Marco Aurélio Ribeiro: 28 anos de cobertura de turfe (foto: arquivo pessoal)
A saída é veicular na mídia que o turfe tem emoções que só ele pode causar. Mostrar a beleza de uma corrida de cavalos. O jogo é conseqüência e ajuda a manter os hipódromos funcionando. O Jorge Ricardo, que foi ídolo por aqui por quase 30 anos, é o maior ganhador do turfe mundial. Hoje, ele tem mais de 9.580 vitórias. É tão ídolo quanto Senna, Pelé, Guga e ninguém dá bola. Mas para isso é preciso investir e o Jockey Clube Brasileiro não faz isso há décadas.
Por Juan Torres
Qual foi a última notícia que você leu nos jornais sobre turfe? Provavelmente, não lembra. O esporte, que já foi um dos principais do país, perdeu visibilidade, já não atrai tantos fãs e os jockeys têm andado bem vazios. Já conversamos neste espaço, inclusive, que até o evento mais prestigiado, o GP Brasil, não tem mais tanto glamour assim.
Mas se, por acaso, você lembra de ter visto algo sobre turfe no jornal, há uma grande possibilidade que tenha sido escrito por Marco Aurélio Ribeiro. O jornalista, de 52 anos, há 28 trabalhando no jornal O Globo, entre idas e vindas, é um dos poucos profissionais especializados no esporte atuando na imprensa tupiniquim.
Apaixonado pelo turfe a ponto de já ter largado a máquina de escrever para treinar cavalos, ele lamenta que a mídia já não dedique tanto espaço aos cavalos. Em entrevista por e-mail ao Por Esporte, ele aponta algumas possíveis causas para o problema e conta um pouco sobre sua trajetória.
Como surgiu o gosto pelo esporte?
Eu comecei a freqüentar o Jockey aos 15 anos, levado por um amigo de meu pai. Foi amor à primeira vista. Jornalismo não passava pela minha cabeça, tanto que aos 17 fiz vestibular para Engenharia e passei. Mas minha paixão pelo turfe ia além de assistir às provas (o jogo nunca me seduziu) e queria aprender sobre treinamento. Comprei uma égua e comecei a treiná-la. Daí a supervisionar vários cavalos foi um passo. Em 1981, fui convidado por um amigo paulista para ser treinador em São Paulo. Não pensei duas vezes. Só voltei dois anos depois e continuei treinando aqui no Rio.
E onde entra o jornalismo nessa história?
Quando eu tinha 18 anos, um cronometrista amigo meu tinha um filho trabalhando no turfe do Globo, mas ia largar. Então, ele me perguntou se gostaria de ficar no lugar dele. Fui até lá e conversei com o editor de turfe, o saudoso Paschoal Leão Davidovich que após me fazer algumas perguntas, decidiu me contratar. Lá conheci jornalistas da estirpe de Milton Coelho da Graça, Nilson Damasceno e Otávio Name, que me ensinaram tudo sobre como escrever. Acabei me apaixonando pelo jornalismo e fiz novo vestibular. Quando fui para São Paulo para ser treinador, deixei o Globo. Em 84, quando já estava de volta ao Rio, foi lançado o Jornal O Povo e me convidaram para ser editor de turfe. Larguei o treinamento. Em 86, recebi convite do Jornal do Brasil e fiquei por lá uma gestação eqüina, 11 meses, quando o mesmo Paschoal disse que meu lugar era no Globo, onde estou até hoje. Neste meio tempo, também fui locutor, por uns cinco anos, no Rio e fui o primeiro a narrar corridas em FM, na Rádio Imprensa.
Como você analisa a cobertura do turfe hoje na imprensa brasileira?
Durante anos, principalmente nas décadas de 70 e 80, pelo menos cinco grandes jornais tinham equipes de turfe: Globo, Jornal do Brasil, O Dia, Jornal dos Sports e Última Hora. O espaço era grande. Naquele tempo, muitos esportes que, hoje, têm grande visibilidade da mídia, praticamente não ocupavam espaço, como vôlei, basquete, futsal, esportes de praia e radicais. Daí, o turfe merecer tanta atenção. Com o pouco investimento do Jockey e o crescimento destes esportes, o turfe foi caindo, até se transformar no que é hoje. O Globo dá alguma coisa e o Jornal dos Sports também. Os demais jornais simplesmente abandonaram o turfe.
Como é esse dilema de Tostines? O turfe perdeu importância porque a mídia não dá mais visibilidade ou ao contrário?
É mais por culpa dos dirigentes. A falta da mídia também complicou a coisa. O grande problema é que não há renovação. Os turfistas de hoje são os mesmos de 40 anos atrás. O turfe tem uma imagem ruim, pois a associação ao jogo estigmatizou as corridas de cavalos como um vício terrível. Na Argentina, o turfe é o maior esporte depois do futebol. O nosso maior jóquei, Jorge Ricardo, se mandou para lá há um ano. Turfe é um esporte em qualquer lugar do mundo e é tratado com respeito. Aqui, é jogo de azar. Essa imagem precisa ser mudada. Os leigos sempre conhecem alguma história sobre alguém que perdeu tudo o que tinha "nas patas dos cavalos". O turfe é lindo. A emoção de ganhar um páreo é única. Uma vez entrevistei o Chico Anysio, que tem cavalos há décadas e ele disse isso. Ele falou "É como dor no rim, uma coisa única".
No jornal, hoje, você cobre exclusivamente turfe?
Meu dia-a-dia no jornal é, hoje em dia, mais tranqüilo. Pouco faço de turfe e ajudo, como redator, em matérias sobre esporte em geral. Dei muito sangue lá, virando madrugadas, agora pareço mais político brasileiro... Por vezes faço matérias especiais, como em janeiro deste ano, que durante uma semana tive página inteira para que o leitor, via Globo Online, elegesse o melhor cavalo de todos os tempos. Estava tudo na cabeça.
Existe uma saída para o problema?
Mas se, por acaso, você lembra de ter visto algo sobre turfe no jornal, há uma grande possibilidade que tenha sido escrito por Marco Aurélio Ribeiro. O jornalista, de 52 anos, há 28 trabalhando no jornal O Globo, entre idas e vindas, é um dos poucos profissionais especializados no esporte atuando na imprensa tupiniquim.
Apaixonado pelo turfe a ponto de já ter largado a máquina de escrever para treinar cavalos, ele lamenta que a mídia já não dedique tanto espaço aos cavalos. Em entrevista por e-mail ao Por Esporte, ele aponta algumas possíveis causas para o problema e conta um pouco sobre sua trajetória.
Como surgiu o gosto pelo esporte?
Eu comecei a freqüentar o Jockey aos 15 anos, levado por um amigo de meu pai. Foi amor à primeira vista. Jornalismo não passava pela minha cabeça, tanto que aos 17 fiz vestibular para Engenharia e passei. Mas minha paixão pelo turfe ia além de assistir às provas (o jogo nunca me seduziu) e queria aprender sobre treinamento. Comprei uma égua e comecei a treiná-la. Daí a supervisionar vários cavalos foi um passo. Em 1981, fui convidado por um amigo paulista para ser treinador em São Paulo. Não pensei duas vezes. Só voltei dois anos depois e continuei treinando aqui no Rio.
E onde entra o jornalismo nessa história?
Quando eu tinha 18 anos, um cronometrista amigo meu tinha um filho trabalhando no turfe do Globo, mas ia largar. Então, ele me perguntou se gostaria de ficar no lugar dele. Fui até lá e conversei com o editor de turfe, o saudoso Paschoal Leão Davidovich que após me fazer algumas perguntas, decidiu me contratar. Lá conheci jornalistas da estirpe de Milton Coelho da Graça, Nilson Damasceno e Otávio Name, que me ensinaram tudo sobre como escrever. Acabei me apaixonando pelo jornalismo e fiz novo vestibular. Quando fui para São Paulo para ser treinador, deixei o Globo. Em 84, quando já estava de volta ao Rio, foi lançado o Jornal O Povo e me convidaram para ser editor de turfe. Larguei o treinamento. Em 86, recebi convite do Jornal do Brasil e fiquei por lá uma gestação eqüina, 11 meses, quando o mesmo Paschoal disse que meu lugar era no Globo, onde estou até hoje. Neste meio tempo, também fui locutor, por uns cinco anos, no Rio e fui o primeiro a narrar corridas em FM, na Rádio Imprensa.
Como você analisa a cobertura do turfe hoje na imprensa brasileira?
Durante anos, principalmente nas décadas de 70 e 80, pelo menos cinco grandes jornais tinham equipes de turfe: Globo, Jornal do Brasil, O Dia, Jornal dos Sports e Última Hora. O espaço era grande. Naquele tempo, muitos esportes que, hoje, têm grande visibilidade da mídia, praticamente não ocupavam espaço, como vôlei, basquete, futsal, esportes de praia e radicais. Daí, o turfe merecer tanta atenção. Com o pouco investimento do Jockey e o crescimento destes esportes, o turfe foi caindo, até se transformar no que é hoje. O Globo dá alguma coisa e o Jornal dos Sports também. Os demais jornais simplesmente abandonaram o turfe.
Como é esse dilema de Tostines? O turfe perdeu importância porque a mídia não dá mais visibilidade ou ao contrário?
É mais por culpa dos dirigentes. A falta da mídia também complicou a coisa. O grande problema é que não há renovação. Os turfistas de hoje são os mesmos de 40 anos atrás. O turfe tem uma imagem ruim, pois a associação ao jogo estigmatizou as corridas de cavalos como um vício terrível. Na Argentina, o turfe é o maior esporte depois do futebol. O nosso maior jóquei, Jorge Ricardo, se mandou para lá há um ano. Turfe é um esporte em qualquer lugar do mundo e é tratado com respeito. Aqui, é jogo de azar. Essa imagem precisa ser mudada. Os leigos sempre conhecem alguma história sobre alguém que perdeu tudo o que tinha "nas patas dos cavalos". O turfe é lindo. A emoção de ganhar um páreo é única. Uma vez entrevistei o Chico Anysio, que tem cavalos há décadas e ele disse isso. Ele falou "É como dor no rim, uma coisa única".
No jornal, hoje, você cobre exclusivamente turfe?
Meu dia-a-dia no jornal é, hoje em dia, mais tranqüilo. Pouco faço de turfe e ajudo, como redator, em matérias sobre esporte em geral. Dei muito sangue lá, virando madrugadas, agora pareço mais político brasileiro... Por vezes faço matérias especiais, como em janeiro deste ano, que durante uma semana tive página inteira para que o leitor, via Globo Online, elegesse o melhor cavalo de todos os tempos. Estava tudo na cabeça.
Existe uma saída para o problema?
A saída é veicular na mídia que o turfe tem emoções que só ele pode causar. Mostrar a beleza de uma corrida de cavalos. O jogo é conseqüência e ajuda a manter os hipódromos funcionando. O Jorge Ricardo, que foi ídolo por aqui por quase 30 anos, é o maior ganhador do turfe mundial. Hoje, ele tem mais de 9.580 vitórias. É tão ídolo quanto Senna, Pelé, Guga e ninguém dá bola. Mas para isso é preciso investir e o Jockey Clube Brasileiro não faz isso há décadas.
Juan Torres tem tamanho de jóquei e peso de cavalo. Colabora com publicações da Editora Abril. Foi repórter do Globoesporte.com e coordenou o serviço de notícias do Pan 2007 no Maracanãzinho. Escreve sobre esportes hípicos às segundas-feiras.
3 comentários:
Sempre vi o turfe como algo muito aristocrático, talvez por isso não ache muita graça nas corridas. Também tenho a impressão de que ele sempre foi mais carioca do que brasileiro. Sou pernambucano e moro em Brasília. Pode ter a ver. Bom blog!
Abraço,
Rodolfo
Habla, Juan! Camarada, meu avô, Rubens Carrapito, mais de mil vitórias no turfe e campeão do GP Brasil com o cavalo Quinze Quilates, de seu falecido amigo Seu Vicente, hoje amarg o ostracismo euma "aposentadoria" forçada por conta de sua idade e do pensamento orgulhoso e, ao mesmo tempo, idiota de proprietários. Louvável esse texto, hermano. Se perguntar quem é Rubens Carrapito para Marco Aurélio Ribeiro ele certamente te dirá. E, se por ventura quiser bater um papo com o velho e lúcio Rubens Carrapito, te dirá muitas e boas histórias do Turfe. Um abraço.
http://www.raialeve.com.br/conteudo/index.php?cod_cont=814&&cod_secao=5&&mes=12&&ano=2005
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