terça-feira, 4 de setembro de 2007

Um ippon nas boas maneiras

Falta dinheiro para levar as delegações no colo (foto: Site oficial Rio 2007)

Por Vitor Sérgio Rodrigues

Ser um bom anfitrião é uma arte. Nada pior para quem recebe do que ver seus convidados saírem falando mal do seu evento. E para os convidados, nada é pior do que a terrível sensação de que foi a um programa de índio. E faltou pouco para essas duas situações desagradáveis acontecerem no Rio de Janeiro neste mês. O Mundial de Judô, o segundo evento mais importante da modalidade, marcado para a Cidade Maravilhosa de 13 a 16 de setembro, quase foi cancelado ou teve que mudar de sede.

Tudo por que o prefeito do Rio, César Maia, não seguiu as normas de receber bem e não quis cumprir acordos a que se comprometeu. Essas “regras de etiqueta” são da ordem de R$ 3 milhões e sem elas, a organização do Mundial não conseguiria cumprir tudo que ficou combinado com a Federação Internacional de Judô, quando da vitória da nossa candidatura, em 2003. Maia prometeu arcar com R$ 5 milhões e complementar mais R$ 3 milhões caso a organização não conseguisse levantar a quantia com a iniciativa privada (lógico que não conseguiu).

Ou seja, nosso prefeito (que chegou a aceitar passivamente a possível mudança do evento para Belo Horizonte) queria dar uma “beiça” na organização, que, por sua vez, repassaria isso para os nossos convidados, a elite do judô mundial, logo o judô, um dos esportes mais tradicionais e influentes dos Jogos Olímpicos. Sabe o que isso significaria: que quem viesse ao Rio disputar a competição teria que pagar sua hospedagem e alimentação. Repito, hospedagem e alimentação! Em um Mundial e não em uma competição entre escolas de bairros vizinhos.

É só vislumbrar a cena: um campeão do mundo tendo que procurar um hotelzinho de quinta para economizar na diária. Ou então levando um sanduíche de queijo dormido, em pão de forma (com casca) para a suntuosa Arena Olímpica do Rio, a fim de “salvar algum” durante sua estada na cidade que “viveu a energia” no Pan. Convidado fosse, eu não viria e ainda esculhambaria meu anfitrião.

A esculhambação foi feita e o caso apenas resolvido após a Federação Internacional reclamar formalmente em uma carta para o Comitê Olímpico Brasileiro, tratando como absurda a proposta de os 776 atletas bancarem suas despesas. No fim, o COB prometeu entrar com quase R$ 2 milhões para consertar o orçamento. E o nosso dinheiro mais uma vez foi usado como emergência, já que o Ministério do Esporte se comprometeu a liberar R$ 450 mil para a vaquinha do Mundial.

O caso repercutiu. Os convidados falaram muito mal em todo mundo, antes mesmo de serem recebidos no Rio. E tudo isso em uma cidade que confia plenamente que tem condição de ser a maior anfitriã do mundo esportivo, na Olimpíada de 2016. Mas isso é um tema para outra coluna.

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É de espantar sempre a megalomania do brasileiro quando quer sediar eventos esportivos. O Pan tinha que ter nível olímpico e ser o “melhor de todos os tempos”. A Copa de 2014 tem que ter estádios iguais ao da Alemanha. Assim foi com o Mundial de Judô. Na campanha para ser sede, o comitê organizador prometeu fazer o “melhor mundial de todos”. E para isso ofereceu duas passagens aéreas (ida e volta) para cada membro de cada delegação.

Um gasto tão incomum e absurdo, que surpreendeu a própria federação internacional. Assim como houve no Pan (quando o Co-Rio prometeu vestir todas as delegações que assim desejassem e dar os direitos de televisão para os países do Caribe) isso cheira mais como suborno ao colégio eletivo do que outra coisa.

Vitor Sérgio Rodrigues convida e paga a conta. Trabalhou no Diário Lance, Jornal dos Sports e Globoesporte.com. Cobriu as Olimpíadas de Atenas. Hoje, é comentarista da Band e da TV Esporte Interativo. Escreve para o Por Esporte às terças-feiras.

3 comentários:

Anônimo disse...

E uma cidade dessa quer sediar uma Olimpíadas... Excelente texto por mostrar que nosso prefeito brinca com o respeito internaacional.

Anônimo disse...

Fala Felipe, beleza?

Cara, obrigado pela audiência e pelo comentário.

Se formos por esse caminho, o Rio 2016 vai ser só um forno para torrar dinheiro.

Abraço,
Vitor Sergio Rodrigues

Anônimo disse...

Excelente analise de um problema já decorrente no mundo esportivo brasileiro: a falta de organização dos dirigentes brasileiros. O que mais me impressiona é a falta de investimento por parte da iniciativa privada em um evento desta magnitude, fato decorrente da falta de organização dos dirigentes brasileiros.