domingo, 30 de setembro de 2007

Entrando por trás

Maradona e Caniggia: pontapé inicial para a realização do Mundial (foto: anônimo)

Por Odisseu Kapyn

Provando que futebol não é só coisa pra homem, as meninas estão mandando ver em disputadíssimas partidas do mundial organizado este mês. Ahn? Que Marta, o quê! Estou falando do Mundial de Futebol Gay, que teve a Argentina como sede e terminou neste sábado, com a vitória de um time da casa. Teve muita entrada dura por trás, bola nas costas, cabeceadas pra dentro, bola entre as pernas e tantos outros lances “charmosos”.

Mas, piadinhas à parte, a iniciativa é importante para derrubar barreiras, acabar com o preconceito e socializar essa parcela da população (desculpem-me os machões, mas sou jornalista com raízes na área cultural; não tem como eu não ter alguma simpatia por essa turma depois de tanto convívio...). A lamentar, apenas o naipe dos jogadores: todos amadores. São empresários, arquitetos, policiais (inspirados pelo Village People, talvez). Boleiro pra valer, nada. A verdade é que um campeonato desse tipo só vai ser legal mesmo quando pudermos ver profissionais disputando. É quando veremos os craques saindo do armário dos vestiários.

Pois é. Por ser um esporte supostamente másculo, ainda temos que fingir que não tem gay no futebol. O quê? Por que “supostamente másculo”? Ora, porque másculos mesmo são os esportes que precisam de um cara fortão, de porte físico avantajado, disposto a dar porrada e sem medo de levar na cara. É coisa como o futebol americano ou o rugby, nos quais jogadores como o Zico em início de carreira ou o Sávio, franzinos, nem chegariam perto. Tanto que o futebol feminino vem se desenvolvendo bem, mesmo com mulheres que depois de tirar as chuteiras não calçam botinas.

Mas, como eu ia dizendo, a comunidade futebolística tem que fechar os olhos para quem pisca os olhinhos. Aos torcedores, restam apenas os boatos para nos dar as pistas do que rola por trás.

As histórias são muitas. Se formos pelas especulações, no Brasil já daria para montar uma seleção só de jogador com dupla função, por assim dizer. Grandes craques já caíram na boca do povo. E quem tem boca vai a Roma e volta de terno. Já teve até jogador com fama de pegador de mulher que era visto com suspeita, ainda mais depois de ser solidário a outro jogador suspeito que ficou de fora de uma Copa. Não é só de gaúcho que rolam boatos. Dizem que era um baiano o tal namorado secreto do mundo do futebol que o ator Jorge Lafond (Vera Verão) afirmava ter. E só para contrariar, teve também uma historinha de um pagodeiro e um atacante. E recentemente, as insinuações vieram para um jogador que teria namorado o dançarino de funk Lacraia.

Isso tudo sem contar o caso Richarlyson, que chegou a negar que gosta de jogar enfiado. Estranho é como a gente acaba cheio de dedos para escrever sobre esses boatos, sem citar nomes. É medo de processo, temor por cometer uma injustiça ou subconsciente de torcedor, que fica mais confortável pensando que não existe boiolice no futebol? É bem mais relaxante ver uma partida sem ficar especulando sobre todo aquele agarramento na hora das comemorações. “Vambora Caniggia, vambora Maradona! Terminem logo esse beijo na boca másculo e voltem pro jogo!”

Bom, não estamos aqui pra julgar ninguém. Quem gosta de julgar é juiz. De preferência, um juiz como Jorge Emiliano, o popular Margarida. É, ele morreu (ou virou purpurina). Mas continua vivo no anedotário do futebol, com suas performances sendo vistas ainda hoje nos vídeos à disposição no You Tube.

Quem gosta de julgar também é juiz de Direito mesmo, como Manoel Junqueira, que deu parecer desfavorável a Richarlyson na ação por difamação que o jogador moveu contra o dirigente do Palmeiras. Diz o magistrado, na sentença, que no caso de um jogador ser homossexual, melhor é que funde “uma federação” à parte, já que “prejudicam a uniformidade de pensamento da equipe”. É. Acho que por um longo só vai ter perna-de-pau nos mundiais de futebol gay.

Odisseu Kapyn apóia a diversidade heterossexual. Ganhou fama no Cocadaboa. Hoje, escreve na Revista M e no blog Humor Marrom, e apresenta o Ponto Cômicos, grupo de comédia stand-up em cartaz no Saloon 79, no Rio. Faz suas gracinhas aos domingos.

Um comentário:

Anônimo disse...

E daí se fulano ou beltrano é gay??? Muda alguma coisa???