sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Ressaca

Reunião do Conselho Mundial da FIA, em Paris: fiasco (foto: Autosport)

Por Vicente Toledo

Depois do estupro à ética e aos valores do esporte promovido pela FIA na última quinta-feira, pouco nos resta a não ser lamentar que o banditismo e o oportunismo de alguns poucos tenham estragado o trabalho de muitos profissionais sérios e o divertimento de milhões de torcedores que fazem da Fórmula 1 a maior categoria do automobilismo mundial.

Este campeonato que aí está, embora emocionante e equilibrado como há muito não se via, será sempre lembrado como aquele da falcatrua que não deu em nada, como um péssimo exemplo de que a honestidade e o jogo limpo não têm nenhuma força diante dos interesses políticos e econômicos de entidades, equipes e patrocinadores.

Se ficou provado que a McLaren, no mínimo, sabia do roubo de informações da Ferrari e as utilizou para obter vantagem competitiva, não só sobre a adversária direta, mas também sobre as demais concorrentes, não há justificativa aceitável para manter seus dois pilotos na disputa. Vão dizer que foi para preservar a bela briga pelo título. Mas quem garante que ela estaria acontecendo se a McLaren não tivesse jogado sujo?

Não se trata de defender a Ferrari, reconhecida especialista em encontrar brechas (às vezes até criá-las) no regulamento para tornar seus carros mais velozes. A questão é proteger a imagem e a credibilidade da F1, coisas que o Conselho Mundial da FIA fez questão de manchar, principalmente pelo cheiro de conchavo que ficou no ar de Paris.

Haverá festa em Maranello pelo título de construtores que acaba de cair no colo? É evidente que não. Então, como pode a Ferrari, a julgar por sua reação resignada, sem qualquer menção ao direito de recurso, ter ficado satisfeita com tal decisão?

Talvez porque tenha lá os seus esqueletos escondidos no armário e preferiu abafar o caso a correr o risco de vê-los expostos. É óbvio que não passa de especulação, mas as atitudes da FIA e das próprias equipes dão margem a esse tipo de teoria conspiratória.

Vão fazer alguma diferença os US$ 100 milhões a menos na conta de Ron Dennis? É claro que não, principalmente com o título de pilotos garantido - e o retorno dos investimentos no bolso. E depois de tudo isso, alguém acredita que a McLaren, mesmo pintando o carro de vermelho e botando um cavalinho no capô, corre qualquer risco de ficar de fora da temporada 2008?

Vicente Toledo aprecia Massa à italiana aos domingos, mas dispensa as pizzas. Trabalha como repórter do UOL há seis anos, por onde cobriu diversos campeonatos ao redor do mundo. Hoje, apresenta o UOL News. Escreve sobre automobilismo às sextas-feiras.

Nenhum comentário: