terça-feira, 25 de setembro de 2007

Tecla mute, por favor

Rússia, de Kirilenko, vence o Europeu com técnico americano (foto: fiba.com)

Por Vitor Sérgio Rodrigues

E o Grego falou! Depois de um silêncio ensurdecedor após a péssima quarta posição no Pré-Olímpico de Las Vegas, o presidente da Confederação Brasileira de Basquete abriu a boca em entrevista ao competente colega Cláudio Nogueira, do jornal O Globo, na última quarta-feira. Reli o texto cinco vezes e confesso que preferia que ele tivesse permanecido calado.

A forte possibilidade de termos um técnico estrangeiro, possivelmente um espanhol, foi o único trecho digno de nota em todo o discurso do dirigente. No mais, só mentira e exemplos da passividade que é marca da administração Grego, que turbinou o processo de destruição do basquete nacional.

A primeira declaração preocupante é que ele não viu nada de novo no basquete jogado no Campeonato Europeu (Grego foi o único brasileiro que esteve na Espanha para acompanhar a competição, que tem o nível técnico mais alto do mundo, até mais do que Mundial e Olimpíada, pois não há babas).

Essa eu não digo que é mentira, pois ele tem razão. O basquete na Europa não tem nada de novo. Vem sendo jogado com valorização da posse de bola, pressão defensiva e com rigorosa seleção de arremessos há, pelo menos, dois ciclos olímpicos. Pena que o Brasil ainda não descobriu isso, e insiste em jogar no contra-ataque, rezando para todo dia ser “o dia que a mão está boa”.

Logo depois, aí sim, Grego mentiu. Mentiu (para não dizer que usou de má fé com quem não acompanha o cotidiano do basquete) ao dizer que ficar fora das Olimpíadas não é o fim do mundo, pois França (de Tony Parker) e a Itália (vice-campeã olímpica), entre outros países, não têm chance de ir a Pequim.

Isso é mentira, pois ele quer comparar o Pré-Olímpico das Américas (na prática, uma vaga para Brasil e os reservas da Argentina disputarem) com o Pré-Olímpico Europeu (seis vagas para dezesseis seleções fortíssimas, das quais o Brasil perderia sistematicamente para 13 delas, tirando Polônia, Portugal e República Tcheca).

Para fechar a lamentável entrevista, Grego me alarmou ainda mais ao dizer que vai definir a questão do novo treinador em dezembro. É uma decisão digna de um administrador competente: jogar quatro meses no lixo. Quatro meses que poderiam fazer a diferença na reconstrução de nosso time masculino.

Se a definição do novo técnico acontecesse logo, ele teria um ano para montar um time, dentro dos conceitos aceitáveis no basquete atual, para o Pré-Olímpico Mundial. Mas não, fica para dezembro. Pensando bem, fica para o depois do Reveillon. Na verdade, o ano no Brasil começa apenas depois do Carnaval...

***

Quer exemplo de que um ano é suficiente para mudar a cara do nosso basquete? Então segura: a Rússia, que muitos consideravam morta para o basquete, ganhou o Europeu, batendo na final a Espanha, campeã do mundo, dentro de Madri. O técnico do time russo é o americano (!!!) David Blatt, que assumiu há menos de um ano. A média de pontos cedidos pelos russos no torneio foi de apenas 65,7 pontos por jogo.

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Com nosso presidente reformulando o time masculino a passos de mamute, não temo ser pessimista e afirmar que não teremos chance no Pré-Olímpico Mundial, esmiuçado de forma excelente pelo amigo Marcelo Monteiro neste espaço na semana passada.

Fazendo um exercício rápido, comparando com o basquete apresentando por nosso time em Las Vegas, perderemos de muito para Grécia, Croácia e Eslovênia (que, no Europeu, segurou a Alemanha, com Nowitzki, a míseros 47 pontos). Contra a Alemanha, faremos um tiroteio insano de arremessos e podemos até vencer. Como de costume, vamos entregar um joguinho para Porto Rico. Se Nash jogar pelo Canadá, mais um ferro. Rezo para estar errado, mas Feliz 2012 para nossa seleção masculina.

Vitor Sérgio Rodrigues espera não estar falando grego. Trabalhou no Jornal dos Sports, Diário Lance, por onde cobriu as Olimpíadas de Atenas, e Globoesporte.com. Hoje, é comentarista da TV Esporte Interativo. Escreve para o Por Esporte às terças-feiras.

3 comentários:

Anônimo disse...

Amigo Vitor, parabéns pelo texto. o Grego é o maior brincalhão de todos os tempos. Ari Toledo perde. Do jeito que as coisas vão, só teremos técnico a duas semanas do Pré-Mundial. Aí, companheiro, não há Phil Jackson ou Gregg Popovich que segure a batata. Lula é péssimo, mas é o menos culpado, ao meu ver. abs, parabéns pelo espaço, Fábio Balassiano

Anônimo disse...

Fala Fábio Bala:

É amigo,realmente é triste nossa situação.

Eu só achei que você ia cornetar o texto, dizendo que nós perderíamos sistematicamente também para Polônia e República Tcheca...

Abraço e obrigado.

Anônimo disse...

Vitor, eu sinceramente acho que podemos perder para a República Tcheca, mas não para a Polônia. Agora, uma coisa é certa: nós somos a seleção com menor padrão tático do mundo. Isso é evidente. Até o Líbano, Japão e Gambia possuem mais padrão tático que nós. Viva Grego! abs, fábio balassiano