Tiago Camilo, eleito o melhor judoca do Mundial (foto: André Durão)
Vitor Sérgio Rodrigues entende o conceito de estratégia. Em francês, stratégie. Trabalhou no Jornal dos Sports, Diário Lance, por onde cobriu as Olimpíadas de Atenas, e Globoesporte.com. Hoje, é comentarista da TV Esporte Interativo. Escreve para o Por Esporte às terças-feiras.
Por Vitor Sérgio Rodrigues
Ele estava no chão, mas não era um derrotado. Isso ficou claro ao olhar o sorriso aberto e o dedo indicador apontando para o técnico à beira do tatame, e para a mãe na arquibancada. Naquele momento, com o francês Anthony Rodriguez ainda estatelado no campo de batalha, Tiago Camilo consolidava, com um título mundial, uma carreira vitoriosa desde seu nascimento.
Em menos de dois meses, foram nove ippons em dez combates, que redundaram em um título pan-americano e um mundial. Para coroar, Tiago Camilo pode dizer que é o melhor judoca do mundo, após ser premiado com o Troféu Ippon, como o melhor do Campeonato Mundial. Provas irrefutáveis de que hoje ele é um atleta pronto para brilhar em qualquer tatame, do de treinos do Sogipa, em Porto Alegre, ao do ginásio de Pequim, nas Olimpíadas do ano que vem.
Quem vê Tiago Camilo lutar hoje enxerga toda a técnica que ele mostrou ao nos surpreender em uma manhã de 2000, quando, do nada, “apareceu” aos 18 anos na final olímpica da categoria leve. Mas é inegável atestar que também estamos diante de um judoca diferente: cerebral, compenetrado, decidido. Letal. Parece um veterano. Um vitorioso veterano de 25 anos.
E o catalisador dessa transformação vem de um momento muito doloroso, mas que foi vital para a atual fase: a ausência nos Jogos Olímpicos de 2004. Durante muito tempo, Tiago Camilo evitou falar sobre a polêmica seletiva contra Flávio Canto (com quem também não mantinha nenhum relação), que foi parar na Justiça e acabou adiando o sonho do ouro olímpico por mais quatro anos. Isso era a prova de que a ferida estava aberta.
Esse fato começou a mudar no fim de 2005. Sinal da maturidade do novo Tiago Camilo, que virou a página. Ele ficou mais forte mentalmente, encarou de frente o trauma e trabalhou. Hoje, uma pergunta sobre os Jogos de 2004 é tirada de letra, O relacionamento com Canto é bom (os dois não são amigos, mas até trocam informações sobre táticas de lutas, apesar de permanecerem como rivais). Quem sabe não é daí que veio a força e o poder de decisão que derrubou um a um todos os seus rivais?
***
Terminado o Mundial com os ouros de Tiago Camilo, João Derly e Luciano Corrêa (e por que não citar também o excelente bronze de João Gabriel Schlitter?), só espero que o Brasil (incluindo todos os setores: torcida, imprensa, dirigentes e patrocinadores) não comecem aquela pressão insuportável pelo ouro olímpico no ano que vem. Uma coisa não garante a outra. Vamos tratar de não atrapalhar os caras na preparação. Vale lembrar que isso aconteceu várias vezes na história recente do esporte brasileiro (sem, logicamente, dizer que isso foi a principal culpado pelos resultados): Adriana Behar e Shelda, Rodrigo Pessoa, Daiane dos Santos, entre outros.
***
Falando em Olimpíadas, só posso pensar que o autor da regra de classificação direta dos judocas para Pequim é um fanfarrão (na carona de Tropa de Elite). A regra básica para isso acontecer entre os homens era o judoca ganhar o Pan e ser medalhista no Mundial. Tiago Camilo ganhou as duas competições. Só que, por ter sido em categorias diferentes (até 90 kg no Pan e até 81 kg no Mundial), o melhor judoca do mundo vai ter que passar por toda a seletiva (onde poderá encarar Flávio Canto na categoria até 81 kg). Coisa de gênio.
Em menos de dois meses, foram nove ippons em dez combates, que redundaram em um título pan-americano e um mundial. Para coroar, Tiago Camilo pode dizer que é o melhor judoca do mundo, após ser premiado com o Troféu Ippon, como o melhor do Campeonato Mundial. Provas irrefutáveis de que hoje ele é um atleta pronto para brilhar em qualquer tatame, do de treinos do Sogipa, em Porto Alegre, ao do ginásio de Pequim, nas Olimpíadas do ano que vem.
Quem vê Tiago Camilo lutar hoje enxerga toda a técnica que ele mostrou ao nos surpreender em uma manhã de 2000, quando, do nada, “apareceu” aos 18 anos na final olímpica da categoria leve. Mas é inegável atestar que também estamos diante de um judoca diferente: cerebral, compenetrado, decidido. Letal. Parece um veterano. Um vitorioso veterano de 25 anos.
E o catalisador dessa transformação vem de um momento muito doloroso, mas que foi vital para a atual fase: a ausência nos Jogos Olímpicos de 2004. Durante muito tempo, Tiago Camilo evitou falar sobre a polêmica seletiva contra Flávio Canto (com quem também não mantinha nenhum relação), que foi parar na Justiça e acabou adiando o sonho do ouro olímpico por mais quatro anos. Isso era a prova de que a ferida estava aberta.
Esse fato começou a mudar no fim de 2005. Sinal da maturidade do novo Tiago Camilo, que virou a página. Ele ficou mais forte mentalmente, encarou de frente o trauma e trabalhou. Hoje, uma pergunta sobre os Jogos de 2004 é tirada de letra, O relacionamento com Canto é bom (os dois não são amigos, mas até trocam informações sobre táticas de lutas, apesar de permanecerem como rivais). Quem sabe não é daí que veio a força e o poder de decisão que derrubou um a um todos os seus rivais?
Terminado o Mundial com os ouros de Tiago Camilo, João Derly e Luciano Corrêa (e por que não citar também o excelente bronze de João Gabriel Schlitter?), só espero que o Brasil (incluindo todos os setores: torcida, imprensa, dirigentes e patrocinadores) não comecem aquela pressão insuportável pelo ouro olímpico no ano que vem. Uma coisa não garante a outra. Vamos tratar de não atrapalhar os caras na preparação. Vale lembrar que isso aconteceu várias vezes na história recente do esporte brasileiro (sem, logicamente, dizer que isso foi a principal culpado pelos resultados): Adriana Behar e Shelda, Rodrigo Pessoa, Daiane dos Santos, entre outros.
Falando em Olimpíadas, só posso pensar que o autor da regra de classificação direta dos judocas para Pequim é um fanfarrão (na carona de Tropa de Elite). A regra básica para isso acontecer entre os homens era o judoca ganhar o Pan e ser medalhista no Mundial. Tiago Camilo ganhou as duas competições. Só que, por ter sido em categorias diferentes (até 90 kg no Pan e até 81 kg no Mundial), o melhor judoca do mundo vai ter que passar por toda a seletiva (onde poderá encarar Flávio Canto na categoria até 81 kg). Coisa de gênio.
Vitor Sérgio Rodrigues entende o conceito de estratégia. Em francês, stratégie. Trabalhou no Jornal dos Sports, Diário Lance, por onde cobriu as Olimpíadas de Atenas, e Globoesporte.com. Hoje, é comentarista da TV Esporte Interativo. Escreve para o Por Esporte às terças-feiras.
3 comentários:
Discordo da sua analise sobre os critérios de classificação para as olimpiadas. O acordo foi feito antes do mundial e o Tiago Camilo havia concordado com os critérios e só agora que ele vem reclamar...
abraços,
Gibson
Fala Gibson.
Obrigado pela audiência e pelo comentário.
Acho que o Tiago está errado sim em reclamar depois de ter concordado com essas condições. Senão, fica igual aos dirigentes do futebol brasileiro que dizem que o regulamento do campeonato é injusto, depois de concordar com ele.
A minha opinião, no entanto, é que o critério é absurdo. A superioridade dele é clara. Até porque, ele foi para a categoria até 90 no Pan atendendo um pedido da própria Confederação.
Abraço.
Vitor Sergio
Vitor,
Em primeiro lugar fica claro que o Tiago não está reclamando de lutar com o Canto(seletiva), pois se for usado o critério de seleção da CBJ os dois não lutarão entre si.
Em segundo, sem tirar o mérito do Canto que no auge de sua carreira conquistou o bronze em Atenas, eles não estão no mesmo patamar, pois o Tiago além de campeão mundial juvenil, junior e senior, tem uma medalha de prata olimpica, estando agora chegando no melhor de sua forma como competidor. Tiago caminha para se tornar um dos maiores do judo mundial de todos os tempos.
Parabéns pelo blog,
Ricardo
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