quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Conclusões do fracasso

Leandrinho e Lula Ferreira, os protagonistas dentro e fora de quadra (foto: CBB)

Por Marcelo Monteiro

Esperava que a coluna desta semana fosse para comemorar a sonhada classificação do Brasil para o torneio masculino de basquete dos Jogos Olímpicos. Afirmei na estréia deste espaço – e reafirmo – que a classificação como segundo melhor do Pré-Olímpico das Américas era obrigação. Perder para o misto da Argentina e outros adversários, não seria aceitável. Pois bem, perdemos duas vezes para a equipe B da Argentina (mais Scola) e, não contentes, conseguimos ser derrotados também duas vezes por Porto Rico.

Mas o resultado acabou não se tornando surpreendente diante de tudo que aconteceu com a seleção no decorrer da competição. Surpreendente foi ver um jogador se recusando a entrar em quadra, atletas discutindo no banco de reservas (Marcelinho e Nenê), um treinador quase mudo e passivo à beira da quadra diante dos sucessivos erros do time e a entrevista-bomba de um integrante do time desancando o treinador.

Algumas conclusões deste novo fracasso do Brasil:

- Apesar da postura da CBB em evitar mudanças drásticas no comando das seleções, com o resultado que for (vide o exemplo Barbosa na seleção feminina), certamente algo mudará. Se Lula for mantido no cargo (o que, sinceramente, não considero uma hipótese a ser descartada), o time do Pré-Olímpico Mundial deverá ter mudanças significativas. Fora Marquinhos, que se ‘suicidou’ com o treinador após a entrevista ao “Lance”, outros não deverão ser mais chamados, como Nezinho. E não vejo Nenê jogando novamente sob o comando de Lula.

- Aliás, coube ao armador uma das cenas ilustrativas da campanha brasileira. Nezinho sempre foi muito contestado por grande parte dos analistas do basquete, que não viam nele condições em vestir a camisa amarela (este que vos escreve, por exemplo). E não é que o jogador apunhala seu mecenas, que o convocou mesmo sob uma saraivada de críticas, se recusando a entrar em quadra contra o Uruguai? Deveria ter sido dispensado naquele exato momento, retornando para o Brasil. Mas acabou jogando contra Porto Rico. Será que Lula ou o novo treinador vão insistir com o armador? Aposto que não.

- Apesar de ser um jogador que me agrada (até pelo nome), Marcelinho provou no Pré-Olímpico que é um arremessador de três pontos e só. Depois um excelente desempenho no Pan, caiu muito em Las Vegas, revelando, contra equipes mais fortes, suas deficiências de marcação e na armação de jogo, muito importantes para um titular de seleção na posição 3 (ala), que muitas vezes passa a ser 2 (ala-armador). Para mim, o Pré-Olímpico foi a despedida do jogador da seleção. Não acredito que um novo treinador vai convocá-lo.

- Cestinha do time, Leandrinho comprovou que ainda não está maduro o suficiente para liderar a equipe em quadra. O lance final do tempo normal do primeiro jogo contra a Argentina foi exemplar. Também foi prejudicado pela falta de alternativas táticas do time, quando foi anulado pela marcação americana, por exemplo, e pela falta a seu lado de um armador de verdadeiro talento (Valtinho é bom, mas não é o nome ideal para organizar uma seleção como a brasileira).

- Nenê voltou a decepcionar. Mal fisicamente, sofreu uma lesão no primeiro quarto da partida decisiva contra a Argentina. A minha impressão é que o jogador encara a seleção como um fardo. Uma espécie de obrigação. (Saco, lá vem esse caras de novo querendo interromper as minhas férias!!!!). Segue sendo importante para o time, mas se não mudar sua postura e com Thiago Splitter e Varejão, pode acabar se tornando uma terceira opção.

- Marquinhos teve o mérito de, corajosamente, falar o que pensa sobre o treinador, mas o fez na pior hora possível. Acha que joga mais que realmente joga por estar na NBA. Um de seus comentários foi de que jogadores estavam chateados por atuar muitos minutos nos clubes e pouco tempo na seleção. Isso é algo absolutamente normal. Uma seleção tem cinco titulares e quatro, cinco jogadores que entram com freqüência. Os outros são opções para momentos específicos (titulares pendurados, jogo decidido). Aliás, essa reclamação não vale para o próprio. Em apenas 13 jogos pelo New Orleans Hornets, Marquinhos atuou 7,9 minutos em média. Será que ele reclamou com o treinador Byron Scott pelo pouco tempo em quadra?

- E por último, a comissão técnica. O Brasil, mais uma vez, revelou que não tem alternativas táticas suficientes para encarar adversários de alguma qualidade. O que já havia ocorrido no Mundial, voltou a se repetir: jogadores improvisando nos momentos de dificuldade, desequilíbrio na definição do elenco (poucas alternativas para a posição 2 e 3) e mau relacionamento entre atletas e comissão. Se nada mudar, o Brasil, que ficou agora em quarto no continente americano, obviamente não ficar entre três primeiros em uma competição que contará com quatro bons times europeus. E mais a Nova Zelândia, quarta colocada no Mundial de 2002.

Bandejas

- Alex foi um dos poucos sobreviventes da campanha brasileira. Apesar da estatura baixa em relação aos demais, tem uma impulsão impressionante, grande arsenal técnico e bom poder defensivo. Merece novas chances na equipe.

- E Baby? Trocou o frio de Salt Lake City pelo gelo da Rússia. Acabou supervalorizado no draft e sofreu as conseqüências da grande expectativa que gerou. Agora vai tentar um difícil caminho de volta à NBA.

Marcelo Monteiro mal chega a 1,70m, mas é mortal nas bolas de três. Torcedor fanático do Atlanta Hawks, trabalhou por nove anos em sites das Organizações Globo. Hoje, empresta seus conhecimentos à Textual Assessoria. Escreve sobre basquete às quartas-feiras.

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