou para acontecer. Ou melhor, nunca aconteceu em números absolutos. Apenas sete pilotos chegaram no degrau máximo do automobilismo. Só que, desses sete, três seriam campeões. Quase a metade. Curiosamente, o pioneiro (o Emerson Fittipaldi deles) era sueco. Keke Rosberg nasceu no país vizinho e naturalizou-se finlandês ainda adolescente. Até então, era a Suécia que possuía grandes pilotos, como Joachim Bonnier, Reine Wisell, Gunnar Nilsson e, principalmente, Ronnie Peterson. A morte deste no GP da Itália de 1978 enterrou também a tradição sueca. Curiosamente, foi nesse ano que Keke estreou na F1.
Sua primeira vitória só aconteceu em 1982, justamente no ano em que ele seria campeão. E com essa única vitória. Um caso raro, que só tinha ocorrido antes em 1958, com o inglês Mike Hawthorn, e que nunca mais se repetiria. Keke se aposentaria em 1986 e, cinco anos depois, estrearia uma nova promessa finlandesa, Mika Hakkinen. Um grave acidente na Austrália em 1995 quase interrompeu sua carreira, mas ele se reabilitaria e conquistaria um bicampeonato em 1998/99. Mika pendurou o capacete em 2001, ano em que Kimi Raikkonen teria seu ano de batismo na F1.
A Finlândia chegou agora, em 2007, a quatro títulos, se igualando a Austrália, Áustria e França. Na frente apenas Brasil (8), Inglaterra (7), Alemanha (7), Argentina (5) e Escócia (5). O país nórdico pode ainda aumentar esse número em 2008, já que Raikkonen é forte candidato ao bicampeonato, assim como a Inglaterra com Hamilton. E o Brasil? Conseguirá defender essa liderança de títulos com Massa no ano que vem? Pois este será o tema da próxima coluna.
Otto Jenkel trabalhou no FOCA TV, cobrindo o GP do Brasil, quando a prova era disputada no Rio. Acompanha Fórmula 1 desde meados da década de 70, "quando a F1 era perigosa e o sexo seguro, hoje inverteu". Escreve sobre Fórmula 1 às segundas-feiras.
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