quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Lei de Murphy

A maldição do Bode permanece em Chicago (foto: Billygoattavern.com)

Por Fernando Andrade

A teoria do engenheiro especial Edward A. Murphy, que diz que “se há duas ou mais formas de fazer alguma coisa e uma das formas resultar em catástrofe, então alguém a fará”, bem que poderia explicar o que acontece com os Cubs. Mas o Murphy que tira o sono da metade azul de Chicago nunca trabalhou na Força Aérea dos Estados Unidos. Na verdade, ele nem é humano.

Acredito que a superstição no beisebol seja até maior que em outros esportes. Talvez, só o torcedor do Botafogo seja tão supersticioso quanto os fãs do esporte mais popular dos Estados Unidos. E as “maldições” são as maiores responsáveis por isso. Em 2004, os Red Sox quebraram a do Bambino, que durou 86 anos; e, em 2005, foi a vez dos White Sox detonarem a maldição dos Black Sox e voltarem a conquistar um título. Mas e a do bode?

No dia 6 de outubro de 1945, William Sianis, proprietário de uma tradicional taverna na Michigan Avenue, decidiu levar seu amigo Murphy ao Wrigley Field para assistir ao quarto jogo da World Series, entre Chicago Cubs e Detroit Tigers. Como todos os outros espectadores, Sianis comprou os dois ingressos e eles se dirigiram ao estádio para ver a partida. Tudo, certamente, lhe parece tranqüilo e normal. O problema é que Murphy era o animal de estimação do comerciante, Murphy era um bode!

Torcedor fanático dos Cubs e freqüentador assíduo do Wrigley Field, “Billy Goat” (Billy Bode), como era conhecido, nunca viu nenhum tipo de sinal ou placa, dentro ou fora do estádio, dizendo que era proibida a entrada de animais. E, de fato, isso não foi problema, pois os dois conseguiram entrar e chegar aos seus lugares. Entretanto, durante o decorrer da partida, P. K. Wrigley, dono dos Cubs, ordenou a retirada dos dois, alegando que Murphy fedia.

Decepcionado com a atitude da diretoria do clube, Sianis deixou o estádio dizendo que nunca mais os Cubs conquistariam um título enquanto bodes não fossem autorizados a entrar no Wrigley Field. E, de fato, aquela decisão terminou com o campeonato indo para Detroit.

Na verdade, desde que Murphy foi retirado do estádio, os Cubs não conseguiram, sequer, chegar a uma decisão de WS. E, como em todas as outras “maldições”, coisas muito estranhas aconteceram para impedir isso, dando ainda mais veracidade à Lei de Murphy, o humano que trabalhava na Força Aérea dos Estados Unidos.


- 1969: Com uma formação que poderia ser considerada a maior dos Cubs em todos os tempos, a equipe de Chicago tinha nove jogos e meio de vantagem sobre o New York Mets, tornando improvável que o time não voltasse à World Series. E tudo ia muito bem com o time de Ron Santo, Ernie Banks, Fergie Jerkins e Billy Williams, até que, no dia 9 de setembro, um gato preto entrou no campo do Shea Stadium, em Nova Iorque, onde os Cubs enfrentavam os Mets. O felino deu algumas voltas em torno de Ron Santo, que se aquecia para rebater, e desapareceu nas arquibancadas. Resultado: Cubs eliminados e Mets campeões da World Series.

- 1984: Liderados pelo MVP Ryne Sandberg e pelo arremessador Rick Sutcliffe, vencedor do prêmio Cy Young, os Cubs conseguiram uma campanha impecável na temporada regular e abriram uma vantagem de 2 a 0 sobre o San Diego Padres, na decisão da Liga Nacional. Mais uma vez, tudo indicava que a maldição seria facilmente quebrada, mas os Padres conseguiram empatar a série. Entretanto, o pior ainda estava por vir: na sétima entrada do jogo 5, o time de San Diego tinha um rebatedor eliminado e Carmelo Martinez ocupando a segunda base, quando Tim Flannery rebateu em direção ao primeira-base Leon Durham. O que seria uma eliminação fácil, se tornou em tragédia, quando a bola rolou entre as pernas de Durham e Martinez aproveitou o erro para empatar a partida em 3 a 3. Ainda na sétima entrada, o San Diego Padres marcaria mais três corridas que fechariam o placar em 6 a 3.

- 1986: Todos os fãs de beisebol já ouviram falar em Bill Buckner, primeira-base do Boston Red Sox que, no jogo seis da World Series de 1986, falhou e deixou a bola passar entre suas pernas, possibilitando a reação do New York Mets e, posteriormente, a conquista do título pelo time de Nova Iorque. O que pouca gente, especialmente no Brasil, sabe é que Buckner, que antes jogara pelos Cubs, estava usando uma luva com o símbolo do clube de Chicago. A “batting glove”, luva usada para rebater ou sob a luva de defesa, foi dada a Bill Buckner durante seus tempos de Chicago Cubs e era uma espécie de amuleto da sorte do jogador. Que sorte, hein?

- 1998: No final de setembro, Chicago Cubs, New York Mets e San Francisco Giants travavam uma apertada disputa pela classificação no Wild Card, a repescagem da MLB. E, no dia 23 daquele mês, os Cubs iriam a Milwaukee entrentar os Brewers no extinto County Stadium. Na segunda metade da nona entrada, Chicago estava na frente no placar por 7 a 5 e já havia conseguido eliminar dois rebatedores do time da casa. Até que Murphy, aliás, Geoff Jenkins rebateu um “fly ball” de fácil eliminação em direção ao rightfield, para fechar o jogo, mas o outfielder Brant Brown deixou a bola cair e três corredores dos Brewers marcaram. Resultado final: vitória de Milwaukee por 8 a 7, para desespero do comentarista de rádio Ron Santo, o mesmo que foi rodeado por um gato preto na final da Liga Nacional de 1969.

- 2003: Steve Bartman, um jovem de 26 anos, morador de um subúrbio ao norte de Chicago, foi o último “bode”, o último “Murphy”, na história dos Cubs, pelo menos, até o momento. Durante o sexto jogo que decidira a Liga Nacional, além da classificação para disputar a WS com os Yankees, o Chicago Cubs vencia o Florida Marlins por 3 a 0 na oitava entrada, com um rebatedor do Marlins já eliminado, quando Luis Castillo rebateu uma bola alta que seria defendida por Moises Alou. Seria, se Bartman não esticasse a mão e interferisse na jogada, gerando um foul ball e mantendo Castillo vivo no jogo. Na seqüência, Luis Castillo ganhou um walk e, depois, os Marlins anotaram oito corridas, venceram o jogo e, na partida seguinte, conquistaram o título da Liga Nacional.

- 2007: E esse ano? Os Cubs estão liderando a Conferência Central da Liga Nacional, com uma pequena vantagem (um jogo e meio, até a última terça) sobre o Milwaukee Brewers. E, pela diferença de vitórias que os times das outras duas conferências e, pela vantagem que os times das conferências do Leste e do Oeste têm sobre Cubs e Brewers, ganhar a Central é a única hipótese que uma dessas equipes tem de passar aos playoffs. Será que 2007 vai ser o ano em que os Cubs, finalmente, se livrarão do bode? Ou será a lei de Murphy, seja lá de qual for, vai, uma vez mais, determinas como as coisas funcionam no Wrigley Field?

Fernando Andrade passou de fã a companheiro de transmissões de Ivan Zimmerman. Jornalista, trabalhou nas rádios Tupi, Nativa, Jovem Pan e Paradiso. É jogador, treinador e presidente da Federação Carioca de Beisebol e Softbol, e escreve sobre o esporte às quartas-feiras.

4 comentários:

Anônimo disse...

Murphy esta comigo (nao sei qual dos dois) e, apos escrever um comentario, a conexao caiu e nao foi postado. Persistente como os times de Beisebol retornei para postar. O que ninguem sabe eh que a maldicao do Bambino foi quebrada com a ajuda da minha boca de sapo, ne, Fernando? Gostaria de parabenizar pelas colunas, principalmente essa, interessantissima, nao so pra quem gosta do esporte, mas pra todos que se interessam por curiosidades! Parabenizo, ainda, a iniciativa de fazer um site tao interessante e que disponibiliza espaco aos leitores para fazer comentarios! Muito bom! Com certeza, serei leitora assidua!
Debora Reis

Unknown disse...

muito bom nando. sabia da maldição do bode, mas não d tantos detalhes.
mandando bem, continue nessas historinhas, pois são as melhores.
abc.

Pablo disse...

Pelo visto os Cubs vão ficar mais uns anos aí sem nada... Ou voltaram a permitir bodes no estádio deles?rs

Um abraço,

Anônimo disse...

Então... Muito bom Nando!
Gostei muito, memso naum entendendo quase nada! heheh... vc sabe neh? hehehe
Gosto muito da forma que escreve!
Relament, como vc disse: quem sabe lendo sua coluna comece a aprender um pouco mais de beisebol...
Té mais!