sábado, 6 de outubro de 2007

Futebolando


Mesmo se nós falássemos a língua da bola, o futebol seria, sedutoramente, incompreensível.

Por Pedro Ribeiro

Ele é importante, mas renegado. Como o cabeça-de-área, por exemplo. É parte estrutural do esquema. Um meio-campo habilidoso, mas exagerado. Ele é o gerúndio.

Muita gente critica. E confunde. Gerúndio com gerundismo. O primeiro é parte essencial de nossa gramática: forma nominal do verbo, pois também exerce a função de nome:

Ex: “O Corinthians anda vivendo dias de incertezas antes do clássico contra o São Paulo”.

O segundo é vício de linguagem.

Poucos sabem, mas futebol e gerundismo têm origens parecidas: Inglaterra. O esporte surgiu na Terra da Rainha. Brincadeira de aristocratas que contaminou plebeus do mundo todo. A forma redundante é derivação da língua inglesa. Contaminou o português.

I will be doing”. Ou na tradução: “Vou estar fazendo”. Na língua portuguesa basta o futuro simples. “Eu farei” e pronto. É como o futebol simples, sem exibicionismo. O São Paulo, líder do Campeonato Brasileiro, joga assim.

No entanto, exibicionismo está na moda no Distrito Federal. Por favor, não é um ataque ao Senado. Falo de José Roberto Arruda (DEM), governador na Capital Federal. O político decretou a proibição do Gerúndio. Disse que atrapalha a eficiência nos órgãos públicos.

A maioria das proibições é infeliz. Esta segue a tendência. Proibir algo que é parte estrutural da língua é como combater um drible, uma jogada bonita no futebol. O jogo tem de ser jogado, mas dentro das regras.

Quando o colunista não sabia como acabar este texto, eis que um companheiro no programa Redação SporTV dá uma grande ajuda: “Ele não vai estar mais fazendo isso”, disse o amigo.

Referência a Bosco, do São Paulo. O goleiro teve pena aumentada pelo STJD. Pegou três jogos por simulação no clássico contra o Palmeiras. Bosco aprendeu. Não fará mais isso, certamente. Quem parece não ter aprendido foi Coelho, do Atlético-MG.

O lateral teve a pena reduzida pelo golpe a Kerlon do Cruzeiro, mas, verbalmente, continuou os ataques ao Menino-Foca.

Sinceramente, entendo quase nada de luta e por isso não sei a técnica utilizada pelo atleticano para derrubar o adversário. Nem qual deveria ser a punição exemplar. Sei que regra é regra. É assim na língua portuguesa. Assim tem de ser nos tribunais esportivos. Fica a torcida para que no futuro do subjuntivo as decisões do STJD não se transformem em um festival de discordâncias verbais.

Dos tribunais para os gramados, do jeito que o esporte tem de ser. Concordantes mesmo são as torcidas do Rio ultimamente. Todas elas, sem exceção. Nesta quinta foi a do Flamengo que deu show na vitória sobre o São Paulo no Maracanã. Recorde de público no Brasileirão: 59.098 pagantes.

A festa ficou mais alegre por causa da musiquinha nova entoada pelos rubro-negros. Respeitando a norma culta, sem palavrões. As arquibancadas, enfim, procuram a conjugação perfeita do futebol: torcer.

E eu, que respeito a língua, mas não sou infalível, termino a crônica como um usuário habitual da língua portuguesa:

Essa alegria, esse respeito nos estádios “vai estar ajudando muito o futebol brasileiro”.

Pedro Ribeiro tenta ser fiel às regras gramaticais, mas também comete seus deslizes. Inclusive no SporTV, onde trabalha como Coordenador de Eventos. Escreve sobre Esporte e Cultura aos sábados.

3 comentários:

Anônimo disse...

Brilhante mais uma vez, mas... E as atendentes de telemarketing?

Forte abraço!

Anônimo disse...

Prometo que vou estar comentando com mais frequencia por aqui, Bartinho! xD

=***

Anônimo disse...

Bezoca,

O pessoal do Telemarketing me irrita. Mas alguns jornalistas irritam muito mais. Como faço parte do segundo grupo, procuro manter a calma. Obrigado pelo elogio Bê. O próximo chope eu pago.

Carol, comente mesmo. Pode usar o gerundismo que não tem problema. A coluna mesmo tinha um tremendo erro de português que troquei no último segundo. rs

Abraços,
pedro