Existem três coisas que os homens podem fazer com as mulheres: amá-las, sofrer por elas ou torná-las literatura. Escolho as três.
Por Pedro Ribeiro
Uma bola, um átomo primordial. Big Bang! Uma explosão na aristocracia inglesa. Ares quentes, densos. De paixão. O encantamento inexplicavelmente se expande. Para os sonhadores da bola, surge um admirável mundo novo. Futebol: mundo para todos.
Na vitória por 4 a 0 sobre os EUA, quando vi Marta riscando o vento e seu desafio rebelde à gravidade. O toque, o retoque. E os gols. Pensei: o futebol é de todos, sim. Mas o esporte, em forma de arte, obra-prima imperfeita do homem, revela-se, ironicamente, um encantador universo feminino. Para nós, brasileiros, finalistas da Copa do Mundo, um sagrado universo feminino.
A velocidade do jogo não é a mesma. Tampouco a agressividade. O futebol das mulheres, talvez, surpreenda exatamente pelo que não tem. Ver as meninas em campo torna-se uma prazerosa volta ao passado. Tempos em que futebol e ludismo, liderados pelos pés dos craques, andavam de mãos dadas.
No esporte que ainda aprimora a técnica, a brasileira Marta é uma exceção. Eleita melhor do planeta pela FIFA em 2006, a menina de Alagoas é, agora, a artilheira do mundo com sete gols. Após os dois marcados na semifinal, ela dedicou a vitória à mãe: “Eu te amo, Tereza. Eu te amo”.
Apaixonados estamos nós.
Quando pensamos nas dificuldades enfrentadas para praticar o futebol feminino no país, o orgulho se multiplica. Sem apoio, patrocínio ou mesmo uma liga nacional.
Aline, capitã da seleção, por exemplo, recebe uma ajuda de custo no valor de R$250 da prefeitura de Salto para defender o clube da cidade. Tentando a sorte, as brasileiras precisam buscar na Europa a dignidade negada aqui.
Os problemas nos gramados refletem a luta feminina ao longo dos tempos no país. Reivindicações por direitos igualitários na política, na educação e no trabalho.
Nos últimos dez anos, o número de mulheres chefes de família cresceu 79%, passando para 18,5 milhões em 2006. Aumenta também o índice de mulheres matriculadas nas universidades, superior ao de homens na maioria das capitais.
Ao mesmo tempo, dispara o percentual de mães adolescentes. De 6,9% em 1996 para 7,9% em 2006.
Progressos e novos problemas. Uma contradição explicada. Um país culturalmente patriarcal, mas que, gradativamente, se entrega à democrática guerra dos sexos.
O sucesso no Pan-Americano e nesta Copa do Mundo pode ter o mesmo efeito reivindicatório no esporte. Espelho da sociedade brasileira, o futebol, feminino também, representa um pouco de angústias e sonhos.
Neste Mundial Feminino, vejo diferentes tipos de marmanjos torcendo por nossas meninas. Gostamos de vencer e, por esta razão, torcemos pela seleção feminina. É verdade. Mas é igualmente verdadeira a alegria espontânea de todos com o time que busca o título inédito na China.
Os craques brasileiros idolatram Marta e companhia. Treinadores idem. A torcida nem se fala. Dunga sugeriu uma estrela rosa na camisa da Seleção caso o título se concretize.
Muita coisa mudou. Viva!
Na vitória por 4 a 0 sobre os EUA, quando vi Marta riscando o vento e seu desafio rebelde à gravidade. O toque, o retoque. E os gols. Pensei: o futebol é de todos, sim. Mas o esporte, em forma de arte, obra-prima imperfeita do homem, revela-se, ironicamente, um encantador universo feminino. Para nós, brasileiros, finalistas da Copa do Mundo, um sagrado universo feminino.
A velocidade do jogo não é a mesma. Tampouco a agressividade. O futebol das mulheres, talvez, surpreenda exatamente pelo que não tem. Ver as meninas em campo torna-se uma prazerosa volta ao passado. Tempos em que futebol e ludismo, liderados pelos pés dos craques, andavam de mãos dadas.
No esporte que ainda aprimora a técnica, a brasileira Marta é uma exceção. Eleita melhor do planeta pela FIFA em 2006, a menina de Alagoas é, agora, a artilheira do mundo com sete gols. Após os dois marcados na semifinal, ela dedicou a vitória à mãe: “Eu te amo, Tereza. Eu te amo”.
Apaixonados estamos nós.
Quando pensamos nas dificuldades enfrentadas para praticar o futebol feminino no país, o orgulho se multiplica. Sem apoio, patrocínio ou mesmo uma liga nacional.
Aline, capitã da seleção, por exemplo, recebe uma ajuda de custo no valor de R$250 da prefeitura de Salto para defender o clube da cidade. Tentando a sorte, as brasileiras precisam buscar na Europa a dignidade negada aqui.
Os problemas nos gramados refletem a luta feminina ao longo dos tempos no país. Reivindicações por direitos igualitários na política, na educação e no trabalho.
Nos últimos dez anos, o número de mulheres chefes de família cresceu 79%, passando para 18,5 milhões em 2006. Aumenta também o índice de mulheres matriculadas nas universidades, superior ao de homens na maioria das capitais.
Ao mesmo tempo, dispara o percentual de mães adolescentes. De 6,9% em 1996 para 7,9% em 2006.
Progressos e novos problemas. Uma contradição explicada. Um país culturalmente patriarcal, mas que, gradativamente, se entrega à democrática guerra dos sexos.
O sucesso no Pan-Americano e nesta Copa do Mundo pode ter o mesmo efeito reivindicatório no esporte. Espelho da sociedade brasileira, o futebol, feminino também, representa um pouco de angústias e sonhos.
Neste Mundial Feminino, vejo diferentes tipos de marmanjos torcendo por nossas meninas. Gostamos de vencer e, por esta razão, torcemos pela seleção feminina. É verdade. Mas é igualmente verdadeira a alegria espontânea de todos com o time que busca o título inédito na China.
Os craques brasileiros idolatram Marta e companhia. Treinadores idem. A torcida nem se fala. Dunga sugeriu uma estrela rosa na camisa da Seleção caso o título se concretize.
Muita coisa mudou. Viva!
Na decisão contra a Alemanha, domingo, tudo pode acontecer. Que tudo aconteça do jeito de sempre: com belas jogadas. E no fim, aquele nosso sorriso de quem aplaude de pé a alegria, o sagrado feminino brasileiro.
Pedro Ribeiro não dispensa uma cervejinha e um bom papo com os amigos, em qualquer dia e horário. Lê de Drummond a Paulo Coelho. Nas folgas, trabalha como coordenador de eventos no SPORTV. Escreve sobre Esporte e Cultura aos sábados.
2 comentários:
esplendoROSA crônica, companheiro.
o trocadilho não foi forçado, foi oportuno mesmo.
abs
Bora tomar chopp hj então, seu puto. Já que não dispensa uma cervejinha em qualquer dia e horário. 20h Devassa do Flamengo.
A propósito, foda a crônica, como sempre.
Abraceta do russo.
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