Por Pedro Ribeiro
No fim, a maioria dos homens percebe, surpresa, que as coisas que largou como sem graça ou sem interesse eram, justamente, a vida
Pesquisas de lá e de cá sobre Nelson Rodrigues me levam, saborosamente, a descobrir delícias jornalísticas. É revelado muito mais do que se possa imaginar: regras literárias passam longe do dramaturgo. Assim como as análises táticas se distanciam do cronista esportivo. Nelson gostava das personagens. E, por isso, suas histórias são tão cheias de vida; e, por isso, o futebol parece ter vida própria em seus textos.
Na década de 50, quando escrevia na Manchete Esportiva, Nelson Rodrigues recebeu uma recomendação de Adolpho Bloch. Sua seção de crônicas deveria ter uma denominação definitiva: “Meu personagem da semana”.
Entre nós: para Nelson a boa nova foi um prato cheio. De bons personagens, a vida é repleta. E o futebol, simulacro da vida em 90 minutos, torna-se um Shakespeare da sociedade moderna. Criador de personagens cheios de vida.
As personagens da semana na Manchete Esportiva foram muitos. Os craques nunca faltaram. Mas, definitivamente, os anônimos roubavam a cena. O perna-de-pau em dia de gênio. Ou mesmo a cusparada salvadora de Dida na bola num jogo entre o Flamengo e o Canto do Rio. Cuspe que, nas linhas de Nelson, se transformava no próprio Rigoletto.
O prelúdio ao mestre serve para pedir licença. Humildemente, também nomeio meu personagem da semana. Pensei em alguns: Dodô e a torcida do Botafogo, caso de amor eterno, mas repleto de ataques de raiva súbitos, bem ao estilo rodriguiano. Ou, que tal, a invencibilidade de Rogério Ceni, herói moderno de um campeonato que tenta se reinventar a cada ano.
Pensei e fiquei com Ferreirinha. Explico, meu amigos. Ferreirinha é um desses personagens anônimos, coadjuvantes que sem eles não se faz a obra-prima da vida.
Caminhava, apressado, pelo centro do Rio. Dia de folga. Vestimenta não menos folgada: calça jeans e camisa vinho do Arsenal da Inglaterra. Homenagem dos londrinos ao estádio Highburry.
No ponto de ônibus, Ferreirinha, cabelos brancos, baixa estatura, aponta para a camiseta: “joguei contra eles em 63”.
De imediato, achei que se tratava desses loucos urbanos. Mas não. Ou se era realmente louco, Ferreirinha era tão detalhista que poderia ensinar padre a rezar missa.
Falou-me de um jogo entre o Futebol Clube do Porto contra os ingleses. Amistoso disputado na capital londrina. Ferreirinha, segundo suas próprias palavras, não fez gol, mas foi o herói em campo.
Três dias depois, um amigo português, ao ouvir a história, me garantiu que Ferreirinha foi um dos maiores pontas que já passaram pelo Porto. Brasileiro de nascimento, transferiu-se para o clube português ainda jovem.
Na década de 50, quando escrevia na Manchete Esportiva, Nelson Rodrigues recebeu uma recomendação de Adolpho Bloch. Sua seção de crônicas deveria ter uma denominação definitiva: “Meu personagem da semana”.
Entre nós: para Nelson a boa nova foi um prato cheio. De bons personagens, a vida é repleta. E o futebol, simulacro da vida em 90 minutos, torna-se um Shakespeare da sociedade moderna. Criador de personagens cheios de vida.
As personagens da semana na Manchete Esportiva foram muitos. Os craques nunca faltaram. Mas, definitivamente, os anônimos roubavam a cena. O perna-de-pau em dia de gênio. Ou mesmo a cusparada salvadora de Dida na bola num jogo entre o Flamengo e o Canto do Rio. Cuspe que, nas linhas de Nelson, se transformava no próprio Rigoletto.
O prelúdio ao mestre serve para pedir licença. Humildemente, também nomeio meu personagem da semana. Pensei em alguns: Dodô e a torcida do Botafogo, caso de amor eterno, mas repleto de ataques de raiva súbitos, bem ao estilo rodriguiano. Ou, que tal, a invencibilidade de Rogério Ceni, herói moderno de um campeonato que tenta se reinventar a cada ano.
Pensei e fiquei com Ferreirinha. Explico, meu amigos. Ferreirinha é um desses personagens anônimos, coadjuvantes que sem eles não se faz a obra-prima da vida.
Caminhava, apressado, pelo centro do Rio. Dia de folga. Vestimenta não menos folgada: calça jeans e camisa vinho do Arsenal da Inglaterra. Homenagem dos londrinos ao estádio Highburry.
No ponto de ônibus, Ferreirinha, cabelos brancos, baixa estatura, aponta para a camiseta: “joguei contra eles em 63”.
De imediato, achei que se tratava desses loucos urbanos. Mas não. Ou se era realmente louco, Ferreirinha era tão detalhista que poderia ensinar padre a rezar missa.
Falou-me de um jogo entre o Futebol Clube do Porto contra os ingleses. Amistoso disputado na capital londrina. Ferreirinha, segundo suas próprias palavras, não fez gol, mas foi o herói em campo.
Três dias depois, um amigo português, ao ouvir a história, me garantiu que Ferreirinha foi um dos maiores pontas que já passaram pelo Porto. Brasileiro de nascimento, transferiu-se para o clube português ainda jovem.
Eu sorri. Talvez aliviado por saber ser verdadeira a história casual. Talvez, mais ainda encantado com a lenda que se propagava. Um riso de quem também acha que as grandes personagens são essas achadas nas esquinas. Um sorriso de quem imagina: o que teria escrito Nelson Rodrigues se tivesse esbarrado com Ferreirinha?
Pedro Ribeiro não dispensa uma cerveja e um bom papo com os amigos, em qualquer dia e horário. Lê de Drummond a Paulo Coelho. Nas folgas, trabalha como coordenador de eventos no SporTV. Escreve sobre Esporte e Cultura aos sábados.
6 comentários:
Gostei muito do texto! A coluna será sempre sobre futebol e literatura?
Abraços,
Mauro
Oi Mauro,
A idéia não é escrever apenas sobre futebol e literatura. Mas sobre esporte e cultura. Mostrar que tudo vai além dos campos, das piscinas, das pistas...
Toda semana a macarronada vai ter um tempero novo.
Abraços e obrigado pelo comentário!
Bart, meu querido, parabéns por essa nova empreitada. Sucesso! Quanto aos textos, sempre brilhantes, ehehehe.
Abraço meu camarada.
Fominha
Que Orgulho!
Ele não se cansa nunca...E é sempre brilhante!!!
Daqui a alguns anos vou poder dizer nas ruas, assim como o Ferreirinha, que atuei com o "Herói do Texto"...
Merda!!!
Pedroca, Pedroca... mt bom! O site, claro, pq os seus textos dispensam comentarios...
abs!
Fominha, Leo e Vitinho...
Vocês são amigos. E convido os amigos a acessarem sempre o site. Tem um monte de craques por aqui! Comentem, dêem sugestões. As colunas estão aí para isso: para conversarmos sobre o que somos apaixonados: esporte!
Abraços,
pedro
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