segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O retorno do maior de todos

Baloubet du Rouet e Rodrigo Pessoa: dupla de ouro em Atenas (foto: Studforlife.com)

Por Juan Torres

O agosto de 1985 é inesquecível para qualquer flamenguista. Uma entrada do zagueiro Márcio Nunes, do Bangu, arrebenta o joelho de Zico e coloca o maior ídolo na história do Rubro-Negro em uma seqüência de cirurgias que, na verdade, nunca o recuperaram totalmente. Pouco menos de um ano depois, seria convocado por Telê Santana para a Copa do Mundo. E acabaria perdendo o fatídico pênalti contra a França. Em 87, Zico foi responsável por levar o Flamengo ao título brasileiro, e antes fora um dos protagonistas do título mundial do clube carioca. Mas pouco importa. São conquistas menores para os não-Flamengo. O camisa 10 já estava condenado à cruz de todas as demais torcidas.

Outro agosto, o de 2006, é inesquecível para qualquer amante do hipismo. E, principalmente, para Rodrigo Pessoa. Baloubet du Rouet, considerado por muitos o maior cavalo de todos os tempos, responsável por suas principais conquistas – três Copas do Mundo consecutivas (1998, 1999 e 2000) e medalha de ouro em Atenas 2004 –, se machuca. Onde? No joelho.

Baloubet já teve seu pênalti perdido: foi na final das Olimpíadas de Sydney, quando refugou e tirou do Brasil a possibilidade de medalha de ouro, no salto individual, prova em que o conjunto com Rodrigo era favorito, justamente por vir do tricampeonato Mundial. O cavalo francês, no entanto, escapou da cruz em 2004. Não fosse o ouro conquistado nas Olimpíadas de Atenas, seria lembrado para sempre como o cavalo que refugou no momento decisivo. No olhar da maioria, no hipismo, a Copa do Mundo é título menor.

Mas eis que um ano se passa desde a lesão, e Baloubet du Rouet volta às pistas. Aos 18 anos, o cavalo passou por uma difícil recuperação, mas entrou na 6ª etapa do Global Champions Tour, em Valkenswaard (Holanda), na última semana, e completou a prova sem cometer faltas. Pessoa, prudentemente, poupou-o das provas mais difíceis e já avisou que vai testar o cavalo aos poucos.

Dificilmente, no entanto, Baloubet será convocado para Copas do Mundo novamente. No final de 2006, Rodrigo Pessoa já havia anunciado que 2007 seria o ano de aposentadoria do cavalo e que só disputaria algumas provas após sua recuperação. No Pan, Rodrigo montou Rufus tanto na prova por equipes (ouro) quanto na individual (prata) e, em seguida, no Athina Onassis International Horse Show, em São Paulo. Na Holanda, ficou novamente com Rufus a responsabilidade de competir nas principais provas.

Para os saudosistas, no entanto, há uma boa notícia. Rodrigo Pessoa já está montando o filho de Baloubet, Napoli du Ry, nas provas para cavalos novos. O animal tem hoje seis anos. Só resta agora torcer para que os genes tenham feito sua parte.

Mas não custa lembrar: Thiago Coimbra, filho de Zico, já jogou no Flamengo. Hoje atua no Portimonense, da segunda divisão do Campeonato Português.

* * *

De forma genial, nosso colunista Odisseu Kapyn nos chama a atenção para a importância dos animais nos sucessos hípicos, e não apenas nos fracassos. Compara as provas de adestramento a desfiles de moda e sugere a criação do tiro hípico. Pode que nosso colega tenha razão sobre a injustiça com os cavalos e já me comprometo: no dia em que um cavalo falar, serei o primeiro a entrevistá-lo sobre o assunto.

Juan Torres vive adiando sua volta aos gramados. Enquanto isso, colabora com publicações da Editora Abril. Foi repórter do Globoesporte.com e coordenou o serviço de notícias do Pan 2007 no Maracanãzinho.
Escreve sobre esportes hípicos às segundas-feiras.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente!!
Um paralelo genial. Digo isto porque se bem não conheço muito do histórico do Baloubet du Rouet, acompanhei de perto o sofrimento e a recuperação do Zico.
Muito bom! Parabéns!!