Alonso e Raikkonen dependem um do outro em Interlagos (foto: autosport)
Por Otto Jenkel
Lewis Hamilton tinha todas as cartas na mesa para liquidar o campeonato com uma prova de antecedência. Todavia, o inglês as desperdiçou de uma forma inacreditável. Ao teimar em manter uma liderança que não tinha a menor necessidade, ele destruiu um pneu traseiro e conseguiu a proeza de sair da pista na entrada dos boxes, e atolar na caixa de brita. Um campeonato que parecia tão perto, hoje já não é tão certo, e por tudo que se viu nesses últimos dias, foi melhor assim. O inglês não merecia ter liquidado a fatura, pelo menos agora. Pareceu castigo.
O problema todo começou, na verdade, em agosto, no GP da Europa, quando Hamilton foi levantado pelo guincho ao afundar na caixa de brita e prosseguiu na prova como se nada tivesse acontecido (ler coluna anterior). A partir daí, a FIA começou a tomar medidas que sempre favoreceram o inglês. A punição a Alonso no GP da Hungria, a não punição a Hamilton na mesma ocasião. A própria absolvição da McLaren no julgamento do Paris. Mais uma vez, a Inglaterra dava uma prova de força nos bastidores.
No GP do Japão, veio o pior: quando liderava com o pace-car na pista, realizou uma série de brake-tests (frear repentinamente para confundir os pilotos que vinham atrás) até provocar um acidente entre Sebastian Vettel e Mark Webber. A FIA puniu Vettel com a perda de 10 posições no grid para o GP da China.
O problema todo começou, na verdade, em agosto, no GP da Europa, quando Hamilton foi levantado pelo guincho ao afundar na caixa de brita e prosseguiu na prova como se nada tivesse acontecido (ler coluna anterior). A partir daí, a FIA começou a tomar medidas que sempre favoreceram o inglês. A punição a Alonso no GP da Hungria, a não punição a Hamilton na mesma ocasião. A própria absolvição da McLaren no julgamento do Paris. Mais uma vez, a Inglaterra dava uma prova de força nos bastidores.
No GP do Japão, veio o pior: quando liderava com o pace-car na pista, realizou uma série de brake-tests (frear repentinamente para confundir os pilotos que vinham atrás) até provocar um acidente entre Sebastian Vettel e Mark Webber. A FIA puniu Vettel com a perda de 10 posições no grid para o GP da China.
Um cinegrafista amador filmou a cena e colocou no Youtube. A Spyker, equipe de Vettel, levou o video à FIA, que retirou a pena ao alemão, mas não puniu Hamilton. A bronca foi generalizada entre os pilotos, que consideram Hamilton intocável. O que vale para ele, não vale para os outros. Quando o inglês atolou na brita, ontem, Ron Dennis pediu desesperadamente que o empurrassem num local que não tinha o menor perigo. Os fiscais bem que tentaram. Em vão.
O campeonato ainda continua mais perto do inglês. Só que a ameaça agora é dupla. Com a vitória de Raikkonen, o finlandês chega a 100 pontos, atrás de Hamilton com 107 e Alonso com 103. A própria história da F1 mostra o perigo que isso representa. Nas últimas três vezes em que isso aconteceu, quem terminou campeão não era o então líder. Em duas vezes, o campeão foi Nelson Piquet (1981 e 1983). Na última, Alain Prost (1986). Tanto Alonso como Raikkonen vão entrar como franco-atiradores, e vai sobrar para o inglês toda a pressão. Ele não suportou em Xangai. Suportará em Interlagos?
Seu comportamento foi inexplicável. Bastava manter Alonso no seu retrovisor e controlá-lo que o título seria seu. Resolveu, ninguém sabe porque, arriscar tudo, talvez imaginando que ganhar um título com uma vitória seria mais emblemático. Acabou destruindo seus pneus, ao teimar em se manter na frente de uma Ferrari nitidamente mais rápida. Mesmo antes de parar na brita, teve momentos assustadores que, no entanto, não diminuíram seu ímpeto. Fruto da juventude? É possível. Afinal, o "garoto prodígio" não tem nem 23 anos. Mas se isso lhe custar o título de 2007, o fenômeno pode ser massacrado e nunca mais ter uma oportunidade igual. Seria uma pena. É bonito ver a tocada do inglês.
Como tem sido bonito ver a de Kimi Raikkonen. O finlandês foi o único que subiu no pódio nas últimas seis corridas. Ganhou duas das últimas três, e só não conseguiu uma tríplice vitória por causa da inexplicável tática da Ferrari no Japão, quando obrigou seus pilotos a largar com pneus intermediários numa pista encharcada. Mesmo assim, Kimi chegou a apenas nove segundos do vencedor, Hamilton. O finlandês chega a Interlagos disputando o título com méritos, depois de um início de temporada difícil.
A princípio, foi suplantado por Massa, mas, conforme os meses foram passando, Raikkonen foi se habituando à Ferrari, uma equipe que tem uma forma de trabalhar completamente diferente da McLaren, onde ele esteve por cinco anos. A partir de julho, o finlandês mostrou suas garras, e ninguém venceu tanto, nem fez tantos pontos quanto Kimi desde então. Pena que a reação parece ter vindo tarde demais.
Para Fernando Alonso, o segundo lugar na China e o abandono de Hamilton abriram uma brecha no caminho rumo ao título que ele já julgava fechada. Completamente sozinho na equipe, ele vai fazer o máximo para tentar desestabilizar ainda mais o jovem companheiro. Ficou claro em Xangai que o inglês se apavorou quando percebeu que o espanhol se aproximava rapidamente de seu carro, descontando cinco a seis segundos por volta, quando seus pneus começaram a ficar obsoletos. Isso acabou provocando o erro de Hamilton na entrada do boxe logo depois. Como uma velha raposa, Alonso deve ter percebido no pódio que o seu maior aliado rumo ao título estava ao seu lado.
As chances do asturiano estão depositadas exatamente em Kimi Raikkonen. E vice-versa. Explica-se. Se o campeonato estivesse apenas entre as McLaren, Alonso só teria a perder caso os carros de Wöking se tocassem por alguma razão em Interlagos. Com Raikkonen na parada, a situação se inverte. O asturiano pode tentar forçar uma ultrapassagem sobre o inglês, o que obrigaria Hamilton a evitar o choque para não dar o título a Raikkonen. Com o clima de guerra entre os pilotos da McLaren instalado, esta hipótese não pode ser descartada.
Uma colisão passa a ser, então, nem um pouco interessante para o inglês, que teria que fazer uma prova mais conservadora. Mas nem tanto. Porque, caso Alonso vença, o inglês é obrigado a chegar em segundo de qualquer maneira. É, a situação de Hamilton já não é tão simples como parecia. E aquela caixa de brita pode entrar para a história.
O campeonato ainda continua mais perto do inglês. Só que a ameaça agora é dupla. Com a vitória de Raikkonen, o finlandês chega a 100 pontos, atrás de Hamilton com 107 e Alonso com 103. A própria história da F1 mostra o perigo que isso representa. Nas últimas três vezes em que isso aconteceu, quem terminou campeão não era o então líder. Em duas vezes, o campeão foi Nelson Piquet (1981 e 1983). Na última, Alain Prost (1986). Tanto Alonso como Raikkonen vão entrar como franco-atiradores, e vai sobrar para o inglês toda a pressão. Ele não suportou em Xangai. Suportará em Interlagos?
Seu comportamento foi inexplicável. Bastava manter Alonso no seu retrovisor e controlá-lo que o título seria seu. Resolveu, ninguém sabe porque, arriscar tudo, talvez imaginando que ganhar um título com uma vitória seria mais emblemático. Acabou destruindo seus pneus, ao teimar em se manter na frente de uma Ferrari nitidamente mais rápida. Mesmo antes de parar na brita, teve momentos assustadores que, no entanto, não diminuíram seu ímpeto. Fruto da juventude? É possível. Afinal, o "garoto prodígio" não tem nem 23 anos. Mas se isso lhe custar o título de 2007, o fenômeno pode ser massacrado e nunca mais ter uma oportunidade igual. Seria uma pena. É bonito ver a tocada do inglês.
Como tem sido bonito ver a de Kimi Raikkonen. O finlandês foi o único que subiu no pódio nas últimas seis corridas. Ganhou duas das últimas três, e só não conseguiu uma tríplice vitória por causa da inexplicável tática da Ferrari no Japão, quando obrigou seus pilotos a largar com pneus intermediários numa pista encharcada. Mesmo assim, Kimi chegou a apenas nove segundos do vencedor, Hamilton. O finlandês chega a Interlagos disputando o título com méritos, depois de um início de temporada difícil.
A princípio, foi suplantado por Massa, mas, conforme os meses foram passando, Raikkonen foi se habituando à Ferrari, uma equipe que tem uma forma de trabalhar completamente diferente da McLaren, onde ele esteve por cinco anos. A partir de julho, o finlandês mostrou suas garras, e ninguém venceu tanto, nem fez tantos pontos quanto Kimi desde então. Pena que a reação parece ter vindo tarde demais.
Para Fernando Alonso, o segundo lugar na China e o abandono de Hamilton abriram uma brecha no caminho rumo ao título que ele já julgava fechada. Completamente sozinho na equipe, ele vai fazer o máximo para tentar desestabilizar ainda mais o jovem companheiro. Ficou claro em Xangai que o inglês se apavorou quando percebeu que o espanhol se aproximava rapidamente de seu carro, descontando cinco a seis segundos por volta, quando seus pneus começaram a ficar obsoletos. Isso acabou provocando o erro de Hamilton na entrada do boxe logo depois. Como uma velha raposa, Alonso deve ter percebido no pódio que o seu maior aliado rumo ao título estava ao seu lado.
As chances do asturiano estão depositadas exatamente em Kimi Raikkonen. E vice-versa. Explica-se. Se o campeonato estivesse apenas entre as McLaren, Alonso só teria a perder caso os carros de Wöking se tocassem por alguma razão em Interlagos. Com Raikkonen na parada, a situação se inverte. O asturiano pode tentar forçar uma ultrapassagem sobre o inglês, o que obrigaria Hamilton a evitar o choque para não dar o título a Raikkonen. Com o clima de guerra entre os pilotos da McLaren instalado, esta hipótese não pode ser descartada.
Uma colisão passa a ser, então, nem um pouco interessante para o inglês, que teria que fazer uma prova mais conservadora. Mas nem tanto. Porque, caso Alonso vença, o inglês é obrigado a chegar em segundo de qualquer maneira. É, a situação de Hamilton já não é tão simples como parecia. E aquela caixa de brita pode entrar para a história.
Otto Jenkel trabalhou no FOCA TV, cobrindo o GP do Brasil, quando a prova era disputada no Rio. Acompanha Fórmula 1 desde meados da década de 70, "quando a F1 era perigosa e o sexo seguro, hoje inverteu". Escreve sobre Fórmula 1 às segundas-feiras.
Um comentário:
Saudosos títulos do Nelson. Continuo torcendo pelo Robinho, mas o vacilo foi inacreditável. Ele chegaria na pior hipótese em 3º, bastando 1 mísero ponto no Brasil. A pressão sobre ele será insustentável. Vc vai cobrir o GP? Lembro de nossos tempos em Interlagos, quando vc penetrou num dos melhores locais da prova, o setor B. Bons tempos... Saudações tricolores...
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