domingo, 23 de setembro de 2007

Sobre você e eu


Não permita que a honra te desfaça. Nem que a ética te apague. Ou que a hipocrisia te ilumine ao extremo. Tenha um brilho próprio, mas verdadeiro.

Por Pedro Ribeiro

A honra sempre motivou espetáculos variados ao longo da humanidade. Guerras, homicídios e ataques à foca. Honradez, por exemplo, é palavra inerente a qualquer religião. É fácil presumir que, para se tornar honrado, o homem comum enfrente dilemas ao longo da vida.

Ética é o dilema mais doloroso e complicado. Convido-o, amigo leitor, a imaginar um mundo maravilhosamente egoísta. Um mundo em que você é a chave de todas as questões. Não precisa se preocupar com nada ou com ninguém. Apenas com a ética própria. Há, porém, algo neste mundo perfeito que nunca o deixará só: a hipocrisia. A tríade Honra-Hipocrisia-Ética é importante em nosso caso, não se esqueça.

Para mostrar que nosso modelo é democrático, vamos ao escurinho do cinema. Tropa de Elite, considerado por muitos como o melhor filme da Retomada, é, em sua essência, uma hipocrisia sem limites. Seja pelo roteiro propositalmente confrontador, seja pelas cópias piratas espalhadas pelas cidades do Brasil. Muito jornalista ético viu.

Do escurinho do cinema para os holofotes do estádio. Cinema e futebol servem como bons modelos da sociedade moderna. Bastaram alguns segundos no Mineirão para que todos nós, efusivos, virássemos não defensores, mas o próprio futebol arte.

Esquecemos de quando vibramos com a raça exacerbada de nossos grandes jogadores em outros momentos. A raça de uns é a violência de outro. Ou quando, pela danada da honra à pátria, nos permitimos driblar algumas leis do futebol. Como a malandragem de Nilton Santos na Copa do Mundo de 1958 contra a Espanha. “Uma jogada de gênio”. E pela pátria tudo é permitido!

E o que seria do futebol brasileiro, de arte pura, se o STDJ disparasse sua hipocrisia no Mundial de 70? Pelé, Carlos Alberto e Tostão certamente não jogariam a final daquele ano contra a Itália.

Amigo leitor, a verdadeira honra é aquela que a ninguém agride. Nossa ética é efêmera, varia conforme nosso tempo e nossos objetivos. Nem por isso somos maus. E se hipocrisia é lutar contra a pirataria e as agressões nos campos de futebol, lhe pergunto: Não vale a pena ser hipócrita?

Pedro Ribeiro tinha doze anos quando foi chamado de hipócrita pela irmã. Nem ele, nem a irmã sabiam o que significava tal palavra. É Coordenador de Eventos do SporTV. Escreve sobre esporte e cultura aos sábados.

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