O Brasil e a beleza de seu futebol mais uma vez em ação (foto: divulgação)
Por Odisseu Kapyn
Odisseu Kapyn acha que duplo twist carpado é sorvete de peixe. Ganhou fama no Cocadaboa. Hoje, escreve na Revista M e no blog Humor Marrom, e apresenta o Ponto Cômicos, grupo de comédia stand-up em cartaz no Rio. Faz suas gracinhas aos domingos (às vezes, atrasa).
Por Odisseu Kapyn
Deu gosto de ver o jogo da Seleção contra o time do Los Estados Unidos de la América, no amistoso de domingo. Faz bem para a auto-estima do brasileiro. Não por vermos como ainda somos superiores aos grandes americanos no futebol, mas para ver como aquele país de primeiro mundo consegue ser tão incompetente como o nosso em algumas coisas.
Pior que não ter um campo decente para jogar (qualquer dia vão adaptar uma quadra de basquete para receber um jogo de “soccer”) é a transmissão dos caras. Caramba, eles inventaram a televisão, são soberanos em coberturas esportivas e tal, mas deram um show de amadorismo nas imagens, perdendo o foco e chegando a fazer os mais loucos deslocamentos com a câmera, passando por cantos do “campo” em que nada acontecia.
Devem ter deixado a tarefa de manejar a câmera para algum imigrante ilegal que trabalha em outra função lá na emissora. “Ah, quem é que entende de soccer aqui na TV?”. “O Gonzalez gosta disso, deve saber quando é que tem que mostrar a bola...”. “Mas o Gonzales é o cozinheiro!. “E daí?”. E lá foi o Gonzales aprender a usar a câmera. Pelo menos o sujeito conseguiu uma boa cena, quando o Kaká foi entrevistado com um engraçadinho ao fundo na torcida ostentando um cartaz onde se lia “Kaká sucks”. Melhor do que um “Filma eu, Galvão!”. Aliás, só faltou o Galvão narrar a partida para o espetáculo bizarro ser completo.
Mas não é para falar de futebol que estou sendo pago pelo Por Esporte. Tenho que explicar aqui por que certas práticas não podem mais ser consideradas esporte. Vamos aproveitar o mundial que se encerrou neste domingo, em Stuttgart, na Alemanha, para falar sobre...
A GINÁSTICA
O nome não ajuda muito. A primeira coisa que se pensa quando se fala em ginástica é nas aulas de Educação Física, quando tínhamos que botar um uniforme ridículo na escola para fazer polichinelos e tantos outros exercícios que não nos levava a nada que não o cansaço. Para deixar a coisa ainda mais suspeita, a prática ainda tem dois sobrenomes. É nessa hora que é preciso separar as coisas. Diferenciar o Rockefeller do Silva.
No caso, o Rockefeller é a de sobrenome “artística”. Pois é, a nomenclatura não ajuda muito também. O conceito de arte não é algo que case bem com a definição de esporte, a não ser para se fazer comparações abstratas, como o nosso tal “futebol arte”. Mas resolveram chamar a coisa de “ginástica artística”. Erro de marketing. O nome deveria ser algo como “ginástica esportiva”, afinal é a única que realmente merece ser chamada de esporte, pois oferece desafios atléticos a seus praticantes, risco de contusão e superação de limites físicos, além de contar com torcidas que realmente têm um espetáculo diante de si para ser apreciado.
O ginasta é um ser com habilidades acima da média humana, não há como negar. Se pegarmos alguns heróis de histórias em quadrinhos, daqueles que não foram picados por aranhas ou são retirantes de algum planeta, veremos que eles são uma espécie de ginasta com conhecimentos de luta. Ensine alguns golpes e ponha um cinto de utilidades e uma fantasia de morcego no Diego Hypólito e teremos o Batman. Não sei quem seria o Robin, mas vamos parar por aqui antes de qualquer especulação.
Segundo um amigo meu, uma modalidade cujo vencedor é decidido após se somar pontos dados por juízes não pode ser chamada de esporte. Gosto dessa teoria, mas não posso desconsiderar a ginástica artística só por isso. Ainda mais se a compararmos com a ginástica que leva outro sobrenome. Sim, o Rockeffeler é a artística e o Silva é a rítmica. De onde tiraram que meninas dançando e dando piruetas é esporte? Ora, é claro que aquilo lá é muito bonito e pode e deve ser visto por um público.
É claro que as mocinhas fazem coisas que a média da população não faz. Mas também é assim com bailarinas. Sim, a ginástica rítmica não é um esporte. É dança. É balé. Elas fazem um esforço físico, sim. Mas as dançarinas de strip-tease também, e não só quando esticam a noite saindo da boate. Não é só porque certa dança exigiu da dançarina algo mais do que bailarinas clássicas fazem – como rodopiar num mastro num palco - que devemos chamar isso de esporte.
Olha, não me levem a mal. A ginástica rítmica foi uma das poucas coisas que consegui ter tempo de ver nos Jogos Pan-americanos Rio 2007. E gostaria de ver de novo. Fiquei impressionado com as meninas. Realmente as admirei. Mas não saí dali achando que tinha visto uma prova esportiva. Não quero que deixem de brincar de fita, de se enroscar em bambolês, de jogar pinos de boliche para cima (tem isso?) e tudo mais. Elas têm que continuar fazendo isso. Num teatro talvez. Ou no Cirque de Soleil. Só não devemos é continuar vendo seus números em Jogos Olímpicos e genéricos. Elas não são atletas. Mas dariam excelentes bailarinas. Ou amantes.
Pior que não ter um campo decente para jogar (qualquer dia vão adaptar uma quadra de basquete para receber um jogo de “soccer”) é a transmissão dos caras. Caramba, eles inventaram a televisão, são soberanos em coberturas esportivas e tal, mas deram um show de amadorismo nas imagens, perdendo o foco e chegando a fazer os mais loucos deslocamentos com a câmera, passando por cantos do “campo” em que nada acontecia.
Devem ter deixado a tarefa de manejar a câmera para algum imigrante ilegal que trabalha em outra função lá na emissora. “Ah, quem é que entende de soccer aqui na TV?”. “O Gonzalez gosta disso, deve saber quando é que tem que mostrar a bola...”. “Mas o Gonzales é o cozinheiro!. “E daí?”. E lá foi o Gonzales aprender a usar a câmera. Pelo menos o sujeito conseguiu uma boa cena, quando o Kaká foi entrevistado com um engraçadinho ao fundo na torcida ostentando um cartaz onde se lia “Kaká sucks”. Melhor do que um “Filma eu, Galvão!”. Aliás, só faltou o Galvão narrar a partida para o espetáculo bizarro ser completo.
Mas não é para falar de futebol que estou sendo pago pelo Por Esporte. Tenho que explicar aqui por que certas práticas não podem mais ser consideradas esporte. Vamos aproveitar o mundial que se encerrou neste domingo, em Stuttgart, na Alemanha, para falar sobre...
O nome não ajuda muito. A primeira coisa que se pensa quando se fala em ginástica é nas aulas de Educação Física, quando tínhamos que botar um uniforme ridículo na escola para fazer polichinelos e tantos outros exercícios que não nos levava a nada que não o cansaço. Para deixar a coisa ainda mais suspeita, a prática ainda tem dois sobrenomes. É nessa hora que é preciso separar as coisas. Diferenciar o Rockefeller do Silva.
No caso, o Rockefeller é a de sobrenome “artística”. Pois é, a nomenclatura não ajuda muito também. O conceito de arte não é algo que case bem com a definição de esporte, a não ser para se fazer comparações abstratas, como o nosso tal “futebol arte”. Mas resolveram chamar a coisa de “ginástica artística”. Erro de marketing. O nome deveria ser algo como “ginástica esportiva”, afinal é a única que realmente merece ser chamada de esporte, pois oferece desafios atléticos a seus praticantes, risco de contusão e superação de limites físicos, além de contar com torcidas que realmente têm um espetáculo diante de si para ser apreciado.
O ginasta é um ser com habilidades acima da média humana, não há como negar. Se pegarmos alguns heróis de histórias em quadrinhos, daqueles que não foram picados por aranhas ou são retirantes de algum planeta, veremos que eles são uma espécie de ginasta com conhecimentos de luta. Ensine alguns golpes e ponha um cinto de utilidades e uma fantasia de morcego no Diego Hypólito e teremos o Batman. Não sei quem seria o Robin, mas vamos parar por aqui antes de qualquer especulação.
Segundo um amigo meu, uma modalidade cujo vencedor é decidido após se somar pontos dados por juízes não pode ser chamada de esporte. Gosto dessa teoria, mas não posso desconsiderar a ginástica artística só por isso. Ainda mais se a compararmos com a ginástica que leva outro sobrenome. Sim, o Rockeffeler é a artística e o Silva é a rítmica. De onde tiraram que meninas dançando e dando piruetas é esporte? Ora, é claro que aquilo lá é muito bonito e pode e deve ser visto por um público.
É claro que as mocinhas fazem coisas que a média da população não faz. Mas também é assim com bailarinas. Sim, a ginástica rítmica não é um esporte. É dança. É balé. Elas fazem um esforço físico, sim. Mas as dançarinas de strip-tease também, e não só quando esticam a noite saindo da boate. Não é só porque certa dança exigiu da dançarina algo mais do que bailarinas clássicas fazem – como rodopiar num mastro num palco - que devemos chamar isso de esporte.
Olha, não me levem a mal. A ginástica rítmica foi uma das poucas coisas que consegui ter tempo de ver nos Jogos Pan-americanos Rio 2007. E gostaria de ver de novo. Fiquei impressionado com as meninas. Realmente as admirei. Mas não saí dali achando que tinha visto uma prova esportiva. Não quero que deixem de brincar de fita, de se enroscar em bambolês, de jogar pinos de boliche para cima (tem isso?) e tudo mais. Elas têm que continuar fazendo isso. Num teatro talvez. Ou no Cirque de Soleil. Só não devemos é continuar vendo seus números em Jogos Olímpicos e genéricos. Elas não são atletas. Mas dariam excelentes bailarinas. Ou amantes.
Odisseu Kapyn acha que duplo twist carpado é sorvete de peixe. Ganhou fama no Cocadaboa. Hoje, escreve na Revista M e no blog Humor Marrom, e apresenta o Ponto Cômicos, grupo de comédia stand-up em cartaz no Rio. Faz suas gracinhas aos domingos (às vezes, atrasa).
Um comentário:
Concordo 100% com o que você falou da ginástica. É bonito, é legal de ver mas definitivamente não é esporte. Assim como o Nado Sincronizado e os Saltos Ornamentais. E outra prova que tudo isso não é esporte é que as mulheres sempre querem assistir todos esses na época das olimpiadas e desde quando mulher gosta de esporte??
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