domingo, 2 de setembro de 2007

Ainda os cavalos, e mais os atiradores

Atentem para a protuberância em azul. Assim é mole. (foto: FTERJ)

Por Odisseu Kapyn

Na semana passada, eu expliquei aqui neste conceituado site por que o hipismo não é realmente um esporte. Ou melhor, por que é um esporte apenas para os cavalos, e não para os humanos. Por uma grande coincidência, no mesmo dia em que foi publicada minha explanação, que exaltava esses magníficos animais, fui ofendido com um termo eqüino. Foi no Maracanã, onde fui assistir a Flamengo e Goiás, na emocionante luta do clube carioca pela glória de ficar fora da zona de rebaixamento. Mas vamos logo ao xingamento que me atingiu naquele dia.

No intervalo entre o primeiro e o segundo tempo, fui ao banheiro do estádio para livrar-me dos resíduos das duas latas de Itaipava ® que consumi ao exorbitante preço de três reais a unidade. Estava ansioso por conhecer o toalete do novo Maracanã, pois tinha ouvido elogios às instalações. Fui ao WC acompanhado de um dos companheiros que estavam assistindo ao jogo comigo. Entramos no banheiro, ele foi para um lado e eu imediatamente fui para o outro (não queria urinar juntinho, sabem como é...).

Devia eu tê-lo acompanhado. Assim não teria me encaminhado para o que me parecia um novo e avançado mictório de linhas arrojadas. Um sujeito já estava lá urinando no tal mictório e eu simplesmente fiz o mesmo.

O recinto estava ainda vazio quando entrei, mas aos poucos foi enchendo. E eu na minha, admirando as estranhas peças que jogavam água para o mictório. “Que barato esse novo Maracanã! Há torneiras para lavar o mictório!”. Foi quando alguns torcedores foram chegando ao lado para lavar as mãos e o rosto. “Que pessoal mais porco! Vieram lavar a mão no mictór... Ops!”. Pois é, eu estava me aliviando na pia. Tentei disfarçar e acabar logo o serviço, mas começaram os protestos. “Isso aqui é pia!”, ralhavam os rapazes.

Nesse momento, só eu pagava esse mico, pois o rapaz que chegou antes de mim já tinha terminado antes de a turba entrar. Com medo de uma reação mais virulenta, botei o rabo entre as pernas (ou quase isso) e fui saindo em direção a uma cabine com vaso. Foi quando ouvi um dos torcedores gritar: “É um pangaré, mesmo!”. Quase voltei para defender os cavalos e recomendar a leitura do meu artigo sobre o hipismo. Mas achei que seria uma propaganda negativa para o Por Esporte e desisti.

O pior é que, quando saí de lá, vi um monte de gente urinando na parede externa do banheiro. Vi que não estava tão mal assim, pois havia quem fizesse pior. E propositalmente. Falta de adestramento, digamos.

Pois bem, continuarei com os cavalos para falar rapidamente sobre como uma outra modalidade poderia ser considerada um esporte com alguns ajustes:

O TIRO ESPORTIVO

Mesmo em tempo de violência urbana desenfreada, não há como negar que as armas de fogo foram importantíssimas para a humanidade. Mesmo que suas mais nobres utilidades já tenham ficado para trás. Ninguém hoje vai usar pistolas e revólveres para efetivamente defender seu território contra uma nação inimiga (bombas, mísseis, armas químicas e biológicas, minas terrestres e aviões pilotados por terroristas são muito mais eficazes), nem para caçar animais que lhe sirvam de alimento (é bem mais prático comprar cadáveres já fatiados no supermercado do que sair para caçar um búfalo ou um coelhinho serelepe).

Ainda assim, a civilização tem uma dívida com os indivíduos de boa mira. Eles são importantes. Já foram mais, mas ainda são úteis. Afinal, atiradores de elite da polícia são uma mão na roda contra malfeitores. Eles realmente merecem prêmios. Mas merecem medalhas olímpicas? Não. Lamento muito, mas não concordo. Ainda mais porque não tenho um colete à prova de balas.

Digo isso porque as competições de tiro não são nada atléticas. Não há um desafio de resistência, não há o risco de contusões e ferimentos, não há a superação de seus limites. Quem se desgasta são as armas. Quem se machuca são os alvos. Onde está a atividade física no tiro esportivo? Os atiradores não precisam nem se agachar para pegar as cápsulas das balas!

Mas há uma solução. Basta fundir dois não-esportes e teremos um esporte legítimo. A saída é a criação do “tiro hípico”. Calma, não vou sugerir uma prova em que os atiradores mirassem cavalos que “precisam” ser sacrificados (isso não resolveria a questão, pois os humanos continuariam sem suar). No tiro hípico, os competidores teriam que acertar alvos montando cavalos, como nos tempos do faroeste e das primeiras guerras. Assim, eles se arriscariam a sangrar, perderiam peso, fariam exercícios, ativariam a sudorese e poderiam ser classificados como atletas.

Aí sim, teríamos um esporte. E ninguém bocejaria tanto ao assistir a uma prova de tiro, que só não deixa os torcedores (quando há torcedores) dormirem por causa dos estampidos. Aconselho fortemente o acato à minha sugestão. É tiro e queda.

Odisseu Kapyn saca e atira com o que tem à mão. Ganhou fama no Cocadaboa.com. Hoje, escreve na Revista M... e no blog Humor Marrom, e apresenta o Ponto Cômicos, grupo de comédia stand-up em cartaz no Saloon 79, no Rio. Faz suas gracinhas aos domingos.

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