terça-feira, 9 de outubro de 2007

Torcida carioca dá exemplo

Mesmo em minoria, torcida do Fluminense deu show (foto: arquivo pessoal)

Por Emiliano Tolivia

Acredito que tudo o que ocorreu dentro do campo no Fla-Flu já tenha sido dito. Os gols-relâmpago acabaram com qualquer estratégia rubro-negra, a defesa tricolor mostrou mais uma vez que é a melhor do Brasileirão (o São Paulo tem o mais eficiente sistema defensivo) e o ataque do Fluminense cansou de perder gols. Mas hoje eu gostaria de falar sobre a torcida carioca de forma geral, e a pó-de-arroz, em virtude do Clássico das Multidões.

Os flamenguistas deram espetáculo na vitória sobre o São Paulo, na última quinta-feira. Mas sua torcida sempre foi forte. Tanto é que o clube é uma exceção nos movimentos que vêm tomando conta dos outros três times cariocas. Mesmo entre as brigas intermináveis que ocorrem em sua arquibancada e as músicas de baixo calão, volta e meia surge algo de novo das grandes organizadas.

E aí vamos ao Flu. Muito pelas cores da bandeira e pelo visual do pó-de-arroz. Os tricolores costumavam fazer, até meados dos anos 80, lindas festas no então Maior do Mundo. Havia um samba citando toda a equipe tricampeã, que as pessoas sabiam do começo ao fim. Embora tenha sido ativa nos anos negros dos seguidos rebaixamentos, a galera do Flu esqueceu da festa, hibernou, passou a ser um pouco mais fria, quase nada criativa. Nem um único hit, nem uma única centelha. Nada.

Até que chegaram os movimentos populares. Ao lado da Guerreiros do Almirante do Vasco e da Loucos pelo Botafogo (que lançaram canções belíssimas), a Legião Tricolor vem, aos poucos, jogo a jogo, tirando o povo de uma letargia que parecia sem fim. E veio o Fla-Flu. O massacre, previsto pela grande maioria, ficou apenas na quantidade. Poucos programas esportivos mostraram, mas o que se viu no Maracanã foi o inverso, uma festa verde, branco e grená, que começou já com a as milhares de bobinas lançadas na entrada do time ao gramado.

O gol logo de cara ajudou a dar início ao carnaval, como seus próprios integrantes definem o espírito da coisa. Há que se respeitar, e muito, a torcida do Flamengo. O que ela fez contra o líder do Brasileirão deixou o pó-de-arroz mordido, doido para dar o troco. A resposta veio na base do gogó no domingo. É a tal ligação umbilical entre os clubes, que Nélson Rodrigues chamou de irmãos Karamazov. Para o confronto do Flu contra o mesmo São Paulo, o clima dos anos 70 estará presente com cerca de duas mil bandeirinhas de mão.

A torcida acordou de vez, animada ainda com a Libertadores do próximo ano. Resta ao clube, seja com a diretoria que for, saber aproveitar o momento e aumentar o número de adeptos, embora marketing seja um calcanhar de Aquiles do clube. E que os digníssimos candidatos nas eleições de novembro não tentem fazer uso político do movimento. Seria baixo demais.

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Cuca está de volta ao Botafogo. O que não faltou foi botafoguense dizendo que isso ia acontecer. Ok, faz parte da personalidade do alvinegro sempre esperar pelo vexame maior, pelo improvável. Mas nessa eles acertaram. Como bem disse Alex Escobar, é SURREAL. Lembro de algo parecido no Flu em 2003, quando Renato entregou o time em nono lugar para Joel Santana e o recebeu de volta na zona do rebaixamento.

Agora, se é surreal, também é uma boa solução. Mário Sérgio provou mais uma vez que é um dos piores técnicos do grande circuito do futebol brasileiro. Porém, o que mais me espanta é ele reclamar de comportamento antiético do Cuca. Logo ele, que ainda não decidiu se é técnico, dirigente ou comentarista. Até outro dia, estava criticando a todos na televisão. De vez em quando, contrata e demite técnico. Às vezes, até se arrisca a fazer besteiras à beira do campo.

Ética no futebol só existe para ser reclamada quando alguém te sacaneia.

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E o Túlio, que se achava craque e seria mandado embora no fim da temporada segundo Carlos Augusto Montenegro, foi convidado para ser o treinador pelo menos dirigente. Vai entender...

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Celso Roth que ponha seu boi na sombra. Ele tem sorte que não é praxe no Vasco demitir treinadores por uma série de derrotas, mas sua rejeição entre os cruzmaltinos é cada dia maior. O clássico de domingo, contra o Botafogo, será o da volta do que não foi contra o que está doido para ir. Jogo interessante – pelo menos para quem vai ver de fora.

Frase da semana:

“Esse machucado aqui, eu chamo de Jaílton. Este outro, batizei de Cristian” - Thiago Neves, aprendiz de Renato Gaúcho, retomando a polêmica com seus marcadores no Fla-Flu

Emiliano Tolivia é melhor que o Eto'o, melhor que o Henry, mas respeita o Pelé. Passou pelo Lance, assessoria de vôlei de praia da CBV e atualmente é subeditor do Globoesporte.com, pelo qual cobriu a Copa 2006. Escreve sobre futebol carioca às terças-feiras.

6 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro sobrinho,

A gente deixou essa para vocês, após a vergonha do 1x0 no jogo adiado do primeiro turno, quase um ParaPAN. Assim pelo menos ninguém notou o Luiz Alberto paradão lá na defesa, não querendo arriscar fazer umn gol no time do coração. Mas o que mais me deixou feliz foi o excelente comentário do aprendiz de técnico, após o jogo: "Dei um nó tático no Flamengo" - assim que eu gosto, quando o timinho perde, quem perdeu foram os jogadores, quando ganha, o mérito é da estratégia que ele adotou. Quero ver na Libertadores, apostei um Porcão Rio's com um incauto que o timinho não chega na final.

Vamos fazer uma corrente para Celsão ficar na Colina até o fim de 2007.

[]s

LLSB disse...

Aposta que o Flu não chega na final????

Olhe como são as coisas: eu nunca pensei que o Fla, neste ano, sequer se classificaria para as oitavas!

Hehehehe...

Emiliano, só consigo pensar em uma coisa:

EU VOU CANTAR ESSA PAIXÃO QUE VEM DE DENTRO
UM SENTIMENTO VERDE, BRANCO E GRENÁ
CAMISA TRICOLOR E A BANDEIRA AO VENTO
MEU FLUMINENSE EU VIM AQUI PRA TE APOIAR

OLE! OLE!

MEU TRICOLOR, AMO VOCÊ!

S. T.,

Leo

Anônimo disse...

Fala, tio!
Embora não seja um grande fã do Renato, é preciso reconhecer que ele acertou o Flu. E vem crescendo como técnico. Acho que ele apenas quis devolver as provocações do primeiro turno, e nisso ele é bom.

Celsão bom é o Barros rs

Abraço!

Anônimo disse...

Fala, Léo!

Liga não! Família a gente não escolhe hehehhe

Essa daí é boa também, promete pegar. Vamos esperar

Abração!

Anônimo disse...

Fala Tolívia.

Você chamou atenção para algo muito importante: o Flu está jogando para valer este restante de Brasileiro. E isso pode fazer muita diferença na Libertadores no ano que vem (desde que seja mantida uma base mínima). O Fla, no ano passado, estava claramente de férias a essa altura do campeonato. E começou a 20 por hora neste ano. Abraço,
Vitor Sergio Rodrigues

Anônimo disse...

Fala, Vitor
É um erro muito coumum, que o Renato, verdade seja dita, vem tentando combater desde o dia seguinte à conquista da Copa do Brasil. E a torcida (em geral) tem sua parcela de culpa ou mérito nesses casos. Também pode se acomodar e esperar pela Libertadores e deixar o time esmorecer. Ou pode perturbar e fazer os jogadores correrem simplesmente pela camisa que vestem e em busca de um lugar no elenco para o torneio. Neste caso, tem sido mérito mesmo.

Abraço!