Mesmo se nós falássemos a língua da bola, o futebol seria, sedutoramente, incompreensível.
Por Pedro Ribeiro
Ele é importante, mas renegado. Como o cabeça-de-área, por exemplo. É parte estrutural do esquema. Um meio-campo habilidoso, mas exagerado. Ele é o gerúndio.
Muita gente critica. E confunde. Gerúndio com gerundismo. O primeiro é parte essencial de nossa gramática: forma nominal do verbo, pois também exerce a função de nome:
Ex: “O Corinthians anda vivendo dias de incertezas antes do clássico contra o São Paulo”.
O segundo é vício de linguagem.
Poucos sabem, mas futebol e gerundismo têm origens parecidas: Inglaterra. O esporte surgiu na Terra da Rainha. Brincadeira de aristocratas que contaminou plebeus do mundo todo. A forma redundante é derivação da língua inglesa. Contaminou o português.
“I will be doing”. Ou na tradução: “Vou estar fazendo”. Na língua portuguesa basta o futuro simples. “Eu farei” e pronto. É como o futebol simples, sem exibicionismo. O São Paulo, líder do Campeonato Brasileiro, joga assim.
No entanto, exibicionismo está na moda no Distrito Federal. Por favor, não é um ataque ao Senado. Falo de José Roberto Arruda (DEM), governador na Capital Federal. O político decretou a proibição do Gerúndio. Disse que atrapalha a eficiência nos órgãos públicos.
A maioria das proibições é infeliz. Esta segue a tendência. Proibir algo que é parte estrutural da língua é como combater um drible, uma jogada bonita no futebol. O jogo tem de ser jogado, mas dentro das regras.
Quando o colunista não sabia como acabar este texto, eis que um companheiro no programa Redação SporTV dá uma grande ajuda: “Ele não vai estar mais fazendo isso”, disse o amigo.
Referência a Bosco, do São Paulo. O goleiro teve pena aumentada pelo STJD. Pegou três jogos por simulação no clássico contra o Palmeiras. Bosco aprendeu. Não fará mais isso, certamente. Quem parece não ter aprendido foi Coelho, do Atlético-MG.
O lateral teve a pena reduzida pelo golpe a Kerlon do Cruzeiro, mas, verbalmente, continuou os ataques ao Menino-Foca.
Sinceramente, entendo quase nada de luta e por isso não sei a técnica utilizada pelo atleticano para derrubar o adversário. Nem qual deveria ser a punição exemplar. Sei que regra é regra. É assim na língua portuguesa. Assim tem de ser nos tribunais esportivos. Fica a torcida para que no futuro do subjuntivo as decisões do STJD não se transformem em um festival de discordâncias verbais.
Dos tribunais para os gramados, do jeito que o esporte tem de ser. Concordantes mesmo são as torcidas do Rio ultimamente. Todas elas, sem exceção. Nesta quinta foi a do Flamengo que deu show na vitória sobre o São Paulo no Maracanã. Recorde de público no Brasileirão: 59.098 pagantes.
A festa ficou mais alegre por causa da musiquinha nova entoada pelos rubro-negros. Respeitando a norma culta, sem palavrões. As arquibancadas, enfim, procuram a conjugação perfeita do futebol: torcer.
E eu, que respeito a língua, mas não sou infalível, termino a crônica como um usuário habitual da língua portuguesa:
Essa alegria, esse respeito nos estádios “vai estar ajudando muito o futebol brasileiro”.
Pedro Ribeiro tenta ser fiel às regras gramaticais, mas também comete seus deslizes. Inclusive no SporTV, onde trabalha como Coordenador de Eventos. Escreve sobre Esporte e Cultura aos sábados.
3 comentários:
Brilhante mais uma vez, mas... E as atendentes de telemarketing?
Forte abraço!
Prometo que vou estar comentando com mais frequencia por aqui, Bartinho! xD
=***
Bezoca,
O pessoal do Telemarketing me irrita. Mas alguns jornalistas irritam muito mais. Como faço parte do segundo grupo, procuro manter a calma. Obrigado pelo elogio Bê. O próximo chope eu pago.
Carol, comente mesmo. Pode usar o gerundismo que não tem problema. A coluna mesmo tinha um tremendo erro de português que troquei no último segundo. rs
Abraços,
pedro
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