sábado, 22 de setembro de 2007

O drible da Foca e o gol de bunda

A Foca não olha pra frente e esbarra com o coelho (foto: anônimo)

Por Odisseu Kapyn

Na década de 80, foi lançado um disco infantil chamado Arca de Noé, com músicas de Vinícius de Moraes. Não precisa dizer que as letras eram bem mais inteligentes e instrutivas que essas coisas de “Ilari-lari-ê”, tão imbecil que serviu de coro para a torcida argentina. Umas das músicas da Arca de Noé se chamava A foca, entoada por Alceu Valença, que, em alguns momentos, parava a melodia para narrar a entrada em cena de uma rica e avarenta foca americana, uma chique foca francesa e uma pobre foca brasileira, que caía de fome no chão. Bons tempos em que uma música infantil falava da realidade brasileira. E usando focas.

Hoje em dia, nossas focas não caem mais no chão só de fome. Caem de levar porrada. Caramba, isso tem que ser cantado em música também. Não só em canções infantis, mas nas adultas. Alguém, por favor, convoque o Gabriel o Pensador para fazer um rap protestando contra a violência sofrida pelas focas brasileiras nos campos. Sim, é do Kerlon, do Cruzeiro, que estou falando, sabichão. Mas é que não vou chamá-lo de Kerlon, pois esse é um nome muito muito escroto.

Jogador de futebol que se preze tem que ter apelido – hoje em dia, os apelidos mais maneiros não estão mais no futebol, mas no mundo do tráfico, como já falei em um artigo do Cocadaboa. Então vamos parar com essa coisa de chamar o cara de Kerlon. O nome dele agora é Foca. Não temos um craque chamado Pato? E o babaca que baixou porrada no Foca quando levou o belo drible não é um tal de Coelho? Então.

Vamos ser sinceros: mais importante do que salvar as foquinhas no Ártico é salvar o Foca e seus futuros imitadores. Sim, pois essas focas de verdade que temos por aí, assassinadas por caçadores de peles, ainda têm chance de se perpetuarem através de sexo abundante. Mas as focas que serão caçadas nos nossos gramados não têm tantas chances de se reproduzirem, pois casar com uma Maria Chuteira não é garantia de geração de um filho com talento para o futebol. Temos que chamar o Greenpeace para essa luta. Até o nome do grupo tem a ver com a causa. Paz no verde do gramado.

Vejam bem, não é desrespeito dar o drible da foca. É humilhação. E não há nada melhor do que humilhar o adversário. É saudável. A torcida adora. E se é bom pra torcida, é bom pro futebol. Não é humilhação gritar “olé”? E alguém se mete a punir a torcida por isso, como se tivessem invadido o campo? Não. Então que venha o drible da foca. E cartão vermelho com suspensão de três jogos para quem derrubar a foca. Será só o começo. Em breve, os bons atacantes perderão a vergonha de fazer o ápice da humilhação no futebol: o gol de bunda.

Quem já fez um gol de bunda em alguma pelada jamais esquece. Esse lance magnífico tem que ser incorporado no futebol profissional. Imaginem o Maracanã lotado, aí vem o atacante, passa pelos zagueiros, dribla o goleiro que saiu da área para tentar interceptá-lo, chega à linha do gol sozinho, senta-se sobre a bola e empurra a pelota para dentro com suas nádegas. Sensacional. E aí, no fim do jogo, cercado de repórteres, ele dedica o gol à bandeirinha Ana Paula Oliveira, a mais bela bunda do futebol brasileiro.

Aproveitando que estamos falando em bunda, vamos agora falar de outra prática. Sim, voltemos à proposta inicial desta coluna, que é regulamentar o que é esporte de verdade, denunciando práticas erroneamente descritas como tal. Como avisei na semana passada, abordaremos agora o...

Nado Sincronizado

Não é preciso falar muito. Aqui, neste espaço, já expliquei por que a ginástica rítmica não é um esporte, e sim uma modalidade de dança. Os mesmos argumentos valem para o nado sincronizado, que também é dança, mas molhada. Dança molhada. É até bonito de se ver. Quando se vê. Isso porque só dá para vislumbrar tudo direito com câmeras debaixo d’água.

E é claro que não teria a mesma graça se fosse nado sincronizado de rapazes. Uma coisa é ver as gêmeas Isabela e Carolina de Moraes. A outra seria ver Renato Aragão e Marcelo Barreto (apresentador do Sportv) de maiô, desempenhando uma coreografia sincronizada. Taí outro motivo para dizer que o nado sincronizado não é esporte. Se você vê a mulher praticando, mas não veria um homem na mesma atividade, então não é esporte. É espetáculo visual.

Odisseu Kapyn se identifica com os mãe da foca. Ganhou fama no Cocadaboa. Hoje, escreve na Revista M e no blog Humor Marrom, e apresenta o Ponto Cômicos, grupo de comédia stand-up em cartaz no Saloon 79, no Rio. Faz suas gracinhas aos domingos (às vezes, antes).

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