sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Dick Vigarista

O problema do bicampeão Fernando Alonso é de caráter (foto: Autosport)

Por Vicente Toledo

Quem tem mais de 20 anos provavelmente vai se lembrar do personagem malvado do desenho animado Corrida Maluca. Ao lado de seu cachorro Muttley, aquele da risadinha inconfundível, Dick Vigarista bolava os planos mais mirabolantes possíveis para sabotar seus adversários e chegar em primeiro lugar.

Qualquer semelhança com a F-1 dos dias de hoje não passa de mera coincidência, afinal, como todo bom programa infantil, a Corrida Maluca procurava ensinar as crianças que a trapaça não compensa. Por isso, não importa o quão perto estivesse da vitória, o Dick Vigarista sempre se dava mal (e tome hihihihihi do Muttley).

Ao longo dos anos, vários pilotos encarnaram, de certa forma, o espírito de Dick Vigarista na F-1. Nelson Piquet era mestre em explorar as brechas do regulamento para levar vantagem, Alain Prost e Ayrton Senna jogaram seus carros uns contra os outros em disputas nada limpas, assim como Michael Schumacher fez diversas vezes, especialmente no início da carreira.

Mas ninguém foi tão longe nesse caminho quanto o espanhol Fernando Alonso, um dos poucos pilotos no mundo que pode dizer com orgulho que enfrentou o maior de todos os tempos na pista e saiu vencedor. Não só uma vez, mas duas consecutivas.

Jovem e boa pinta, ele tem tudo para ser um ídolo incontestável do automobilismo. Ou melhor, quase tudo. Falta o bom caráter. Depois de tudo o que fez nesta temporada, Alonso mostrou que não possui o respeito e a honestidade dos grandes heróis. Em vez disso, pratica a mesquinharia e a trapaça, não somente contra os adversários de outras equipes (como mostrou a sua participação mais do que ativa na pilhagem de informações confidenciais da Ferrari), mas também contra seus próprios colegas de trabalho.

Enquanto apenas reclamava por não receber o tratamento diferenciado que considerava merecer, estava em seu direito. Já diz a sabedoria popular: quem não chora, não mama. Mas acuado pelo sucesso inesperado do novato inglês, ele passou a jogar cada vez mais sujo.

Primeiro, tentou comprar o respeito da equipe ao oferecer prêmios em dinheiro para que os mecânicos o ajudassem a bater Lewis Hamilton. Depois, sentindo-se prejudicado por uma atitude infeliz do concorrente, fez aquele papelão na Hungria: ficou parado no pit stop para impedir Hamilton de voltar à pista, e perdeu a razão.

Alonso ultrapassou todos os limites do bom senso ao chantagear o próprio chefe, ameaçando revelar à FIA o esquema de espionagem do qual ele também se beneficiou. O tiro saiu pela culatra, Ron Dennis abriu o jogo primeiro e, desde então, não falou mais com o espanhol.

Ainda assim, ele se safou. Como todo bom malandro, soube o momento de recuar e não bater de frente com quem pode mais. Por isso, mesmo depois de tudo, Alonso está muito próximo do terceiro título mundial. E como a F-1 não é a Corrida Maluca, o Dick Vigarista pode vencer.

P.S. Peço perdão aos fãs da Corrida Maluca se escrevi algum nome errado, ou se em algum dos episódios o Dick Vigarista se deu bem. Já faz muito tempo que eu não vejo um episódio. Eu sei, já inventaram o Google, mas às vezes ele também falha.

Vicente Toledo aprecia Massa à italiana aos domingos, mas dispensa as pizzas. Trabalha como repórter do UOL há seis anos, por onde cobriu diversos campeonatos ao redor do mundo. Hoje, apresenta o UOL News. Escreve sobre automobilismo às sextas-feiras.

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